Mais uma aliada de Navalny foge da Rússia

A porta-voz do oposicionista estava em regime de “restrição de liberdades” por violar regras sanitárias. Número de activistas, políticos e jornalistas que abandona a Rússia tem subido nos últimos meses.

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Kira Yarmysh é porta-voz da Navalny e da sua organização política DR

Uma das últimas colaboradoras do activista político russo, Alexei Navalny, que ainda se encontrava no país fugiu da Rússia, onde estava a cumprir uma pena de “restrição de liberdades” por ter promovido manifestações.

Uma das fontes citadas pela agência Interfax diz que Kira Iarmish, porta-voz de Navalny e da sua organização, “saiu do território da Federação Russa”, enquanto uma outra refere que a activista foi para Helsínquia, capital da vizinha Finlândia. Estas informações ainda não foram confirmadas oficialmente.

Iarmish, de 31 anos, tinha sido condenada em Abril a 18 meses de uma pena de “restrição de liberdades”, que a impedia de mudar de morada permanente, sair de Moscovo ou da região da capital russa sem autorização policial, ou participar em eventos públicos, explica a Rádio Europa Livre. Em causa estava a acusação de ter promovido em Janeiro manifestações de apoio a Navalny, violando as regras sanitárias de controlo da pandemia de covid-19 que estavam em vigor na altura.

Navalny tornou-se um símbolo da repressão política na Rússia, especialmente depois de no ano passado ter sobrevivido a uma tentativa de assassínio que muitos observadores atribuem aos serviços secretos russos. Depois de passar vários meses em recuperação numa clínica alemã, o político regressou a Moscovo, onde foi preso mal desembarcou (é acusado de ter violado uma pena de prisão suspensa decorrente de uma acusação de corrupção de 2014 que Navalny diz ser politicamente motivado). As suas denúncias de corrupção entre a elite política russa, incluindo do Presidente Vladimir Putin, deram uma nova força à oposição e assustaram o Kremlin.

A fuga de Iarmish é apenas a mais recente de uma vaga de exílios auto-impostos por parte de personalidades ligadas à oposição russa ou a meios de comunicação independentes do Kremlin. No início de Agosto, Liubov Sobol, uma das principais aliadas de Navalny, fugiu da Rússia depois de ser condenada a uma pena igual à de Iarmish.

Em Junho, o ex-deputado da oposição Dmitri Gudkov também abandonou a Rússia, alegando que estava a ser pressionado pelas autoridades e que lhe foram vedados os caminhos para se poder voltar a candidatar nas eleições legislativas deste ano.

O foco desta vaga de exílios concentra-se sobretudo em elementos pertencentes à organização de Navalny, considerada “extremista” pelas autoridades e, na prática, ilegalizada. O New York Times estima que mais de uma dezena de personalidades ligadas a Navalny tenham abandonado a Rússia desde o início do ano, tal como políticos da oposição e jornalistas que integraram a lista de “agentes estrangeiros”.

O jornal norte-americano diz tratar-se da “maior vaga de emigração política na história pós-soviética da Rússia”.

Os políticos visados dizem que são vítimas de pressão por parte das autoridades policiais e judiciais, a mando do Kremlin, para que sejam forçadas a sair do país se quiserem evitar a prisão. “A estratégia é: primeiro apertar com eles, e se não conseguem apertar com eles, atiram-nos para a prisão”, diz Gudkov ao NYT.

O aumento da repressão contra a oposição política na Rússia acontece nas vésperas das eleições legislativas do próximo mês (entre 17 e 19 de Setembro), que ocorrem num momento de queda da popularidade do Rússia Unida, o partido no poder, por causa da pioria das condições de vida da população e também pelos efeitos da pandemia.

O Kremlin, dizem os seus opositores, irá fazer de tudo para manter a sua larga maioria na Duma Estatal, e o afastamento de candidatos bem como a pressão sobre membros da oposição, sobretudo ligados a Navalny, fazem parte dessa estratégia. Há quem receie uma intensificação da fraude eleitoral e a declaração da organização de monitorização Golos, que no passado revelou casos de interferência, como “agente estrangeiro”, limitando a sua actuação, reforça essas suspeitas.

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