Lukashenko garante que não é um ditador

Um ano depois das polémicas eleições, que mantém terem sido “justas”, o Presidente bielorrusso diz que houve uma tentativa de golpe de Estado contra um “regime legítimo”.

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Nikolay Petrov/BELTA/Reuters

O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, lembrou esta segunda-feira as polémicas eleições de há exactamente um ano com a premissa de que houve pessoas que tentaram levar a cabo um “golpe” contra um regime legítimo e a todos aqueles, da oposição à União Europeia, que põem em causa o seu mandato consecutivo, garante que não é um ditador.

“Para dar cartas no mundo, precisamos de recursos adequados. Nós não os temos. Por isso, eu nunca ditei nada e nunca irei. Vou manter a segurança e a integridade do nosso país. O primeiro Estado independente na sua longa história. É só isso. Não podemos, nem queremos gastar recursos noutra coisa”, disse Lukashenko.

O Presidente bielorrusso reconheceu que este ano foi “difícil”, depois de as eleições do ano passado em que a comissão eleitoral bielorrussa lhe atribuiu a vitória por larga margem (80,1% para Lukashenko e 10,1% para Svetlana Tikhanovskaya), mas que a oposição denunciou como fraudulenta, conseguindo o reconhecimento internacional.

“A Bielorrússia é o centro de atenção internacional. Sabem o que aconteceu e porquê”, afirmou Lukashenko perante uma plateia com especialistas e jornalistas no formato de uma grande conferência de imprensa convocada propositadamente para este dia 9 de Agosto, aniversário das eleições. “Alguns estavam a preparar umas eleições justas (…) e outros um golpe de Estado”, explicou o mandatário.

Para Lukashenko, “a democracia foi substituída pela ditadura digital”, de onde surgem “mentiras” e “notícias falsas” que o afectaram, a sua presidência e ao país, num “desafio grave para a unidade nacional” bielorrussa, referiu, citado pela agência de notícias pública Belta.

“Fizemos todo o possível para superar com dignidade este período da nossa história mais recente”, acrescentou o Presidente bielorrusso.

Lukashenko garantiu que as suas prioridades são a “segurança” e a “integridade” do país e que não fará nenhuma concessão aos seus críticos, internos e externos, aproveitando para advertir a União Europeia e outros países que estejam a pensar em novas sanções em que “pensem cuidadosamente”, já que as mesmas “podem ter o efeito contrário”.

No domingo, Josep Borrell, o alto representante da UE para a política externa avisava Lukashenko que se poderiam adoptar novas sanções porque num ano nada tinha mudado em termos de liberdades e direitos humanos. “A 9 de Agosto de 2020, o povo da Bielorrússia viu as suas esperanças de eleger um líder legítimo serem brutalmente frustradas”, lamentou Borrell.

Com milhares detidos, segundo a ONU, muitos exilados e alguns mortos, Lukashenko continua a falar de uma “conspiração” e prometeu contar a “verdade” contra todas as mentiras difundidas por aqueles que querem afundar o país. E pediu aos países que ofereceram asilo aos opositores bielorrussos que “deixem de receber com beneplácito aquilo que andam por aí a dizer os fugitivos”.

Tikhanovskaya afirmou esta segunda-feira na sua conta no Twitter que as eleições foram “roubadas” e que houve “milhões de votos” a favor da mudança. Segundo os seus cálculos, neste momento há 610 presos políticos” e ao todo foram detidas 36 mil pessoas desde as eleições de 9 de Agosto de 2020.

“Continuaremos a lutar até que estes números sejam história”, acrescentou a opositora na sua mensagem que partilhou as mensagens de apoio que lhe enviaram representantes de vários governos europeus e de eurodeputados.

Mas, Tikhanovskaya diz que hoje a oposição ao regime bielorrusso tem de ser feito de forma diferente, não passando pela luta nas ruas porque o preço a pagar para quem protesta é muito alto. “Qualquer pode ir parar na prisão e não é por 15 dias, mas durante anos”, referiu à agência DPA.

“A segurança da população” está primeiro, disse a opositora. “Já houve vítimas suficientes, demasiadas vidas destruídas” e as manifestações “são apenas uma parte do movimento de protesto”.

A Comissão de Direitos Humanos da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) denunciou “a deterioração da situação” na Bielorrússia e pediu que sejam dados passos “imediatos” para pôr fim “à crise de direitos humanos” no país.

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