Bielorrússia condena a 14 anos de prisão opositor detido após anunciar candidatura contra Lukashenko

Barakito, um ex-banqueiro, foi um dos candidatos impedidos de desafiar o Presidente bielorrusso. Tikhanouskaia fala em “sentença insana” para “um dos líderes que acordou o país de um longo sono”.

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Viktor Babariko na audiência onde foi anunciada a sentença, em Minsk RAMIL NASIBULIN/Reuters

Detido antes das eleições presidenciais de Agosto do ano passado que abalaram o regime de Aleksander Lukashenko, precisamente por tentar desafiar o ditador, o antigo banqueiro Viktor Babariko foi esta terça-feira condenado a 14 anos de prisão por corrupção e branqueamento de capitais. O opositor não pode recorrer da condenação, decidida pelo Supremo Tribunal da Bielorrússia.

Antes da sua detenção, em Junho de 2020, as sondagens sugeriam que Barariko, de 57 anos, seria o principal rival de Lukashenko nas presidenciais. Oficialmente, o Presidente bielorrusso venceu as eleições com 80%, mas os resultados foram considerados fraudulentos pela oposição e pelas muitas centenas de milhares de pessoas que contra eles protestaram – desde então, nem a União Europeia nem os Estados Unidos reconhecem a legitimidade de Lukashenko.

Os protestos que se seguiram ao voto, de uma dimensão inédita, já se antecipavam nos meses que antecederam a ida às urnas, com as manifestações a crescerem quando a comissão eleitoral rejeitou as candidaturas de Barariko e de Valeri Tsepkalo, antigo embaixador da Bielorrússia nos EUA, que também era visto como um candidato forte. Tsepkalo acabou por sair do país com os dois filhos menores quando a família soube que as autoridades se preparavam para lhes retirar a custódia.

Depois de Babariko ter sido detido, a música Maria Kolesnikova, que se tinha tornado gestora da sua campanha, uniu forças com outras duas opositoras, Veronika Tsepkalo (a mulher de Valeri) e Svetlana Tikhanouskaia, mulher do youtuber detido por apelar a protestos contra Lukashenko três meses antes das eleições que se apresentou a votos.

Tikhanouskaia, que já enviara os filhos para a Lituânia por medo que lhe fossem retirados, acabou por tornar-se líder incontestada da oposição – dias depois das eleições, fugiu para o país báltico. Veronika Tsepkalo, que se tornou representante do marido na campanha de Tikhanouskaia, deixou a Bielorrússia na véspera das presidenciais, juntando-se ao marido e aos filhos. Kolesnikova foi detida um mês depois.

Babariko foi condenado por ter recebido subornos “em quantidade significativa” e por branqueamento de capitais, informa a organização não-governamental de direitos humanos Viasna. De acordo com um jornalista independente que estava na audiência, o opositor foi ainda condenado a uma multa de cerca de 45 mil euros e proibido de exercer cargos de direcção. Segundo a acusação, teria cometido os crimes pelos quais foi condenado quando dirigia o Belgazprombank, uma filial bielorrussa de um banco do gigante de gás russo Gazprom – sete ex-funcionários que se confessaram culpados testemunharam contra o antigo candidato.

"Farsa cruel"

“Podemos construir um país com valores humanistas onde o indivíduo seja respeitado”, disse Babariko no fim de Junho, durante o julgamento. O opositor, que sempre negou as acusações, afirmou ainda acreditar numa “Bielorrússia feliz, honesta e aberta”.

Tikhanouskaia reagiu já à decisão do Supremo Tribunal, descrevendo “uma sentença insana para um homem que decidiu entrar na política e se tornou um dos líderes que acordou o país de um longo sono” e acusando o regime de “fazer de tudo para matar qualquer pensamento que se assemelhe, mesmo que remotamente, à fé e à esperança”. “Mas para Viktor – assim como para milhares de pessoas inocentes na prisão – o que mais importa é a esperança nos nossos corações”, afirmou a opositora.

Para a embaixada dos EUA em Minsk, tratou-se de mais uma “exibição” da “farsa cruel do sistema judicial” na Bielorrússia, uma prova de que Lukashenko “não vai parar perante nada para manter o poder”.

Segunda-feira, horas antes desta sentença, a relatora especial da ONU para a Bielorrússia, Anais Marin, denunciou os “crimes sem precedentes no alcance e gravidade” do último ano no país, com mais de 35 mil pessoas presas arbitrariamente e dezenas de milhares obrigadas a fugir. Marin apresentava o seu relatório anual, onde foram recolhidas indicações de “violência generalizada contra os manifestantes, casos de desaparecimentos forçados, acusações de tortura e maus-tratos”.

A relatora pediu a libertação imediata de 530 detidos que são considerados “prisioneiros políticos” por grupos de direitos humanos.

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