Obama ataca Trump pela violência policial e por querer limitar voto das minorias

“Enquanto estamos aqui sentados, aqueles que estão no poder estão a fazer todos os possíveis para desencorajar as pessoas de votar”, afirmou Barack Obama, no elogio fúnebre do congressista John Lewis.

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Barack Obama discursou no funeral de John Lewis, em Atlanta ALYSSA POINTER/Reuters

Na cerimónia fúnebre do congressista John Lewis, grande referência da luta pelos direitos cívicos nos Estados Unidos, o ex-Presidente Barack Obama criticou a Administração Trump, sem mencionar uma única vez o nome do seu sucessor, e a actuação da polícia norte-americana na sequência das manifestações anti-racismo, impulsionadas pelo assassínio do afro-americano Georgle Floyd às mãos de um polícia branco, em Mineápolis.

Durante o funeral, Obama invocou o legado do histórico lutador pelos direitos cívicos, considerado a “consciência” do Congresso, descrevendo John Lewis como um “americano cuja fé foi testada repetidamente para produzir um homem de alegria pura e perseverança inquebrável”, que “fez tudo para preservar democracia”.

Apesar de enaltecer as conquistas para a comunidade afro-americana nas últimas décadas, conquistadas graças ao contributo do histórico congressista, Obama focou-se no presente e atacou Donald Trump, a violência policial e as tentativas de limitar o direito de voto nos Estados Unidos.

“Hoje, testemunhamos com os nossos próprios olhos polícias a porem o joelho no pescoço de afro-americanos”, afirmou Obama, referindo-se ao assassínio de George Floyd, sufocado até a morte por Derek Chauvin. “Podemos testemunhar o nosso Governo federal a enviar agentes que usam gás lacrimogéneo e bastões contra manifestantes pacíficos”, acrescentou o antigo Presidente, numa referência ao envio de forças federais para cidades como Portland ou Chicago, por ordem de Donald Trump. 

O funeral de John Lewins realizou-se no mesmo dia em que o Presidente norte-americano sugeriu adiar as eleições presidenciais do próximo dia 3 de Novembro, alegando que “a votação universal por correspondência vai fazer das eleições de 2020 as mais imprecisas e fraudulentas na História”. Esta tese, contudo, tem sido desmentida por vários estudos, que revelam que os problemas registados na votação por correspondência são residuais. Além disso, o Presidente não tem poder para adiar, suspender ou desmarcar eleições

Obama, no entanto, não deixou passar as insinuações de Trump e recordou o legado de John Lewis na luta pelo direito de voto. “Tal como John Lewis, temos de nos bater ainda mais para defender a ferramenta mais poderosa que temos à nossa disposição: o direito de voto”, sublinhou o antigo Presidente, atacando, de seguida, a Administração Trump.

“Enquanto estamos aqui sentados, aqueles que estão no poder estão a fazer todos os possíveis para desencorajar as pessoas de votar, encerrando assembleias de voto, visando minorias e estudantes com leis restritivas, e atacando os nossos direitos de voto com uma precisão cirúrgica, mesmo prejudicando os serviços do correio”, rematou.

O ex-Presidente aproveitou para apelar ao voto nas presidenciais de Novembro e defendeu algumas reformas para o alargamento do direito de voto, nomeadamente o registo automático para os eleitores, alargar o voto a ex-presidiários, criar novas assembleias, expandir a votação antecipada e tornar o dia das presidenciais um feriado nacional, para que mais trabalhadores possam votar, sintetiza a BBC.

No funeral de John Lewis discursaram ainda dois ex-presidentes: Bill Clinton, que recordou o congressista como um homem que “estava numa missão maior do que a ambição pessoal”, e George W. Bush, que sublinhou as “diferenças” com o activista dos direitos cívicos, mas reconheceu que os americanos vivem “num país melhor e mais nobre devido a John Lewis”.

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