Governo britânico nega acusações do ex-conselheiro de Johnson sobre a pandemia

Dominic Cummings acusou Boris Johnson de ter desvalorizado a covid-19 e disse que milhares morreram “desnecessariamente” por causa da má gestão governamental.

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Johnson chegou a sugerir ser infectado em directo na televisão com o vírus SARS-CoV-2, segundo Cummings Reuters/POOL

O Governo britânico nega as acusações do antigo conselheiro, Dominic Cummings, que fez uma descrição desastrosa da actuação do executivo de Boris Johnson no combate à pandemia.

Na ressaca das revelações feitas por Cummings, tanto Johnson como o ministro da Saúde, Matt Hancock, procuraram negar as alegações do antigo conselheiro especial do Governo. Na véspera, o primeiro-ministro já tinha dito que as declarações do ex-aliado “não têm qualquer relação com a realidade” e esta quinta-feira em visita a um hospital em Essex rejeitou a ideia de que o adiamento da aplicação de um novo confinamento no Outono tenha causado mortes “desnecessárias”, como disse Cummings.

“A cada etapa, fomos guiados pela determinação em proteger a vida, em preservar a vida, assegurar que o nosso NHS [o sistema de saúde britânico] não ficava esgotado, e seguimos o melhor que pudemos as informações e as orientações de que dispúnhamos”, afirmou Johnson, replicando a resposta dada no Parlamento no dia anterior.

Na quarta-feira, perante uma comissão parlamentar, Cummings disse que por causa da resposta lenta e hesitante do Governo em aplicar medidas de confinamento dezenas de milhares de pessoas morreram “desnecessariamente”. O ex-conselheiro, que foi demitido em Novembro, assumiu erros próprios mas concentrou as suas acusações em Johnson e em Hancock, que disse ter mentido e que “devia ter sido despedido por, pelo menos, 15 a 20 motivos”.

Uma das alegações mais graves feitas por Cummings é a de que não havia um sistema de testagem para os utentes de lares de idosos que tinham alta hospitalar e depois regressavam às instalações.

Segundo Cummings, o primeiro-ministro desvalorizou a importância da pandemia aquando dos primeiros sinais, em Fevereiro do ano passado, descrevendo-a como “uma nova gripe suína”. O ex-assessor disse ainda que Johnson chegou a ponderar ser injectado em directo na televisão com o vírus SARS-CoV-2 para “toda a gente perceber que não há nada a temer”. Johnson acabaria por contrair a doença naturalmente, chegando a ser internado numa unidade de cuidados intensivos.

Hancock enfrentou uma sessão de perguntas na Câmara dos Comuns na qual rejeitou o que disse serem “alegações infundamentadas” e tentou justificar as decisões que foram sendo adoptadas pelo Governo ao longo da pandemia. “Houve dificuldades inéditas que aparecem com as preparações para um evento inédito”, disse o ministro.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, lembrou a elevada mortalidade do Reino Unido – mais de 127 mil, o número mais elevado da Europa – e disse que “as famílias que perderam alguém têm direito a respostas”.

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