Agentes culturais concentraram-se em Lisboa para “brinde à ignorância da ministra”

De copo vazio, uma centena de profissionais exigiu que o Governo passe das “esmolas” às políticas capazes de estruturar o sector. “Acorde para a vida”, pediu o actor Ruy de Carvalho a Graça Fonseca.

graca-fonseca,instituto-cinema-audiovisual,politica-cultural,culturaipsilon,antonio-costa,precariedade,
Fotogaleria
Cerca de uma centena de profissionais brindou, de copo vazio, à "ignorância da ministra" da Cultura LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
graca-fonseca,instituto-cinema-audiovisual,politica-cultural,culturaipsilon,antonio-costa,precariedade,
Fotogaleria
O protesto foi organizado pela plataforma Convergência pela Cultura LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
graca-fonseca,instituto-cinema-audiovisual,politica-cultural,culturaipsilon,antonio-costa,precariedade,
Fotogaleria
O actor Ruy de Carvalho, de 93 anos, foi um dos participantes do protesto LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
graca-fonseca,instituto-cinema-audiovisual,politica-cultural,culturaipsilon,antonio-costa,precariedade,
Fotogaleria
O líder da plataforma Convergência pela Cultura, Alexandre Morais LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
Oculos escuros
Fotogaleria
LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Cerca de uma centena de agentes culturais concentrou-se esta tarde junto ao Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, para “um “drink” de copo vazio”, numa alusão à falta de respostas do Governo para a crise sem precedentes que o sector artístico atravessa.

Organizada pela plataforma cívica Convergência pela Cultura, a iniciativa Um drink pela Cultura contou com a presença de várias personalidades das artes, entre as quais o actor Ruy de Carvalho, que promoveu “um brinde à ignorância da ministra”.

“Tudo o que nos rodeia é cultura, portanto temos de ter uma ministra à altura da cultura que nós merecemos, assim não, assim digo ‘ah senhora ministra, que tristeza, acorde para a vida, não esteja morta, viva'”, afirmou Ruy de Carvalho, de 93 anos, lembrando os seus 78 anos de carreira como actor em que nunca teve um ministro da Cultura “tão mau”.

No protesto junto ao Ministério da Cultura (MC), sediado no Palácio Nacional da Ajuda, os trabalhadores do sector ergueram uma faixa com a frase “no culture, no future”, brindaram com os copos vazios e fizeram-se ouvir: “Cultura somos todos”.

No âmbito desta iniciativa de protesto, a plataforma Convergência pela Cultura apresentou um comunicado público, dirigido ao primeiro-ministro, considerando que António Costa “está muito mal informado em relação à Cultura” e indicando que o maior vazio corresponde à “falta de seriedade, de ética e de transparência” na adopção de medidas apresentadas pelo Governo.

“Na realidade não passaram de uma utopia, que fica muito bem no retrato, mas que não correspondem à realidade dura em que vivem os seus concidadãos”, avança o comunicado público, afirmando que “os agentes do sector da Cultura não querem esmolas nem subsídios, querem sim um sector sustentável e sustentado”.

Na passada sexta-feira, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disponibilizara-se para receber a plataforma que agendou o protesto, apesar de o manifesto onde constam as suas reivindicações não lhe ter sido dirigido, “certamente por lapso”.

Em resposta à Lusa, fonte do MC disse que “o pedido para uma audiência chegou hoje [esta quarta-feira] à hora de almoço e que será agendada reunião nesse sentido”.

No final de Julho, à margem da sessão de apresentação de um conjunto de obras de arte contemporânea adquiridas pelo Estado, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, quando confrontada com a informação de que um grupo informal apoiava, todas as semanas, mais de 150 trabalhadores do sector em dificuldades, escusou-se a responder, convidando os jornalistas para “um drink de fim de tarde”.

Há duas semanas, a plataforma Convergência pela Cultura divulgou um manifesto, originado pelo que define como “falta de resposta da tutela às várias solicitações” feitas desde Março, mês em que o sector teve de parar devido à pandemia da covid-19.

No manifesto, a plataforma apresentou dez propostas “que, no conjunto, representam cerca de 30 medidas, com soluções” que acredita poderem “resolver os problemas imediatos dos trabalhadores” do sector, “se implementadas”.

Em resposta, o MC considerou que essas reivindicações são “redundantes” e “até mesmo extemporâneas”, uma vez que “grande parte delas são alvo já de um vasto conjunto de medidas muito concretas adoptadas e em curso”.

Como exemplo, a tutela lembra que, no que diz respeito à reorganização dos trabalhadores da Cultura/reforma estrutural da Segurança Social e Revisão e classificação das profissões da Cultura, foi criado um grupo de trabalho interministerial para o estudo das condições laborais e carreiras contributivas de artistas, autores e técnicos de espectáculos.

Esta manhã, em comunicado, o MC lembrou ainda que as linhas de apoio a entidades artísticas e de adaptação dos espaços às medidas de prevenção de contágio da covid-19 ficam abertas até sexta-feira, assim como a linha de apoio social, adicional aos apoios concedidos pela Segurança Social a trabalhadores independentes da área da Cultura, destinada a “artistas, autores, técnicos e outros profissionais da cultura”, num valor global superior a 38 milhões de euros.

A tutela recordou que também continuam abertas as linhas de apoio excepcional do Instituto do Cinema e do Audiovisual, para o financiamento de projectos já apoiados, à produção e a festivais, cujas edições de 2020 tenham sido suspensas, adiadas ou canceladas. O montante total disponível é de 3,5 milhões de euros.

Sugerir correcção