Herói de Hotel Ruanda pode vir a cumprir prisão perpétua por acusações de terrorismo

Rusesabagina é acusado de nove crimes de terrorismo, incluindo pertença a um grupo armado, assassinato e sequestro. O homem que inspirou o filme não comparece em tribunal desde Março, por considerar que o julgamento não é justo.

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Paul Rusesabagina PAULO RICCA / PUBLICO

O Ministério Público do Ruanda pediu esta quinta-feira prisão perpétua para Paul Rusesabagina – mundialmente conhecido como o herói cuja história é narrada no filme Hotel Ruanda (2004) – por envolvimento num conjunto de ataques realizados por um grupo rebelde entre 2018 e 2019.

Durante o processo, o Ministério Público afirmou que Rusesabagina detém um alto cargo e responsável pelo financiamento da Frente de Libertação Nacional (FLN), grupo armado do Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD), da qual era presidente, e enfatizou não haver circunstâncias atenuantes, segundo o diário ruandês New Times.

Rusesabagina, acusado de nove crimes de terrorismo, incluindo pertença a um grupo armado, assassinato e sequestro, recusou comparecer em tribunal, por considerar que o processo movido contra si não é justo.

Por sua vez, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, assegurou em Maio que Rusesabagina teria um julgamento justo: “Por que acreditam que a Justiça é algo que pertence à Europa, Estados Unidos ou outro qualquer país que não seja o nosso?”, perguntou. “O único que pode ser justo no Ruanda ou em África tem que ser supervisionado pela Europa, Estados Unidos ou outro lugar? Não”.

No final de Setembro do ano passado, o próprio arguido reconheceu as ligações com a FLN, embora tenha admitido que o seu envolvimento era unicamente de carácter “diplomático”. Confirmou ainda que o MRCD tinha criado a FLN “como um braço armado, não como um grupo terrorista como afirma a acusação”. “Não nego que o FLN cometeu crimes, mas o meu papel era diplomático”, salientou.

Rusesabagina ficou mundialmente conhecido depois de a sua história ter sido retratada no filme Hotel Ruanda. Como gerente no hotel Mille Collines, em Kigali, conseguiu proteger dentro do estabelecimento mais de 1200 tutsis e hutus moderados durante o genocídio do Ruanda em 1994.

Tem nacionalidade belga e estatuto de residência nos EUA, onde também se tornou opositor proeminente de Kagame. Acabou por ser detido no final de Agosto do ano passado: acreditando estar a viajar para o Burundi, embarcou num voo para Kigali, capital do Ruanda, influenciado pelo pastor com quem viajava – que estava a trabalhar com as autoridades ruandesas.

Está detido desde então. Há três semanas afirmou ter sido torturado quando chegou a Kigali, algo que as autoridades ruandesas negam. Dias depois, a família e os seus advogados revelaram que lhe estava a ser negado o acesso a alimentação e medicação, e denunciaram uma tentativa das autoridades ruandesas de o pressionarem a apresentar-se no tribunal, onde não comparece desde Março.

Kate Gibson, sua advogada, disse ao New York Times que foi negado ao arguido escolher os seus advogados para este caso e que a equipa jurídica não só não pode visitá-lo, como tem de submeter os documentos às autoridades antes de os mostrar a Rusesabagina. 

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