Morreu Alberto Grimaldi, produtor de Sergio Leone, Fellini e Scorsese

Esteve por trás dos western spaghetti que marcaram a carreira de Clint Eastwood, mas também trabalhou com Pasolini e Bertolucci, tendo o seu nome ligado ao renascimento do cinema italiano nas décadas de 60 e 70.

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Alberto Grimaldi morreu aos 95 anos em Miami DR

Alberto Grimaldi, o advogado-produtor italiano que impulsionou o cinema popular e de género, mas também a carreira de autores maiores como Sergio Leone, Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini e Bernardo Bertolucci nos anos do pós-Segunda Guerra Mundial, morreu no passado sábado, na sua casa de Miami, Estados Unidos, aos 95 anos.

A notícia foi dada pela revista Variety. “Nós amávamo-lo, ele era uma presença muito forte, e deixou um legado cinematográfico notável”, disse àquela publicação especializada Maurizio Grimaldi, um dos seus três filhos.

O seu nome está, de facto, fortemente ligado à época de ouro dos filmes italianos das décadas de 60 e 70 – assinados por Fellini, Pasolini e Bertolucci –, com reflexos na indústria europeia e também do outro lado do Atlântico, por via do trabalho com Sergio Leone. Produziu alguns dos filmes maiores do western spaguetti que viriam a firmar a figura e a fama de Clint Eastwood, protagonista de Por Mais Alguns Dólares (1965) e, principalmente, de O Bom, o Mau e o Vilão (1966), sendo este um título fundamental não apenas de um género, mas também de uma estética, muitas vezes associada ao imaginário e ao tempo do espectáculo operático.

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Alberto Grimaldi nasceu em Nápoles, a 28 de Março de 1925. Formou-se e instalou-se como advogado na sua cidade natal, mas cedo decidiu estender o seu escritório a Roma. Uma decisão que haveria de mudar a sua vida, por via do convite que lhe foi feito para acompanhar, como consultor jurídico, as produções que grandes companhias de Hollywood, como a Columbia, primeiro, e a Fox, depois, deslocaram na década de 1950 para os estúdios da Cinecittà e para outros países europeus.

Vendo aí uma janela de oportunidade para voos mais entusiasmantes do que a advocacia, Grimaldi decidiu lançar-se na produção em nome próprio. Em 1961, funda a empresa Produzioni Europee Associati (PEA), ainda com base em Nápoles. E é com ela que se aventura num primeiro filme ainda algo anedótico, A Sombra de Zorro (1962), realizado pelo espanhol Joaquin Luis Romero Marchent, e interpretado já pelo actor americano Frank Latimore. Mas seria o encontro com Sergio Leone, no segundo e terceiro capítulos da trilogia protagonizada por Clint Eastwood, que haveria de marcar a sua carteira e carreira de produtor.

Nas três décadas seguintes, em paralelo com o western spaghetti e outros filmes de género rodados entre os estúdio romanos da Cinecittà e as paisagens espanholas de Almería, Grimaldi associou-se aos nomes maiores do emergente cinema italiano: Fellini, para quem produziu Satyricon (1969), Casanova de Fellini (1976) e Ginger e Fred (1986); Pasolini, com quem fez Decameron (1971), Os Contos de Cantuária (1972) e o polémico Salò ou os 120 Dias de Sodoma (1975); e Bertolucci, com o também controverso O Último Tango em Paris (1972) e 1900 (1976).

“Apesar da diversidade das suas produções, que poderia levar-nos a colocar em dúvida a solidez da sua linha estética, [Alberto Grimaldi] defendeu sempre a liberdade de expressão contra a censura”, escreveu a propósito da sua morte o crítico de cinema do Le Monde Philippe Ridet.

Em paralelo com a sua actividade de impulsionador do cinema italiano, Grimaldi trabalhou igualmente com realizadores de outras latitudes geográficas e estéticas, como Billy Wilder (Amantes à Italiana, 1972) ou Arthur Hiller (O Homem de la Mancha, 1972), tendo terminado a sua carreira, depois do longo hiato que se seguiu a Ginger e Fred, com o filme de Martin Scorsese Gangues de Nova Iorque (2002), que co-produziu com o agora caído em desgraça Harvey Weinstein. Seria esse título a dar-lhe a sua única nomeação para um Óscar da Academia de Hollywood.

Além dos mais de 80 filmes que produziu, houve outros que Grimaldi recusou fazer, e o mais notado – lê-se no site Internet Movie Database – é sem dúvida Era Uma Vez na América (1984), o último opus de Sergio Leone. O produtor achou o projecto demasiado longo (eram cinco horas na versão original, que os produtores americanos conseguiram depois reduzir para cerca de metade, na cópia que chegaria aos grandes ecrãs), e não gostou da personagem Noodles (Robert De Niro), que considerou demasiado negativa para o público americano: “Ele viola uma mulher e mata pessoas sem qualquer razão para isso”, argumentou então.

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