Donald Trump e a cronologia de uma infecção

Desde o sábado da apresentação da juíza para o Supremo, em que toda a gente se juntou sem máscara, até às confusões do médico do Presidente, uma semana em que a covid-19 atacou em força no centro do poder dos EUA.

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O Presidente Donald Trump a trabalhar numa sala do Walter Reed Center, o hospital militar onde está internado Joyce N. Boghosia/The White House

O Presidente Donald Trump teve uma semana de agenda carregada na semana em que foi diagnosticado com covid-19. Como normalmente os primeiros sintomas se sentem ao fim de quatro ou cinco dias, estes foram os passos dados pelo chefe de Estado norte-americano desde sábado, dia 30 de Setembro.

Sábado

Numa cerimónia muito concorrida, com gente muito junta e sem máscara, Trump apresentou a sua nomeada para o Supremo Tribunal, a juíza Amy Coney Barrett, no Rose Garden da Casa Branca. Várias pessoas que estiveram presentes na cerimónia deram positivo para o coronavírus, incluindo os senadores Mike Lee, Ron Johnson e Thom Tillis, o presidente da Universidade de Notre Dame, John Jenkins, a antiga conselheira do Presidente Kellyanne Conway e Chris Christie, ex-governador de Nova Jérsia e actual assessor de Trump.

Trump dá um comício em Harrisburg, Pensilvânia, para milhares de apoiantes, muitos deles sem máscara.

Domingo

Trump vai até ao seu campo de golfe em Sterling, Virgínia, antes de à tarde dar uma conferência na sala de imprensa da Casa Branca. À noite, o Presidente e a primeira-dama, Melania Trump, dão uma recepção para familiares de militares mortos no cumprimento do dever.

Segunda

A Lordstown Motors leva uma pick-up até à Casa Branca para o Presidente observar. Dois membros do Congresso e três representantes da marca, do Ohio, estão presentes no evento.

Donald Trump anuncia no Rose Garden da Casa Branca a distribuição de milhões de kits de teste do coronavírus aos estados. Membros da Administração, do Congresso, dos estados e o vice-presidente, Mike Pence, estão presentes.

Terça

O Presidente viaja até Cleveland para participar no debate com o candidato do Partido Democrata à presidência, Joe Biden. Os dois candidatos são mantidos à distância recomendada pelas autoridades de saúde e não se cumprimentam, mas durante os 90 minutos do debate não usam máscara. Os filhos de Trump e os membros da equipa do Presidente, presentes na sala, também não usam máscara durante o debate, desrespeitando as directivas sanitárias.

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Com a equipa que viajou com Trump para o Ohio no Air Force One estava Hope Hicks.

Quarta

Trump viaja para o Minnesota para uma angariação de fundos privada numa casa em Minneapolis e um comício ao ar livre em Duluth. Hope Hicks começa a sentir-se mal na viagem de regresso e resolve isolar-se no Air Force One.

Quinta

Hope Hicks dá positivo no teste ao coronavírus e alguns dos membros da equipa do Presidente que lidaram mais de perto com a assessora resolvem não viajar com Trump até ao seu resort em Bedminster, Nova Jérsia, para uma angariação de fundos privada, assim que souberam do diagnóstico a bordo do Marine One.

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À noite, numa entrevista à Fox News, Trumpr anuncia que ele e a primeira-dama fizeram o teste do coronavírus

Sexta

À uma da manhã em Washington (mais cinco horas em Portugal continental), o Presidente anuncia pelo Twitter que ele e Melania estão infectados e foram colocados de quarentena.

Em comunicado, o médico do Presidente, Sean Conley, diz que tanto Trump como a mulher estão bem e que “planeiam permanecer na residência da Casa Branca durante a sua convalescença”.

Membros da Administração dizem que os sintomas do casal presidencial são moderados e que os colaboradores mais próximos do chefe de Estado deram todos negativos nos testes. Bill Stepien (que mais tarde também anunciou que estava com covid-19) explica que as iniciativas de campanha foram adiadas ou transformadas em virtuais.

Por se sentir fatigado e com febre, Trump acaba por ser transportado no helicóptero Marine One para o Walter Reed Center, um hospital militar que tem uma ala para pacientes VIP.

Sábado

O médico de Trump dá uma conferência de imprensa a dizer que o Presidente está sem febre há 24 horas e a recuperar muito bem. Mas refere que passaram 72 horas desde que foi dado como positivo (o que atrasaria o calendário oficial para quarta-feira), algo que veio desmentir em comunicado mais tarde, dizendo que queria dizer “dia 3” e não 72 horas.

O chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, logo a seguir à conferência de Sean Conley e da equipa do hospital militar, dirige-se aos jornalistas para desmentir o médico, afirmando que nas 24 horas anteriores o estado de saúde do Presidente não foi bom e que as 48 horas seguintes seriam críticas para Trump.

À noite, Trump difundiu um vídeo aparentemente gravado no hospital a dizer que se sentia muito melhor e a agradecer as mensagens de melhoras que tinha recebido.

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