Qual é o objectivo sonhado na educação?

Para orientar tal autonomia em cada escola, é preciso ter uma visão clara, construir equipas que ajudem a pensar e tragam diferentes pontos e vista.

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Rui Gaudencio

Após o anúncio pelo Ministério da Educação do investimento na educação ficam as dúvidas de como será operacionalizado esse investimento. Para além dos números, as inovações anunciadas dependeram das estratégias que irão ser implementadas, para poderem ser experiências significativas e terem impacto.

A autonomia das escolas há muito anunciada e pouco explorada pela grande maioria, causa o já conhecido ‘medo da folha em branco’. Ideias pouco estruturadas, concepções pouco validadas, falta de visão, mindset carregado de estereótipos e preconceitos, levam a que este medo se instale e que apenas consiga produzir episódicas experiências significativas, em vez de algo que cause impacto positivo e progresso. Ou seja, a autonomia pode ser um pesadelo! Antes de querer fazer ‘coisas’ diferentes e com efeitos positivos, é preciso entender bem o contexto e perceber onde estão os travões para a aprendizagem e a felicidade académica e também social. Ou seja, é preciso ter mentalidade reflexiva, de questionamento, curiosa, inclusiva e humilde.

Desta autonomia fazem parte o ensino exploratório, seja lá o que isto signifique; a flexibilidade na gestão das turmas e o envolvimento das famílias. Só com grandes timoneiros será possível navegar por este mar da autonomia de milhões de euros à espreita. Para orientar tal autonomia em cada escola, é preciso ter uma visão clara, construir equipas que ajudem a pensar e tragam diferentes pontos e vista. É importante também trazer pessoas de fora da escola, que contribuam com novas perspectivas, os chamados thinking partners, um olhar novo isento de vícios para contribuir com contexto, com perspectiva. Ter claro qual é o ponto de partida, que na maioria das vezes não é nada concreto, nem está claro para quem tem responsabilidades de direcção da escola e aferir onde todos querem chegar, qual é o ponto de chegada sonhado por todos.

Depois de tudo isto, acrescentar o “mais além”, o plus motivacional da superação daquilo que são os objectivos pessoais, ou seja, a passagem para o colectivo. A definição do plano para alcançar os objectivos e as estratégias são, para quem as operacionaliza, mais importantes do que o próprio plano, pois são as tarefas que lhes vão ocupar o pensamento e os dias. É preciso dar a noção de construção da catedral e não apenas de estar a colocar pedra sobre pedra, para que o entusiasmo e motivação acompanhem o desenrolar das acções e que consigam ter o impacto esperado.

A autonomia não é apenas fazer, ou deixar fazer, sozinho, de acordo com aquilo que são as ideias de cada um. É preciso preparar para a autonomia. Pensemos na educação das crianças e façamos o paralelismo. Quando durante toda a vida se cumpre regras, normas e orientações e de repente se abre a porta e se pede para fazer como quiserem, o mais provável é dar asneira. O sentimento de segurança é sempre maior quando alguém nos orienta do que quando temos de pensar, desenvolver um plano, gerir acções e validar as estratégias e as respectivas saídas. Preparar para a autonomia é mais importante do que dar autonomia, se queremos que sejam educadores eficazes e significativos. Se prepararmos para a autonomia, o próximo passo, de forma natural, será o exercício dessa autonomia.

O plano apresentado fala de formação para docentes e não docentes, serão, no entanto, os directores das escolas e as suas equipas que traçarão os planos para os seus estabelecimentos de ensino. E formação adequada, própria e direccionada para este grupo tão especial, os líderes?

É evidente que antes de mais precisamos de mudar o modo como pensamos a educação e o que queremos para a nossa educação. O plano apresentado aponta uma série de estratégias, o tal colocar pedra sobre pedra, mas o que estamos a construir quando desempenhamos a tarefa? Qual é a catedral? Falta saber qual é o ponto de chegada sonhado.

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