Morreu a mulher atingida nos protestos contra o golpe militar na Birmânia

Mya Thwate Thwate Khaing, 20 anos, é a primeira vítima da investida da polícia para dispersar manifestações na Birmânia.

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Flores e a imagem dos manifestantes junto a fotografia de Mya Thwate Thwate Khaing LYNN BO BO/EPA
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Memorial a Mya Thwate Thwate Khaing Reuters
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NYEIN CHAN NAING/EPA
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LUSA/LYNN BO BO

Uma jovem birmanesa morreu esta sexta-feira depois de ter sido atingida com um tiro na cabeça na semana passada numa manifestação na capital, Naypyitaw, quando a polícia dispersava um protesto. Mya Thwate Thwate Khaing tinha acabado de fazer 20 anos.

É a primeira morte entre manifestantes que têm saído à rua para protestar contra o golpe militar que afastou a líder de facto do país, Aung San Suu Kiy, que compareceu esta semana pela primeira vez a tribunal por vídeo-conferência, numa curta sessão de uma hora.

O exército tem aumentado a pressão com o envio de tanques para as ruas de grandes cidades e impondo penas para quem dificulte a sua acção, mas mesmo assim, os protestos têm-se mantido, com vários observadores a avisar para a crescente possibilidade de violência dos militares contra os manifestantes.

A morte de Mya Thwate Thwate Khaing poderá tornar-se mais uma razão para os manifestantes protestarem. “Estou orgulhoso dela e vou continuar a vir para a rua até conseguirmos o nosso objectivo por ela”, disse à Reuters Nay Lin Htet, 24 anos, no centro da cidade de Rangum. “Não estou preocupado com a minha segurança.”

A organização de direitos humanos Amnistia Internacional analisou, ainda antes da morte de Mya Thwate Thwate Khaing, as imagens do incidente, afirmando que os ferimentos da manifestante “foram causados pela polícia que disparou munições reais directamente contra manifestantes pacíficos”.

Um responsável do hospital, que confirmou a morte da manifestante, disse que o corpo ia ser examinado “porque este é um caso de injustiça”. “Vamos manter um registo [da causa da morte] e enviar uma cópia para as autoridades responsáveis. Vamos procurar justiça”, disse o responsável, citado pelo Guardian.

Esta sexta-feira assinalou-se a segunda semana de grandes protestos, na maioria pacíficos. Alguns foram, no entanto, reprimidos pela polícia, e o exército diz que um polícia morreu de ferimentos numa das manifestações. Decorre ainda uma campanha de desobediência civil que está a tentar paralisar sectores importantes da administração pública.

O Reino Unido e o Canadá anunciaram novas sanções na quinta-feira, e um pequeno grupo de manifestantes juntou-se em frente à embaixada em Rangum para agradecer.

A Junta militar não reagiu, e um porta-voz afirmara antes que já eram esperadas sanções. Não há muitos precedentes de resultados de pressão do estrangeiro entre os militares da Birmânia, que controlaram o país durante quase 50 anos antes de iniciarem um processo de reformas em 2011.

O líder da junta militar, Min Aung Hlaing, já estava sob sanções ocidentais após a perseguição à minoria rohingya. A proximidade maior com a China e a Rússia fazem com que as sanções tenham menos efeito.

O exército tomou o poder no dia 1 de Fevereiro, alegando fraude nas eleições de 8 de Novembro, que deram uma grande vitória à Liga Nacional para a Democracia, o partido de Suu Kyi, que está detida em casa – o exército diz que é para sua protecção.

Suu Kyi esteve quase 15 anos em prisão domiciliária pela sua luta pela democracia na Birmânia, que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz em 1991. O facto de, quando chegou ao poder, não ter tido uma palavra contra a perseguição do regime aos rohingya (e mais, ter-se mesmo decidido representar ela própria o país no Tribunal Internacional de Justiça que julga a campanha de limpeza étnica) deixou muitos a pedir que a distinção lhe fosse retirada.

Nestas quase três semanas desde o golpe, foram presas pelos militares pelo menos 521 pessoas, das quais 44 foram entretanto libertadas, disse a Associação de Apoio a Prisioneiros Políticos.

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