O que começou como um processo por difamação tornou-se num escrutínio da relação do ex-casal e das acusações e contra-acusações de violência entre os dois. Após três semanas de audiências, o mediático julgamento chega ao fim nesta segunda-feira com o veredicto a ser anunciado posteriormente.

Johnny Depp processou o tablóide britânico The Sun, o seu editor-executivo Dan Wooton e a editora News Group Newspapers por difamação, depois de um artigo publicado em 2018 pelo jornal que o apelidava de “agressor da mulher”. Os advogados do Sun disseram em tribunal que iriam provar a veracidade do artigo e que Depp tinha espancado a ex-mulher, Amber Heard, durante acessos de fúria incitados pelo álcool e drogas.

Desde a primeira audiência, a 7 de Julho, que o actor nega qualquer agressão à ex-mulher, contra-acusando-a de ser ela a pessoa violenta na relação. Ao longo dos dias em que Depp prestou depoimento relatou diversas ocasiões em que Amber Heard terá sido abusiva, tanto física como psicologicamente.

A situação mais extrema descrita pelo protagonista de Os Piratas das Caraíbas decorreu em Março de 2015, quando ambos se encontravam na Austrália e Heard alegadamente lhe atirou uma garrafa partida que lhe cortou parte de um dedo. Nessa mesma altura, a actriz relatou que viveu uma “situação de sequestro” que durou três dias e onde foi agredida pelo ex-marido. Depp pronunciou-se sobre o assunto em tribunal, dizendo que “estas alegações doentias são completamente falsas”.

Amber Heard, mais conhecida pela sua interpretação da personagem Mera nos filmes Liga da Justiça e Aquaman, acusa Depp de a ter agredido depois de ter gozado com uma tatuagem do actor, de lhe atirar garrafas “como se fossem granadas” e de o seu alter ego intitulado “o monstro” vir ao de cima sempre que ele ingeria álcool ou consumia drogas.

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Depp admitiu já ter experimentado “todas as drogas conhecidas pelo Homem” e gastar 30.000 dólares (aproximadamente 26.500 euros) por mês em vinho, mas nega tornar-se “num monstro” quando está sob a influência deste. Segundo a estrela de Hollywood, aquilo a que Heard se refere como “o monstro” deve-se ao tom de voz elevado a que recorria durante as discussões de ambos. “Tornava-se numa competição de gritos e isso era o monstro.”

Esta segunda-feira, no seu discurso de conclusão, a advogada do jornal, Sasha Wass, retratou Depp como um “viciado sem melhoras”, cujo consumo de substâncias, ciúmes e raiva o tornavam num perigo para a sua parceira. A advogada referiu ainda que o consumo excessivo de drogas o levava a surtos incontroláveis e que ele se metamorfoseava num alter ego violento chamado “o monstro”, tendo como resultado não se recordar exactamente do seu comportamento. Citando mensagens enviadas por Depp que referiam a sua vontade de “afogar” e “queimar” a ex-companheira, Wass acusou o actor de ser “profundamente misógino”.

A actriz de 34 anos cedeu ao The Sun 14 relatos de ocasiões em que alegadamente foi agredida por Depp, reiterando que aquele ameaçou matá-la diversas vezes e que os abusos passavam por “esmurrar, esbofetear, pontapear, dar cabeçadas e estrangular”, assim como empurrá-la de encontro a coisas, puxá-la pelos cabelos e atirá-la ao chão.

De acordo com Johnny Depp, o que o levou a pôr um ponto final na relação foi ter encontrado fezes humanas na sua cama, que acredita serem da ex-mulher ou de uma amiga dela. “Achei que foi um fim peculiar e estranhamente apropriado para a relação.” Heard nega que ela ou uma amiga tenham defecado na cama e diz que pode ter sido um dos seus cães a fazê-lo.

A troca de acusações entre os actores foi o foco deste julgamento, ficando claro que se tratou de uma relação tóxica e violenta. Amanhã, dia 28 de Julho, será a vez do advogado do actor, David Sherborne, fazer o seu discurso de conclusão. Johnny Depp e Amber Heard conheceram-se em 2009, nas filmagens da longa-metragem O Diário a Rum, casaram dois anos depois e divorciaram-se em 2016.

Texto editado por Bárbara Wong