O Herodes dos palestinianos

A mortandade de palestinianos indefesos por Israel é própria de quem despreza totalmente o outro povo e a sua cultura; é a barbárie tão característica dos regimes nazis.

É sabido pelos governos, parlamentos, media e pelo mundo que Israel ocupa a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Leste e os Montes Golan contra todas as decisões do direito internacional. E é sabido pelos mesmos governos, parlamentos e media que todos os povos do mundo têm direito a defender-se contra uma ocupação. Tal direito é conforme ao Direito Internacional.

Pode concordar-se ou discordar-se das formas de luta de um povo ocupado, mas uma ocupação não deixa de ser uma ocupação pelo facto de uma organização emanada desse povo utilizar tal ou tal forma de luta, mesmo que seja a menos indicada para si própria, tanto mais quanto o poderio da máquina militar é infinitamente superior à dos palestinianos – pedras e fisgas e à do Hamas – rockets caseiros. Ocorre que na mortandade da primeira Intifada o Hamas não foi sequer ator de primeiro plano e não havia rockets, apenas fisgas e pedras contra as poderosas armas de Israel.

Todos os governos e deputados sabem que desde o início da ocupação de junho de 1967, os israelitas mataram milhares de palestinianos, prenderam e torturaram dezenas de milhares, expropriaram casas e terrenos aos palestinianos para os entregar a judeus vindos de todo o mundo. A ocupação israelita é fundada numa violenta repressão e opressão que vai desde a segregação até ao impedimento de fornecimento dos serviços públicos mínimos e à expropriação ou devastação dos produtos produzidos pelos palestinianos.

Biden, Merkel, Putin, XI JiPing, Costa, Marcelo sabem que Israel ocupa uma grande parte da Palestina e que essa ocupação viola as resoluções do direito internacional. Sabem todos que este grau de violência só pode incitar a violência. Sabem que independentemente da natureza político-ideológica do Hamas que esta violência só dá força àquela organização na medida em que elimina qualquer outro tipo de luta.

Todos sabem, mesmo em Israel, que Netanyahu é suspeito de ter cometido graves crimes de corrupção e que a única forma de fugir ao julgamento é manter-se como primeiro-ministro. Sabem-no Merkel, Biden, Xi Jiping, Putin, Von der Leyen e António Costa e até o pantomineiro do Rui Rio que foi visitar agora o museu do holocausto. Sabem que para ganhar as eleições Netanyahu é capaz de destruir, arrasar e matar a sangue-frio a população palestiniana de Gaza.

Nas Bolsas de Valores a vida de duzentos palestinianos vale nada e, por isso, os governos do mundo não se preocupam. A sorte de Netanyahu, essa sim, preocupa-os. Ele vai com a força total. Todos o ouviram ameaçar com a força total e o tempo que for preciso, até ganhar eleições à custa da carnificina dos palestinianos. Ouviram todos. E calaram-se. Protegem-no.

Ele fala como se fosse Herodes em Jerusalém. Ele é o sacripanta do Ocidente e os palestinianos são os judeus de Nazareu ou os dos campos de concentração de Auschwitz. A mortandade de palestinianos indefesos por Israel é própria de quem despreza totalmente o outro povo e a sua cultura; é a barbárie tão característica dos regimes nazis. Deviam ter o que não têm - vergonha.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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