Em rota de colisão com Trump, procurador-geral dos EUA admite sair antes do tempo

William Barr tem sido criticado pelo Presidente dos EUA por ter dito que não encontrou provas de fraude eleitoral generalizada. Donald Trump foi questionado sobre se mantém a confiança no seu procurador-geral e não quis responder.

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William Barr substituiu Jeff Sessions, que também entrou em conflito com o Presidente dos EUA Yuri Gripas

O procurador-geral dos Estados Unidos da América, William Barr, admite abandonar o cargo nas próximas semanas, antes da tomada de posse do Presidente eleito, Joe Biden. Segundo os jornais norte-americanos, Barr começou a ponderar a saída logo após a eleição presidencial de 3 de Novembro, mas as críticas que tem recebido do Presidente Donald Trump, na última semana, podem acelerar a sua decisão.

A relação entre Barr e Trump arrefeceu nos últimos dias, depois de o procurador-geral ter dito, numa entrevista à agência Associated Press, que o seu Departamento de Justiça ainda não encontrou provas de fraude generalizada na eleição presidencial.

Trump e pelo menos dois dos seus advogados, Rudy Giuliani e Jenna Ellis, têm dito, em conferências de imprensa e no Twitter, que a vitória de Joe Biden foi alcançada com o recurso a fraude em seis estados (Arizona, Nevada, Michigan, Wisconsin, Pensilvânia e Georgia), onde o candidato do Partido Democrata foi o mais votado.

Mais de um mês depois da eleição, todos os seis estados em causa – e a maioria dos restantes – já certificaram os seus resultados eleitorais, confirmando a vitória de Joe Biden. E, entre as mais de 40 queixas entregues em tribunal pelos advogados de Trump e outros apoiantes, nenhuma delas validou as queixas do Presidente dos EUA.

William Barr foi nomeado procurador-geral (attorney general, um misto de ministro da Justiça e procurador-geral) por Donald Trump no início de 2019, depois da demissão de Jeff Sessions

Sessions, um antigo senador do Alabama que foi um dos primeiros apoiantes da candidatura de Trump à Casa Branca, no Verão de 2015, caiu em desgraça no círculo do Presidente dos EUA nos primeiros meses de 2017.

Nessa altura, o então procurador-geral cedeu a supervisão das investigações sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 ao seu vice, Rod Rosenstein, e ficou na mira de Trump. Depois de meses de humilhação pública, com o Presidente dos EUA a dizer, em várias ocasiões, que estava arrependido de o ter nomeado, Jeff Sessions apresentou a sua demissão em Novembro de 2018.

O actual procurador-geral foi nomeado para substituir Sessions devido à sua oposição às investigações sobre as suspeitas de conluio entre a campanha eleitoral de Trump e a Rússia nas eleições de 2016. Para além disso, William Barr era, há muito, um dos maiores defensores da tese de que os presidentes dos EUA têm quase total liberdade para tomar decisões sem serem questionados pelo Congresso e pelos tribunais.

A conferência de imprensa em que apresentou, segundo a sua versão, os principais resultados das investigações do Departamento de Justiça sobre a Rússia, em Abril de 2018, foi vista pelos críticos como um branqueamento das acusações feitas no relatório final pelo procurador especial Robert Mueller.

Dias depois da conferência de imprensa, Mueller enviou uma carta à liderança do Departamento de Justiça, onde acusou o procurador-geral de “não captar na totalidade o contexto, a natureza e a substância” do relatório.

A sintonia entre Barr e Trump manteve-se até antes das eleições de 3 de Novembro, com o procurador-geral a corroborar as acusações do Presidente dos EUA de que o processo podia vir a ser fraudulento.

E, no dia 9 de Novembro, Barr autorizou o Departamento de Justiça a usar os seus recursos na investigação das queixas de fraude feitas por Trump – apesar da garantia do próprio governo de que as eleições tinham sido as mais seguras de sempre, e sem indícios de que as acusações fossem mais do que queixas infundadas.

A relação parece ter estourado na terça-feira da semana passada, quando William Barr tomou a iniciativa de falar com a Associated Press sobre os resultados das investigações. Ao confirmar que, para além dos problemas habituais, não foram encontrados indícios de fraude generalizada que pusessem em causa a vitória de Joe Biden, o procurador-geral viu-se numa posição semelhante à do seu antecessor.

A entrevista de Barr à Associated Press foi publicada poucos dias depois de Trump ter sugerido, numa entrevista no canal Fox News, que o próprio Departamento de Justiça e o FBI estariam envolvidos na suposta fraude.

E, na última quinta-feira, na Casa Branca, o Presidente dos EUA voltou a queixar-se da forma como o seu procurador-geral estava a gerir as investigações. “Ele não tem feito nada”, disse Trump, acrescentando que o Departamento de Justiça e o FBI “não têm investigado com muita vontade, o que é uma desilusão”.

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