Nesta Drogaria de Lisboa andam a brincar a sério com a cozinha portuguesa

O restaurante esteve fechado à espera de melhores dias. Estes chegaram e com eles os jantares e uma esplanada onde a partir das cinco da tarde há happy hour: é possível beber uma cerveja ou um copo de vinho e escolher três entradas, pagando apenas duas.

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Paulo Aguiar cresceu ali. Era pequeno quando a drogaria fechou, depois a retrosaria e o talho. Cresceu, formou-se em Engenharia Civil, esteve em Timor, voltou, comprou casa a poucos metros daquela onde brincou, adquiriu-a já “no limite” – depois disso, os preços dispararam na Lapa, em Lisboa. Pelo meio aventurou-se na recuperação da velha drogaria, que entretanto também já tinha sido um armazém de móveis, e dar-lhe não só uma nova roupagem como um novo fim, o da restauração. O nome permanece: restaurante Drogaria.

Foi há um ano que tudo começou. A Drogaria foi apresentada aos clientes como um novo espaço no bairro, com um conceito semelhante a tantos outros que foram surgindo, o da comida portuguesa reinventada. “Queria uma coisa portuguesa, que não era a tasca ou a taberna”, explica Paulo Aguiar, o proprietário. Por isso, a preocupação passou por conceber um espaço bonito que lembra a década de 1930 e a Arte Nova, mas também a de 1960 com os veludos nos cortinados, nos sofás e nas cadeiras confortáveis e elegantes, pensado pelo arquitecto de interiores e decorador Rui Ehrhardt Soares.

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David Casaca e Paulo Aguiar, o chef e o empresário, respectivamente DR

Na altura, o brasileiro Mateus Santos, que já tinha passado pelo dinamarquês Noma e trabalhado com José Avillez, foi o chef convidado para liderar a cozinha e o projecto arrancou aos poucos. Tudo demora na restauração, admite o empresário. Até que, como tantos e tantos negócios, a covid-19 apanhou o Drogaria, que esteve fechado à espera de melhores dias. Estes chegaram e com eles uma esplanada onde, ao final da tarde a partir das 17h é possível beber uma cerveja ou um copo de vinho e escolher três entradas, pagando apenas duas.

A promoção tem ajudado os moradores a descobrirem o espaço, reconhece o dono. Não é que esteja escondido, está num local de passagem, dali descem-se umas escadinhas que dão para a Rua do Olival e daquela chega-se num pulo ao Largo da Pampulha. Agora, Paulo Aguiar quer assinalar um ano e uma vida nova para o Drogaria. Por isso, tem um novo chef à frente do projecto, de seu nome David Casaca, ainda um jovem mas que já passou por várias cozinhas como a do Varanda do Ritz e trabalhou com outros cozinheiros como Nuno Diniz, que recentemente abriu um restaurante, também em Lisboa. 

David Casaca recebe-nos com um sorriso por detrás da máscara que não esconde o entusiasmo com que fala deste projecto onde quer continuar a fazer cozinha portuguesa e a usar os produtos locais. “A nossa cozinha tem uma base que está escrita e eu quero fazê-la, mas com alguma brincadeira”, declara, dando como exemplo uma entrada que manteve da carta anterior, as gyozas de cozido à portuguesa (8,50€) — o cozido é feito, os enchidos são transformados em puré e as carnes e vegetais são picados e o sabor é o tradicional de um cozido —; o polvo — onde o picadinho à Algarvia corta o adocicado do puré de batata-doce tornando o prato mais original (16 euros); ou a salada de coelho (15 euros) com um toque muito fresco dado pela laranja e a crocância do trigo sarraceno. 

Gyozas de cozido à portuguesa (8,50 euros)
Salada de coelho (15 euros) DR
Tarte de framboesa (6 euros) DR
Couvert (3,50 euros),Couvert (3,50 euros) ,
Peixe do dia (16 euros) DR
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Gyozas de cozido à portuguesa (8,50 euros)

A carta é curta. Começa com um couvert simples com pão quente, duas manteigas artesanais (uma de lima e outra noisette) e um azeite premium (3,50 euros); seguem-se as entradas, o Fugas experimentou apenas as gyozas mas há croquetes de bacalhau com natas e rabo de boi (8 euros) ou carapau curado (8,50 euros). Um prato vegan (14 euros) que muda consoante o que há no mercado; e três de peixe e três de carne. A carta termina com quatro sobremesas mas as propostas que o chef faz é a mousse de chocolate com 60% de cacau (5 euros) e a tarte de framboesa com merengue queimado (6 euros). Optamos pela tarte que nada tem a ver com a tradicional, nem no formato nem no sabor, uma surpresa.

O chef está já a preparar a nova carta para o Outono e mostra-se entusiasmado, sobretudo com os clientes que regressam e repetem. “São sobretudo moradores que não sabiam da nossa existência. Temos tido muito trabalho no passar a palavra. Tenho vindo servir às mesas e conversar com os clientes, o que faz com que eles voltem”, revela David Casaca, numa dessas idas e vindas entre a cozinha, a sala e a esplanada.

Paulo Aguiar está satisfeito com o seu novo chef: “Gosto da maneira como o David aborda a cozinha, não só a confecção, mas a higiene, a qualidade e os custos”, resume. Esta é uma “altura complicada” e se antes a vantagem era o restaurante estar “fora do circuito”, agora esse é um problema que o proprietário espera colmatar com a oferta de uma cozinha de qualidade que venha a fidelizar os clientes — o que já está a acontecer, alegra-se. Para já, ainda não vai abrir para os almoços.

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A esplanada do Drogaria DR

O Fugas visitou o espaço a convite do restaurante Drogaria

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