Está na hora de repensares o teu guarda-roupa, de olho na sustentabilidade

Já que estamos em casa, este pode ser um momento oportuno para olhar para os nossos armários e ponderar algumas mudanças importantes: comprar menos, reciclar e organizar são as palavras de ordem.

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Ralf Hiemisch/Getty Images

Vou ser directa: temos demasiadas roupas —​ e sapatos e casacos.

Não só compramos mais roupa do que no passado, como também só a usamos metade do tempo, de acordo com um relatório da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa. Em média, as pessoas deitam fora anualmente quase 32 quilos de sapatos e vestuário (ao invés de reciclarem ou doarem), indica o World Wear Project.

Estas estatísticas não me surpreendem. Vou todas as semanas a casa de clientes, quase todos têm demasiada roupa e não usam grande parte. Eu percebo que a roupa é uma expressão das nossas personalidades e as pessoas gostam de usar coisas bonitas; é uma parte importante da nossa identidade. No entanto, também devemos considerar o impacto que a constante rotação de vestuário tem no nosso planeta.

Toda a gente já o fez: encomenda-se um artigo em diferentes tamanhos, mas nunca se devolvem os que não servem. Compra-se algo que não se precisa porque é barato ou esbanja-se numa peça que só se irá vestir uma vez. Nenhuma destas decisões é monumental por si só, mas o efeito cumulativo de milhões de pessoas a fazerem-no repetidamente por semanas, meses ou anos está agora a ser considerado, quer por consumidores, quer pela indústria de moda, um desperdício a precisar de mudança.

A pandemia do novo coronavírus forçou muitos de nós a mudar a forma e o que consumimos, e porque ainda estamos a passar muito tempo em casa, agora é um momento oportuno para reavaliar os nossos armários e ponderar algumas mudanças importantes na forma como compramos roupas.

Comprar menos e de forma inteligente

Fazer menos compras vai ajudar-te a simplificar o teu armário e a tua rotina matinal. Além disso, criar um guarda-roupa apenas com artigos de qualidade de que gostas e usas traduz-se em passar menos tempo à procura de peças, organizar o que tens e doar os artigos que já não queres. Também não vais poupar no tempo e no trabalho de receber encomendas pelo correio, experimentar peças para depois, potencialmente, ter uma pilha de itens para devolver. Como costumo dizer: é difícil manter a casa organizada com um fluxo constante de artigos a entrar.

Pensa em criar um “guarda-roupa cápsula”, uma colecção bem cuidada de peças básicas que vestes regularmente, em que cada peça fica bem com todas as outras peças. Este conceito pressupõe comprar itens de melhor qualidade, mais sustentáveis e, sim, provavelmente mais caros que vão durar mais tempo. Mesmo sem pandemia, a maioria das pessoas usa as mesmas duas dúzias de artigos regularmente e raramente toca no resto.

Comprar em segunda mão é fácil e trendy, e é uma boa maneira de reduzir a pegada ecológica no que concerne à compra de vestuário. Tanto as lojas online como as de rua estão a aumentar de popularidade, tal como os espaços vintage e solidários, o que significa que um inventário usado de qualidade está prontamente disponível a preços razoáveis.

Um número crescente de empresas também se está a focar na criação de vestuário sustentável. Faz alguma pesquisa antes de fazeres uma compra para saberes onde as marcas estão a adquirir os seus materiais, o que é que os seus fornecedores estão a fazer em termos de eficiência energética e se estão a utilizar redes de fornecedores locais para reduzir as suas pegadas de carbono. Toda esta informação é facilmente encontrada em muitos dos sites dos retalhistas.

A organização importa

Muitas vezes, as pessoas compram artigos que não precisam porque não sabem o que têm. Se queres ser um consumidor de vestuário mais responsável, começa por ordenar o teu guarda-roupa. Põe de lado as peças que já não queres para reciclar ou doar, depois organiza as que ficam. Separa-as por categorias e dobra-as ou guarda-as de forma a que as possas ver a todas, ou pendura-as em diversos tipos de cabides. Ambas as práticas ajudam a reduzir a confusão visual, para que possas encontrar os artigos sem muito esforço. Por outras palavras: torna a “compra” no teu armário mais fácil, em vez de estares sempre a comprar artigos novos. 

Deve ser fácil encontrar e arrumar a roupa. Se não tiveres espaço suficiente no armário ou na gaveta para acomodar tudo, tens duas opções: livra-te de mais artigos ou cria espaço adicional. 

Pensa em fazer uma lista do que tens de substituir, e tenta segui-la. Se estiveres a organizar uma pilha de t-shirts ou calças de ioga, não precisas de mais. Sê metódico na forma como fazes compras em vez de adicionar peças ao carrinho sem pensares se precisas delas.

Doa, recicla de forma responsável

Há muitas opções para te veres livre, de forma responsável, de roupas que já não queres. Nenhuma delas é muito difícil ou morosa, e todas são preferíveis a deitar roupa para o lixo. 

Se tens um artigo que é novo ou está em bom estado, considera deixá-lo à consignação numa loja online ou local. Há muitas opções populares e fáceis online, incluindo ThredUp, RealReal e Poshmark, mas se quiseres apoiar um pequeno negócio local procura uma loja na tua comunidade.

As empresas estão cada vez mais a disponibilizar programas que facilitam a reciclagem da tua roupa velha. A Nordstrom tem pontos de recolha em algumas das suas lojas e aceita itens por email. A Madewell aceita calças de ganga velhas e recicla-as. E a Patagonia recebe os seus antigos produtos por correio. Muitas outras empresas oferecem serviços similares. Consulta os sites para informações adicionais. 

Se nenhuma destas alternativas é possível, mas os artigos estão em boas condições, doa a uma instituição de caridade. Mas não deixes que esta opção seja uma desculpa para continuar a comprar em excesso. Até os centros de doação estão sobrecarregados e lutam para processar todas as roupas recebidas. 

A indústria da moda está a enfrentar mudanças importantes na forma como se fabrica o vestuário e está E todos podemos fazer parte do esforço global para reduzir o desperdício com apenas um pequeno esforço adicional, organizando os nossos roupeiros, comprando menos, mas de forma inteligente, e descartando de forma responsável.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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