Alterações climáticas afectam a extensão e o risco de incêndios na Europa

Portugal, Espanha e Polónia foram os países que registaram mais incêndios na UE em 2019, mas foi a Roménia, com 73 444 hectares ardidos, que sofreu maiores danos em áreas protegidas. O relatório anual do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia aponta o dedo: as alterações climáticas continuam a afectar a extensão e a gravidade do risco de incêndios na Europa.

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Rui Oliveira

No pior ano (2019) em matéria de incêndios florestais a nível mundial na história recente, arderam mais de 400 mil hectares de terrenos naturais na Europa. Foi registado um “número-recorde” de áreas naturais protegidas afectadas pelos incêndios florestais, revela a 20.ª edição do relatório anual do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia.

O estudo, divulgado a 30 de Outubro, dá conta de que os incêndios florestais “afectaram gravemente” as áreas protegidas – Rede Natura 2000 – da Europa, destruindo 159 585 hectares em 2019. Perto de metade da área total ardida na UE fazia parte destas zonas vitais para a biodiversidade.

Portugal é especialmente visado neste relatório. Entre as principais conclusões consta o facto de, a par com Espanha e Polónia, o país ter registado o maior número de incêndios na UE naquele ano. Isto, ainda que, de acordo com o Sistema Europeu de Informação sobre Fogos Florestais (EFFIS), a Roménia tenha sido o país com maiores danos nas suas áreas protegidas em 2019 (73 444 hectares de área ardida).

Em Portugal, a base de dados nacional de incêndios rurais disponibilizada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) registou, no período compreendido entre 1 de Janeiro e 15 de Outubro de 2019, um total de 10 528 incêndios rurais em Portugal. Resultado: 41 850 hectares de área ardida, entre povoamentos (21 163 hectares), matos (15 831 hectares) e agricultura (4608 hectares).

Comparando os números de 2019 com o histórico dos 10 anos anteriores, registaram-se menos 46% de incêndios rurais. E menos 70% de área ardida, relativamente à média anual do período.

Plantar três mil milhões de árvores na UE até 2030

Abstraindo dessa média, convém lembrar que 2017 foi, dos anos mais recentes, aquele que mais incêndios e área ardida contabilizou em Portugal. O ICNF dá conta de que, no período compreendido entre 1 de Janeiro e 31 de Outubro de 2017, registaram-se 16 981 ocorrências (3653 incêndios florestais e 13 328 fogachos). Resultaram em 442 418 hectares de área ardida de espaços florestais, ou seja, quatro vezes mais do que a média registada nos dez anos anteriores.

Com a publicação deste relatório, o Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, que se dedica, entre outras temáticas, a investigar, a partir de sistemas baseados em satélites, os processos de desflorestação e os incêndios, faz um alerta.

Lembra aos cidadãos, mas, sobretudo, aos governos europeus que a Estratégia para a Biodiversidade, adoptada no auge da pandemia de covid-19 no quadro do Pacto Ecológico Europeu, prevê acções para melhorar a saúde das florestas europeias. E para reforçar a resiliência aos incêndios florestais.

Estratégia pós-2020 para as florestas em 2021

Entre os objectivos plasmados no documento consta o de plantar, pelo menos, três mil milhões de árvores na UE até 2030.

Recorde-se que a Comissão deverá apresentar a Estratégia da União Europeia pós-2020 para as Florestas no início de 2021. Antevendo isso, o Parlamento Europeu já deixou um alerta, lembrando a necessidade de adoptar medidas para travar a desflorestação e incentivar a reflorestação e a florestação.

Num relatório aprovado no início de Outubro, os eurodeputados também avisaram que vai ser necessário um orçamento para financiar a investigação e inovação, com vista a tornar as florestas mais resilientes às alterações climáticas.

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