Xi Jinping diz que economia politica marxista é um pilar do crescimento chinês

O Presidente chinês referiu que a China não deve tentar replicar nem a ideologia ocidental nem o sistema capitalista de outros países, num momento em que se prevê uma grave crise económica mundial.

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Quase 400 empresas cotadas em bolsa na China continental prestaram homenagem a Xi Jinping nos seus relatórios & contas Reuters/Thomas Peter

A China não deve tentar replicar a ideologia ocidental ou o sistema capitalista de países ocidentais, mas sim adaptar a sua economia política marxista aos novos tempos. A garantia foi dada este sábado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, num artigo publicado numa revista de teoria política, a pensar nos desafios do futuro próximo. 

“A base da economia política chinesa só pode ser a economia politica marxista e não pode estar assente noutras teorias económicas”, escreveu Xi Jinping, que é também secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC) e presidente da Comissão Militar Central, citado pelo South China Morning Post. “A posição dominante da propriedade pública não pode ser abalada e o papel de liderança da economia estatal não pode ser posto em causa”. 

Em contexto de pandemia e de tensão com os Estados Unidos em vários assuntos, as palavras de Xi Jinping são uma clara indicação de reforço do papel do Estado na economia e sociedade chinesas, depois de mais 30 anos de grande abertura e de transformações no plano mundial. Desde 2012, quando assumiu a liderança do país, que Xi Jinping tem levado a cabo uma estratégia de consolidação do seu poder no partido e de ascensão na China no palco mundial, militar e economicamente, rivalizando com os Estados Unidos. 

Nos últimos tempos, diz a revista Economist, o Estado chinês tem consolidado o seu controlo sobre empresas privadas, com quase 400 das 3900 empresas cotadas nas bolsas da China continental a prestarem homenagem ao PCC e ao seu líder nos seus relatórios & contas - 20 vezes mais que em 2017. 

Em 2013, um ano depois de chegar ao poder, Xi Jinping anunciou que a China “ia deixar o mercado desempenhar um papel decisivo na alocação de recursos”, ao mesmo tempo que reforçava “o papel de liderança do sector estatal”. Mas a estratégia sofreu abalos na crise de 2015, quando a bolsa chinesa entrou em perda e o Estado se viu forçado a recapitalizar os bancos, a apertar a rede nas transferências monetárias internacionais e a controlar o sistema financeiro, conta a revista britânica. 

A China foi menos afectada do que se pensava com a guerra comercial com os Estados Unidos, mas, com uma muito grave crise económico-social no horizonte, por causa do impacto do confinamento na actividade económica, derivado da pandemia de covid-19, o partido volta a reforçar o discurso sobre o papel fundamental do Estado para aumentar a ordem e resiliência na economia. Ou seja, as empresas estatais são instadas a aumentarem os lucros e a atraírem investidores privados, enquanto o Estado alarga o controlo sobre o sector privado. 

Um controlo que tem como objectivo preparar a China para os desafios futuros. Em Dezembro, Washington e Pequim chegaram a um acordo de princípios para acabar com a guerra comercial, que se transformou num conflito cambial, em que estão envolvidos desde Julho de 2018. O acordo foi assinado em Janeiro e era suposto haver no sábado uma reunião entre representantes americanos e chineses para reverem a primeira fase do acordo, mas as negociações foram canceladas sem explicações. 

O acordo poderá estar em risco por razões políticas, porque Donald Trump está em campanha para ser reeleito, disse ao South China Morning Post Michael Every, chefe da empresa de análise de mercados Rabobank. “Trump disse que a China está agora a fazer encomendas recorde de produtos agrícolas”, disse Every. “A China vai alinhar, pois não sabe quem vai ganhar as eleições nos EUA. Mas continuamos com pensar que este acordo entrará em colapso em algum momento - e, provavelmente, quando for politicamente mais relevante para Trump”. 

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