Valérie Bacot, que matou o ex-padrasto e marido que a violou e prostituiu desde criança, sai em liberdade

Condenada a quatro anos de prisão por um tribunal francês, três deles de pena suspensa, a acusada sai em liberdade porque já tinha cumprido um ano de prisão preventiva.

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JEFF PACHOUD / Colaborador

Valérie Bacot não vai para a prisão. O caso que apaixonou os franceses e serviu como símbolo do tanto que ainda há por fazer em relação à violência doméstica e ao abuso sexual em França terminou com lágrimas de felicidade e aplausos. A assassina confessa de Daniel Polette, seu ex-padrasto, marido violento, violador desde os 12 anos e proxeneta desde os 14 anos, foi condenada a quatro anos de prisão, três deles com pena suspensa. Como já tinha cumprido um ano de prisão preventiva, sai em liberdade.

O júri do julgamento de Valérie Bacot, violada desde os 12 anos por Daniel Polette, de quem teve quatro filhos, acabou por seguir o pedido de clemência do procurador-geral e considerar que a acusada era “uma vítima, muito claramente”.

“Valérie Bacot não poderia tirar a vida daquele que a aterrorizava”, mas deve-se “fixar a interdição sem reencarceramento”, havia referido o procurador-geral, Eric Jallet, perante o Tribunal de Saône-et-Loire, no Centro-Leste de França, diz o Monde.

Quando Jalle pediu clemência e lembrou aos jurados que os quatro filhos precisavam da mãe, Valérie não conteve as lágrimas e perdeu os sentidos quando o procurador defendeu que devia sair do tribunal em liberdade.

Mesmo assim, o procurador havia pedido cinco anos de cadeia, com quatro de pena suspensa, e a pena acabaria por ser um ano mais curta, embora com o mesmo resultado imediato, pelo ano de prisão preventiva cumprido entre Outubro de 2017 e Outubro de 2018.

Quando a sentença foi lida, ouviram-se aplausos na sala e alguns dos mais próximos da acusada não contiveram as lágrimas. A presidente do júri, Céline Therme, sublinhou que os jurados tiveram em conta “o terror” em que Valérie viveu durante quase um quarto de século e que o crime, cometido em 2016, derivava dos “múltiplos traumatismos da sua infância”.

Durante as audiências desta semana, a defesa descreveu a “violência extrema” que Bacot sofreu e sublinhou o seu “medo de ver essa violência perpetuar-se contra a sua própria filha”, Karline, que tinha 14 anos na altura do assassínio. Segundo relatou mãe, a adolescente dissera-lhe que o pai começara a fazer-lhe perguntas sexualmente sugestivas.

Mais de 700 mil pessoas assinaram uma petição a pedir que fosse libertada, com muitos a defenderem que o caso mostra como tanto está por fazer no combate à violência doméstica em França. Pelo menos 55 mulheres já foram assassinadas pelos seus actuais ou ex-parceiros em 2021.

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