Reino Unido e Austrália lançam as bases para o primeiro acordo de livre comércio pós-“Brexit”

Esboço do acordo prevê eliminação das taxas aplicadas aos produtos comercializados e um regime de transição de 15 anos para bens agrícolas. Agricultores britânicos estão preocupados.

Foto
Scott Morrison (à esquerda) e Boris Johnson (à direita) fecharam os termos gerais do acordo numa reunião bilateral à margem da cimeira do G7 Reuters/POOL

Os Governos do Reino Unido e da Austrália anunciaram esta terça-feira um compromisso sobre os termos gerais de um novo acordo de livre comércio entre os dois países, o primeiro acordo bilateral desde que os britânicos abandonaram a União Europeia, em Janeiro do ano passado.

“O dia de hoje marca uma nova era nas relações entre o Reino Unido e a Austrália, alicerçada na nossa história partilhada e nos nossos valores comuns”, celebrou Boris Johnson, que fechou o esboço do acordo com o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, durante a cimeira do G7, na Cornualha.

“O nosso novo acordo de livre comércio abre fantásticas oportunidades para as empresas e para os consumidores britânicos, assim como para os jovens que procuram uma hipótese de trabalhar e viver no outro lado do mundo”, afirmou o primeiro-ministro britânico.

De acordo com as estimativas do Governo do Reino Unido, o acordo de livre comércio acrescentará entre 0,01 e 0,02% ao produto interno bruto do país nos próximos 15 anos. Segundo Downing Street, serão entre 200 a 500 milhões de libras (cerca de 232 a 580 milhões de euros) adicionais aos valores de 2018.

“É um acordo fundamentalmente liberalizador, que elimina as tarifas para todos os produtos britânicos, abre novas oportunidades para os nossos prestadores de serviços e torna mais fácil para as nossas populações viajarem e trabalharem”, acrescentou Liz Truss, ministra do Comércio Internacional.

“É o mais aprofundado e ambicioso acordo que a Austrália já fechou”, disse, por sua vez, Morrison.

O esboço do acordo prevê a eliminação das taxas aplicadas aos produtos comercializados entre os dois países e maiores facilidades de mobilidade turística e laboral dos cidadãos. 

Pressupõe, porém, um regime de excepção de 15 anos para alguns produtos, maioritariamente agrícolas, de forma a ajudar os agricultores e produtores britânicos a terem uma transição menos disruptiva para o novo modelo.

Segundo o Financial Times, a falta de pormenores sobre esta matéria está, no entanto, a deixar a comunidade agrícola britânica muito apreensiva. Os agricultores galeses e ingleses, particularmente, temem que a ausência de tarifas aplicadas às importações de carne de vaca, carne de borrego e de açúcar da Austrália prejudique o sector internamente. 

Além disso, estão preocupados com a diferença nos padrões de produção, nomeadamente na utilização australiana de algumas hormonas de crescimento e pesticidas proibidos no Reino Unido.

A BBC informa que o Reino Unido é o oitavo maior parceiro comercial da Austrália e que a Austrália é o 20.º maior parceiro do Reino Unido. O volume de trocas comerciais entre os dois países está calculado em cerca de 20,7 mil milhões de libras.

A maioria das importações de produtos australianos para o território britânico abrange metais, maquinaria e vinhos, ao passo que as maiores exportações do Reino Unido incluem automóveis, bebidas alcoólicas e produtos farmacêuticos.

O facto de o primeiro acordo de livre comércio pós-“Brexit” anunciado pelo Reino Unido – à excepção da nova parceria económica e política acordada com a UE – ser com a Austrália tem um peso simbólico. Sendo a Austrália um aliado e um parceiro histórico dos britânicos, é também um território localizado na região onde o Governo de Johnson quer apostar grande parte das suas fichas comerciais e económicas.

Nos termos da narrativa brexiteer “Global Britain”, que dá o mote para a reorientação estratégica do país para a próxima década, anunciada em Março, “o Reino Unido irá aprofundar o seu envolvimento no Indo-Pacífico e estabelecer uma presença maior e mais persistente do que qualquer outro país europeu”.

“[Este acordo] é importante economicamente, disso não há dúvidas. Mas penso que é mais importante politicamente e simbolicamente”, assumiu Boris Johnson. “Estamos a abrir-nos um para o outro e este é o prelúdio de uma campanha geral de abertura [do Reino Unido] em todo o mundo”.

Sugerir correcção
Comentar