Linha da Beira Alta vai fechar para obras mas velocidade dos comboios não vai aumentar

Obras de 550 milhões de euros destinam-se essencialmente ao serviço de mercadorias e não contemplam aumentos de velocidades para os comboios de passageiros. Beira Baixa vai ser alternativa enquanto durarem os trabalhos.

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ADRIANO MIRANDA

A Assembleia Municipal da Covilhã aprovou uma moção a pedir um “impulso à conectividade ferroviária da Beira Interior” com o litoral e o Norte através de comboios directos desde a Beira Baixa para Coimbra, Aveiro, Porto e Braga. Tecnicamente tal será possível a partir do início de 2021 quando reabrir o troço Covilhã – Guarda e os comboios da Beira Baixa puderem prosseguir viagem, pela Beira Alta, para o Centro e Norte do país.

Mas isso só acontecerá durante uns meses porque no quarto trimestre de 2021 a linha da Beira Alta vai encerrar entre a Pampilhosa e Guarda para sofrer uma gigantesca intervenção que se vai prolongar durante nove meses.

Deste modo, a Beira Baixa - que desde 2009 está sem comboios entre Covilhã e Guarda porque o troço fechou para obras e tardou 11 anos em reabrir –, vai ter que esperar, no mínimo, até ao Verão de 2022 para poder estar novamente ligada à Beira Alta e aos destinos para os quais os autarcas da Cova da Beira desejam agora que haja comboios directos.

Mas as obras que vão suspender a circulação de comboios na Beira Alta nem sequer se vão traduzir num aumento da velocidade das composições nem na redução dos tempos de percurso. Nove meses depois de uma intervenção que ronda os 500 milhões de euros, a linha reabrirá com o mesmo traçado, as mesmas curvas, embora dotada de um moderno sistema de sinalização e telecomunicações, bem como de um conjunto de pontos de cruzamento que vão permitir maior fluidez aos comboios de mercadorias com 740 metros.

O próprio documento do Ferrovia 2020 que explica a modernização da Beira Alta refere que o investimento vai permitir a “recuperação dos tempos de trajecto dos serviços de passageiros de longo curso”. Ou seja, a velocidade dos comboios que nos últimos anos tem vindo a ser reduzida devido à degradação da infra-estrutura, aumentará, de facto, mas apenas até aos mesmos patamares que já existiram.

Por outro lado, a linha já era electrificada e o investimento anunciado não passa de uma RIV (Renovação Integral de Via), embora haja algum valor acrescentado nos sistemas de sinalização e telecomunicações porque a Beira Alta passará a ficar interoperável nessa área através do sistema ETRMS, comum ao resto da Europa.

No terreno a Beira Alta já tem algumas obras em curso, mas a Infraestruturas de Portugal optou por encerrar a linha durante nove meses a fim de que estas não se eternizassem caso a opção fosse realizá-las com a via aberta à exploração, o que implicava trabalhar apenas em período nocturno.

Segundo o Ferrovia 2020, estes trabalhos deveriam ter tido início em 2018 para ficaram concluídos em Dezembro de 2019. Mas mal começaram. E é aqui que caem por terra as pretensões da Covilhã em ter comboios directos para o Norte do país.

“A Assembleia Municipal da Covilhã entende que a CP deve introduzir um novo serviço Intercidades Covilhã – Guarda – Aveiro – Porto – Braga”, lê-se no documento aprovado por todos os partidos. E sugere ainda a extensão do Intercidades Lisboa – Coimbra – Guarda para a Covilhã, justificada pelos “fortes laços económicos, académicos e culturais entre a Cova da Beira e Coimbra”.

Hélio Fazendeiro, presidente daquele órgão autárquico, diz que estas reivindicações são “bastante consensuais” na região e que a Guarda, Fundão, e Castelo Branco têm tido posições conjuntas sobre esta matéria, devendo também a própria Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE), em breve, pronunciar-se sobre a melhoria das ligações ferroviárias.

A ideia é criar também “um serviço regional rápido e confortável”, com intervalos de 30 minutos, nas deslocações no eixo Guarda – Covilhã – Fundão – Castelo Branco. E atendendo a que foi construída uma variante na Guarda que permite a continuidade dos comboios directamente a Vilar Formoso (sem ter que inverter o sentido da marcha na estação da Guarda), a mesma moção propõe a extensão do Intercidades Lisboa – Covilhã até Salamanca, “assegurando-se nesta cidade as ligações a Madrid”.

Mais: a Beira Interior quer que o Sud Expresso seja reposto com urgência e passe pela Beira Baixa (em vez da Beira Alta como acontece desde o séc. XIX) porque “ao contrário das regiões do Litoral, a Beira Interior está distante dos maiores aeroportos internacionais, o que faz do Sud Expresso um elo crucial na relação com as nossas comunidades”.

Mas também aqui a sorte não bafeja as pretensões desta região. Contactada a CP, esta respondeu ao PÚBLICO que a oferta do serviço regional na Cova da Beira “só é possível implementar após a aquisição dos 129 novos comboios anunciados pelo governo” (que incluem 55 regionais), ou seja, nunca antes de 2024 ou 2025. E quanto ao prolongamento do Intercidades para Salamanca, a resposta é lacónica: “o material circulante que a CP utiliza nos comboios Intercidades não está homologado para circular em Espanha”.

Ou seja, em 2021, quando reabrir o troço Covilhã – Guarda, só haverá mais comboios a circular ...entre a Covilhã e a Guarda.

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