Polónia: Tusk volta à linha da frente para enfrentar o velho inimigo Kaczynski

“Estamos prontos a lutar contra o mal”, disse Donald Tusk, referindo-se ao actual Governo polaco.

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Donald Tusk volta à liderança da Plataforma Cívica SLAWOMIR KAMINSKI/Reuters

O ex-presidente do Conselho Europeu Donald Tusk voltou este sábado à linha da frente da política polaca, ao ser eleito líder do principal partido da oposição, a Plataforma Cívica, numa jogada que reedita o duelo com o seu inimigo de longa data, Jaroslaw Kaczynski.

As eleições marcadas para 2023 irão determinar se o partido do Governo, o nacionalista Lei e Justiça (PiS), liderado por Kaczynski, irá continuar as suas disputas com Bruxelas sobre questões como a reforma judicial que a UE diz que põe em causa a independência dos juízes e os direitos LGBTI.

“A Plataforma Cívica é indispensável, é necessária como força, e não como memória, para vencer a luta pelo futuro contra o PiS”, disse Tusk no congresso do partido, em Varsóvia. “Não há hipótese de vitória sem Plataforma Cívica, e a nossa história diz-nos isso.”

“Sei que muitos polacos estão à espera que este pesadelo acabe”, disse Tusk, referindo-se ao curso de colisão com a União Europeia. “Hoje, o mal reina na Polónia e estamos prontos para lutar contra este mal”, declarou.

A rivalidade entre Tusk e Kaczynski é tanto profundamente pessoal como emblemática da divisão entre o liberalismo económico e social pró-europeu da Plataforma Cívica e os valores sociais conservadores e os políticas económicas de esquerda do PiS, uma divisão que define, em grande medida, a paisagem política polaca.

Falando no sábado no Congresso de PiS, em Varsóvia –​ onde foi reeleito líder, dizendo que seria a última vez –, Kaczynski argumentou que o seu partido conseguiu melhorias no nível de vida, acusando os seus predecessores de serem elitistas. Destacou ainda medidas do seu partido como o aumento do salário mínimo e das pensões de reforma.

O anúncio do regresso de Tusk aconteceu após conversações à porta fechada entre o novo líder, o seu antecessor Borys Budka e o presidente da Câmara de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, que também tinha sido indicado para a liderança. 

Tusk foi presidente do Conselho Europeu de 2014 a 2019, um período marcado pelo "Brexit” e pela crise migratória que levou a divisões dentro da União Europeia.

Foi o primeiro chefe de Governo da história pós-comunista da Polónia a ganhar dois mandatos no cargo, estando no Governo de 2007 a 2014.

Durante a crise financeira global, a Polónia, sob a liderança de Tusk, evitou uma recessão, mas o Governo passou a ser visto cada vez mais como alheio aos problemas dos polacos mais jovens e menos abastados.

Esse será um problema que Tusk ainda vai ter de enfrentar – o seu partido tem tido dificuldade em chegar a novos eleitores além da classe média e está com valores baixos nas sondagens.

“O maior partido da oposição está a viver a maior crise da sua história”, disse Rafal Chwedoruk, cientista político da Universidade de Varsóvia. “Muitos eleitores que não gostam do PiS também não querem votar na Plataforma Cívica.”

O partido liberal, que lidera uma coligação com 126 deputados no Parlamento polaco, contra 230 da coligação do PiS, está em terceiro nas sondagens, atrás do partido do jornalista católico Szymon Holownia, cujas ideias de centro-direita apelam a ideias dos eleitores tradicionais do partido de Donald Tusk.

Além disso, muitos eleitores mais jovens acham que o partido tem uma abordagem demasiado cautelosa em questões como o aborto ou os direitos LGBTI.

O PiS também tem, no entanto, problemas para manter a sua coligação unida. Recentemente, três deputados saíram do partido na sequência de lutas internas sobre o programa “Polish Deal”, que o partido diz que fará com que a maioria dos polacos pague menos impostos, mas que é criticado por penalizar os proprietários de pequenas empresas e a classe média.

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