Comboio operário para Guifões evidencia potencial da linha de Leixões para transporte de passageiros

CP inaugurou nesta segunda-feira um comboio regular entre Contumil e as oficinas de Guifões para transporte do seu próprio pessoal.

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LUSA/ESTELA SILVA
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Um comboio operário parece uma coisa do século XIX, mas continua a fazer sentido no século XXI. O que a CP inaugurou nesta segunda-feira, entre Contumil e Guifões, é feito por uma moderna automotora eléctrica que faz aquele percurso em 14 minutos, duas vezes por dia, para transportar o pessoal que trabalha nas oficinas da CP e do Metro do Porto.

Até Dezembro a empresa pagava 7000 euros por mês pelo aluguer de um autocarro que transportava o seu pessoal desde a estação de Ermesinde até Guifões, o qual estava muitas vezes sujeito a demoras devido aos congestionamentos do trânsito.

Com a solução ferroviária, a CP utiliza os seus próprios recursos. A composição utilizada, bem como o maquinista e o revisor que fazem parte da sua tripulação, não fazem este serviço em exclusivo, seguindo depois para outras rotações comerciais em serviço de passageiros.

O novo comboio é utilizado por 70 a 80 passageiros-trabalhadores, com tendência a aumentar pois outros operários de Guifões deverão vir a optar por esta solução devido ao seu conforto, fiabilidade e rapidez.

Na viagem inaugural estiveram o secretário de Estado dos Transportes, Jorge Delgado e o presidente da CP, Nuno Freitas. Em rigor, não se tratou de uma inauguração pois até 2005 funcionava também um comboio operário entre Guifões e Ermesinde. As oficinas viriam a fechar e agora, um ano depois da sua reabertura, a CP reactiva também uma marcha para transporte do pessoal, mas desta vez para Contumil.

Em declarações ao PÚBLICO, Jorge Delgado diz que “este comboio tem uma carga simbólica muito relevante porque transporta trabalhadores para uma oficina que, há muito pouco tempo, estava fechada e que se transformou num exemplar espaço de manutenção e recuperação de material circulante”.  

O governante refere também o “simbolismo da troca de um modo de transporte rodoviário convencional para um modo de transporte ambientalmente mais sustentável, tema de importância incontornável nos tempos que vivemos”.

Questionado sobre se este serviço de passageiros pode abrir caminho para a reabertura desta infra-estrutura para serviço comercial, Jorge Delgado diz que “a experiência da sua abertura ao serviço público, tal como se encontra atualmente, já foi feita e não resultou”. Um crítica implícita à sua antecessora, Ana Paula Vitorino, que em 2009, a poucas semanas das eleições legislativas, inaugurou um serviço de “navette” entre Ermesinde e Leça do Balio, que se revelou um fiasco devido à fraca procura.

O actual secretário de Estado diz que “é necessário redesenhar esta linha no que diz respeito à localização das suas estações e ao seu interface com três das linhas do metro do Porto [linha da Póvoa, linha da Maia e linha Amarela] e avaliar a bondade da ideia de complementar a linha de Leixões com novas funcionalidades, como sejam o acesso ao aeroporto Francisco Sá Carneiro ou à Exponor”.

Trata-se de um trabalho que o governante diz que deve ser feito “em absoluta articulação com a área Metropolitana do Porto e com a sua estratégia de mobilidade”. Mas não deixou de sublinhar que “Leixões é uma linha com muito potencial no contexto da mobilidade da área metropolitana do Porto”.

Em 2018 o PS e o PCP fizeram aprovar na Assembleia da República propostas para a reabertura da linha do Leixões, ideia que também agrada à Câmara de Matosinhos, embora a sua presidente, Luísa Salgueiro, se mostre também cautelosa devido aos maus resultados da aventura de 2009 que falhou devido à falta de ligações com outros modos de transporte e a um inoportuno transbordo em Ermesinde.

Numa futura abordagem o aproveitamento da linha de Leixões teria de ter em conta pólos geradores de tráfego como o Hospital de S. João (Arroteia), o campus universitário da Asprela e as ligações aos metro do Porto e linhas dos STCP.

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