Trabalhores da Cinecittà receiam fim dos estúdios

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Estúdios italianos foram ocupados pelos trabalhadores que se opõem aos planos de reestruturação (AFP)

Segunda-feira, os trabalhadores da Cinecittà ocuparam os históricos estúdios italianos em protesto contra os planos de reestruturação da sociedade proprietária, a Cinecittà Studio Spa (IEG). Estão em greve, apoiados pela CGIL, a mais importante organização sindical italiana, para tentar impedir a transferência para outras empresas de várias funções asseguradas pelos estúdios. Afirmam que tal representará o seu fim enquanto centro de produção cinematográfica.

Ontem em França, realizadores como Costa-Gavras, Cédric Klapisch ou Claude Lelouch lançaram uma petição solidarizando-se com os trabalhadores. A agência francesa AFP avança que a ARP, a sociedade francesa de autores, realizadores e produtores, insta as autoridades europeias "a proteger e classificar este monumento histórico da cultura".

Antes, já a ANAC, a associação italiana de realizadores, demonstrara o seu apoio à greve em carta enviada ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, e ao primeiro-ministro Mario Monti. "Os planos de reestruturação antecipam, por um lado, o desmantelar das actividades cinematográficas no local e, por outro, a construção de hotéis e ‘health-clubs', pondo em movimento a política de betão na exploração da zona, discutida pelas grandes construtoras da região há algum tempo", lia-se na carta, citada pelo Screen Daily.

"É urgente destruir este local inseparável do cinema de Fellini, Visconti, Comencini, Lattuada, entre outros, para construir um centro de fitness? Emagrecer às custas do património e da cultura, todo um simbolismo: mesmo com Berlusconi, não o tinham ousado!", escreve, por sua vez, a ARP, citada pela AFP.

Nos anos 1950 e 1960, a Cinecittà e os seus técnicos proporcionavam um trabalho de qualidade a um baixo custo (para padrões americanos), o que atraía até si as grandes produtoras americanas, que ali filmaram Ben-Hur ou Cleópatra. Hoje, é a vez de a Cinecittà enfrentar a concorrência proporcionada pelos estúdios no leste europeu. Gangues de Nova Iorque e, mais recentemente, a série Rome, foram das últimas grandes produções a ter lugar nos 40 hectares da Cinecittà.

As dezenas de trabalhadores em greve, muitos com décadas de ligação aos estúdios inaugurados em 1937 por Mussolini para estimular o cinema italiano e onde, décadas depois, Fellini filmaria A Doce Vida ou Satyricon, receiam ser obrigados a mudar de actividade e de empresa. Segundo o Screen Daily, a Italian Entertainment Group (IEG), maioritária na sociedade proprietária dos estúdios, planeará a transferência dos trabalhadores de pós-produção na Cinecittà Digital Factory para a Deluxe Entertaintment Services Group, sedeada em Hollywood. Vários outros técnicos passariam a trabalhar para a Panalight, empresa italiana de equipamento cinematográfico. Cerca de 50 operários de construção, responsáveis pela montagem dos cenários, seriam, por sua vez, transferidos para os terrenos onde nascerá o Cinecittà World, projecto inspirado no parque temático Universal Studios Hollywood, a instalar no local onde antes se erguiam os Roma Studios, fundados pelo produtor Dino De Laurentiis na década de 1960 e adquiridos pela IEG em 2004.

A Cinecittà Studio Spa argumenta que, para assegurar o futuro dos estúdios, as mudanças anunciadas são indispensáveis. Para ser competitivo, cita a AFP, será obrigatório passar de "uma empresa integrada que cobre a totalidade dos serviços necessários" para uma "organização diferente da produção".

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