Marie Kondo: a paranóica das arrumações entrou na minha casa e isto foi o que aprendi

Milhões de pessoas aplicaram o método de Marie Kondo nas últimas semanas, decidindo assim entrar no caminho do desapego emocional de inúmeros bens materiais. Juntei-me também a esta febre que e conto-vos o que aprendi de útil e tudo aquilo que acho utópico.

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Arrumo, logo existo e sou feliz — é este o lema da japonesa do momento, Marie Kondo, que se tornou absolutamente viral com a série da Netflix A Magia da Arrumação

Milhões de pessoas aplicaram o método de Marie Kondo nas últimas semanas, o "Konmari", decidindo assim entrar no caminho do desapego emocional de inúmeros bens materiais. Juntei-me também a esta febre que se instalou no Instagram e no Pinterest e vou contar-vos o que aprendi de útil e tudo aquilo que acho utópico ou que são apenas conselhos para inglês ver, muitos deles compilados nos vários livros que já lançou.

Vivo sozinha, no entanto tinha duas pessoas distintas dentro do meu armário — a que há um ano e meio pesava mais 20 quilos, e a de hoje. Viver sozinha é aliás uma grande vantagem para a aplicação método de Kondo, que nos aconselha a fazer a arrumação dos nossos armários e da nossa vida sem a presença de familiares, aspecto vital com o qual concordo. Porque vai sempre existir alguém que nos vai dizer que vamos ter pena de perder uma certa peça ou artigo. Não fazem por mal mas a verdade é que depositam em nós muitas vezes "sementes negras" em relação às nossas decisões ou pensamentos, manipulando as nossas acções e gerando nos nossos corações um monte de ansiedade e inseguranças. Portanto, se queres arrumar a tua casa e, quem sabe, a tua vida, assegura-te que o fazes sozinho, sem influências externas.

Mergulhando no meu armário, decidi ver-me livre daquela dead zone que remetia para o meu "eu antigo". Da esquerda para a direita as peças de roupa foram reorganizadas e tudo ficou bem mais bonito, leve e feliz. Sobretudo porque de manhã torna-se mais fácil escolher o que vou vestir.

Descobri também com Kondo a vantagem de dobrar os inúmeros lenços e cachecóis na vertical, dentro das caixas de arrumação que comprei para o efeito, sendo agora mais fácil escolher e, sobretudo, variar o que quero usar. Um aspecto a destacar nos conselhos da japonesa, que provocou o aumento das vendas deste tipo de caixas, é que não é necessário adquirir novas — as caixas dos nossos sapatos são uma excelente opção. Quanto às calças, não fiquei convencida com este processo, que encorrilha os tecidos mais finos.

A gaveta das meias ganhou vida com a dobragem de Kondo, sobretudo para mim que, quando tenho de vestir um uniforme médico, gosto de utilizar as mais excêntricas (aquelas com bonecos ou pintas e afins). A gaveta da lingerie também ficou bem mais apresentável: é certo que nós, mulheres, temos sempre preferência por aqueles três soutiens já mais antigos para o quotidiano, no entanto a organização destes itens fica melhor com as dicas de Kondo. 

Na próxima mala de viagem vou, seguramente, apostar na dobragem vertical das peças, economizando no espaço — e que jeito dará, pois levo para estadias de uma semana o mesmo que para 15 dias. Em relação aos livros, não cedi ao desapego emocional e não fiquei com apenas 30 livros como nos aconselha Kondo. Apenas fiz uma coisa que faço há anos: ordenei os livros que já li e gostei muito, que são por norma os que gosto de fazer rodar por determinadas pessoas. Achei também interessante testar aquilo que utilizo durante um ano ao colocar os cabides todos no mesmo sentido, devolvendo a roupa ao armário no sentido oposto. Estou curiosa para verificar que peças vão sempre ficar no sentido inicial, o que significará que não as usei e posso descartar. 

No final desta arrumação, senti-me naturalmente mais leve até porque me vi livre daqueles objectos repletos de carga emocional de relações afectivas passadas, mas sejamos sinceros: não é novidade nenhuma a sensação de leveza após uma grande arrumação em casa, com ou sem Marie Kondo; e muitos dos truques não são uma novidade para as boas mães portuguesas, as autênticas Marie Kondos das nossas vidas. Como em tudo, santos da casa não fazem milagres e, graças a este fenómeno, milhares de lojas de roupas em segunda mão e associações de caridade atingiram números históricos.

No final da arrumação, confesso-vos que fui buscar alguns dos meus papéis e desordenei-os na secretária porque o excesso de arrumação irritou-me. Essa é, aliás, uma das coisas que não aprecio na cultura japonesa, a qual já elogiei por aqui — considero que o excesso de disciplina limita a criatividade do ser humano e aprisiona aquilo que faz de cada pessoa única e apaixonante. Não vejo felicidade alguma em entrar numa casa na qual parece que ninguém lá vive, mas também não gosto, obviamente, da desordem.

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