Bolsonaro “será varrido do mapa em 2022”, diz Frei Betto

A pandemia deixou claro que o Brasil é “um país desgovernado”, com quase 200 mil mortos “vítimas” de um Presidente obcecado com a morte. Para Frei Betto, Lula “seria um óptimo candidato” à presidência em 2022.

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Frei Betto foi conselheiro do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Rafael Perez/Reuters

Para o dominicano Frei Betto, o desprezo do Governo brasileiro face à pandemia de covid-19 causou “um genocídio” que “deveria suscitar grandes mobilizações populares”. Mas os brasileiros parecem sofrer “de isolamento psicológico” e perderam a empatia – “o sofrimento do outro não dói em nós”, diz o frade numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo a propósito da publicação do seu último livro, Diários de Quarentena – 90 dias em Fragmentos Evocativos.

O livro reúne reflexões escritas nos primeiros três meses de pandemia. “Ficou óbvio que vivemos num país desgovernado, cujos quase 200 mil mortos pela pandemia foram vítimas de um Presidente que sofre de tanatomania [obsessão pela morte]”, responde quando questionado sobre as lições a retirar deste período. Apesar de tudo, pede, “devemos deixar o pessimismo para dias melhores”.

O intelectual e jornalista, autor de 69 livros, acredita que “tudo o que os demolidores, como BolsoNero [como trata o Presidente Jair Bolsonaro, em referência ao imperador de Roma], querem é que percamos o ânimo e fiquemos à mercê dos seus arroubos autoritários”. Mas a realidade mostra um caminho diferente.

Lembrando os resultados das eleições municipais de Novembro, Frei Betto sublinha que “o bolsonarismo foi o grande derrotado” e “será varrido do mapa em 2022”.

“Quando constato que, numa cidade conservadora como São Paulo, Guilherme Boulos passou para segundo turno e teve mais de 2 milhões de votos, a esperança renasce”, acrescenta. Boulos, candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), disputou a segunda volta com o “prefeito”, Bruno Covas, reunindo os votos de muitos eleitores de esquerda órfãos do Partido dos Trabalhadores (PT), e impôs-se como figura incontornável da esquerda.

Aliás, Frei Betto considera que a esquerda brasileira tem vários “óptimos candidatos” para as presidenciais de 2022, incluindo Boulos e Lula da Silva, devendo unir-se em redor de um deles. Quando questionado em particular sobre uma candidatura do ex-Presidente, diz que “seria um óptimo candidato”.

O actual consultor da ONU para questões de soberania alimentar e educação nutricional, que esteve ligado ao Governo de Lula no programa Fome Zero, considera que “a fome é o retrato mais cruel da desigualdade social no Brasil”. Com 5,2 milhões de pessoas a passarem fome actualmente, “sem contar os que não ingerem nutrientes essenciais”, o país “corre o risco de retornar” ao mapa da fome, de onde saiu em 2014, avisa. “Apesar disso, o Governo Bolsonaro erradicou o Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional] e mantém total indiferença à questão da segurança alimentar”, denuncia.

Um dos nomes centrais da Teologia da Libertação, Frei Betto recorda a eleição de Bolsonaro, em 2018, como “uma tragédia consentida”, já que defende que a Justiça deveria ter impedido a candidatura de um “apologista da tortura, da ditadura, do racismo, da misoginia e do golpismo”.

Defendendo o fortalecimento dos movimentos sociais, diz que foi em parte “o afastamento dos partidos progressistas das periferias, favelas e zonas rurais pobres”, assim como “o refluxo das comunidades eclesiais de base” durante os pontificados conservadores de João Paulo II e Bento XVI, a abrir espaço “ao fundamentalismo religioso que alavancou a eleição de BolsoNero”.

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