Funcionário dos correios que falou em fraude eleitoral mentiu, dizem investigadores

Richard Hopkins, funcionário dos correios em Erie, Pensilvânia, dizia que datas dos boletins de voto tinham sido alteradas. Admitiu agora que as afirmações, que têm sido citadas por republicanos como possíveis provas de irregularidades nas presidenciais, não eram verdadeiras.

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MICHAEL REYNOLDS/EPA

Um funcionário dos correios da Pensilvânia, cujo relato tem sido citado por vários republicanos como possível prova de supostas irregularidades durante as votações das presidenciais nos Estados Unidos​, admitiu aos investigadores do Serviço Postal dos EUA que as suas afirmações, afinal, não são verdadeiras. A notícia é avançada esta quarta-feira pelo The Washington Post, que cita três funcionários que estão por dentro da investigação e um comunicado de um comité da Comissão do Congresso.

Richard Hopkins, funcionário dos correios na cidade de Erie, no estado da Pensilvânia, afirmou que o chefe dos correios estava a instruir os restantes trabalhadores a alterarem a data dos boletins de voto, e foi citado pelo senador Lindsey Graham numa carta enviada ao Departamento de Justiça. Graham pedia que fosse aberta uma investigação federal a estas “irregularidades”.

Esta segunda-feira, o attorney general dos Estados Unidos (equivalente a ministtro da Justiça), William Barr, deu autorização aos procuradores federais para investigarem as alegações do Presidente Donald Trump sobre uma suposta fraude eleitoral. Poucas horas após o anúncio, o responsável pela investigação a crimes eleitorais, Richard Pilger, demitiu-se.

Hopkins, de 32 anos, acabou por dizer aos investigadores que as denúncias não eram verdadeiras e assinou uma declaração a retractar-se, de acordo com os três funcionários que falaram ao jornal norte-americano sob a condição de anonimato e que descreveram esta investigação, ainda em curso. Os democratas do Comité de Supervisão da Câmara escreveram esta terça-feira no Twitter que o “denunciante negou as suas alegações e não explicou o porquê de ter assinado uma declaração falsa”.

Funcionário nega ter voltado atrás na sua palavra

O funcionário não respondeu aos pedidos de contacto do The Washington Post, mas esta terça-feira, num vídeo que publicou no YouTube, nega ter dito que as suas denúncias eram falsas. “Estou aqui para dizer que não renunciei às minhas declarações. Isso não aconteceu e vão descobrir amanhã”, disse Hopkins.

O chefe dos correios de Erie, Rob Weisenbach, rotulou as alegações de “100% falsas” numa publicação no Facebook e disse que estas foram feitas por “um funcionário que foi punido várias vezes nos últimos dias”. “Os correios de Erie não alteraram qualquer data dos boletins de voto”, escreveu Weisenbach. Hopkins foi escoltado do posto dos correios na tarde de segunda-feira e instruído a não regressar até que a investigação estivesse concluída.

Esta terça-feira, o escritório do inspector-geral dos Correios informou os membros do Congresso que Hopkins tinha voltado atrás na sua palavra, reporta ainda o jornal, que cita um assessor do Congresso. Os investigadores dizem que entrevistaram o funcionário pela primeira vez na sexta-feira.

Trump, que aspirava a um segundo mandato presidencial, tem vindo a lançar acusações não fundamentadas de fraude eleitoral e “irregularidades” em mais dez estados norte-americanos e a pôr em dúvida a legitimidade de todo o sistema de voto por correspondência. O líder republicano denunciou, sem provas, que dezenas de milhares de votos recebidos “ilegalmente” após o fecho dos locais de voto na Pensilvânia, um dos estados mais cobiçados na corrida à Casa Branca, viraram “total e facilmente” os resultados a favor do seu rival democrata Joe Biden, que venceu as eleições.

Trump e a sua equipa alegam que os eleitores que votaram por correio foram favorecidos em detrimento dos que votaram presencialmente e que os observadores republicanos foram impedidos de assistir à contagem de votos em alguns condados, uma acusação desmentida pelas autoridades locais.

Sobre o caso Hopkins, Tim Murtaugh, director de comunicação da campanha de Trump, disse que as alegações do funcionário são apenas uma pequena parte do processo da Pensilvânia. “Não sabemos que tipo de pressões tem sofrido desde que fez essas declarações de forma pública”, referiu.

Não há provas de fraude eleitoral

Trump não reconhece a vitória de Biden nas eleições de 3 de Novembro e continua a insistir, sem apresentar provas, que foi cometida uma “fraude” eleitoral e que houve “votos ilegais”.

Ao The New York Times, vários funcionários eleitorais de dezenas de estados que representam os dois partidos políticos afirmam que não há provas de qualquer tipo de fraude ou irregularidade que pudessem alterar o resultado da corrida presidencial.

O jornal contactou os escritórios das principais autoridades eleitorais em todos os estados durante os últimos dois dias para perguntar se suspeitavam ou se tinham provas ou indícios de algum tipo de votação ilegal. Os funcionários de 45 estados responderam directamente ao The New York Times e nos restantes casos o jornal falou com outras autoridades. E concluiu: nenhum afirmou existir qualquer problema durante as votações e dizem mesmo que este foi “um processo com um sucesso notável”.

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