MAI investiga morte de bombeiro em incêndio. Onda de calor vai varrer o pais

MAI investiga morte de bombeiro em fogo na Serra da Lousã. Entre 2008 e 2018, 14 bombeiros morreram em incêndios. A estes somam-se os 15 bombeiros mortos em acidentes de viação, alguns dos quais ocorridos em viagens de ida ou regresso do combate aos fogos. Onda de calor deixa país em alerta até ao final da semana e o primeiro-ministro, António Costa, já pediu cautela porque “a pandemia não suspende o risco de incêndios”.

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Paulo Pimenta

Numa altura em que continua a braços com a pandemia provocada pela covid-19, o país entra agora na fase mais crítica de uma outra ameaça: a do risco de incêndios. No sábado à noite, um bombeiro morreu e outros três ficaram feridos enquanto combatiam um fogo de proporções médias no concelho da Lousã, distrito de Coimbra. Apesar de a alteração da direcção do vento ter sido apresentada como a causa mais provável do que correu mal neste fogo, o Ministério da Administração Interna (MAI) decidiu abrir um inquérito, no arranque de uma semana em que vários concelhos correm risco máximo de incêndio por causa da onda de calor que fará as temperaturas dispararem até aos 40 graus.

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A vítima mortal, José Augusto Dias, de 55 anos, era um bombeiro experiente, com quatro décadas de ofício. Era, aliás, chefe dos Bombeiros de Miranda do Corvo, que foi a primeira a chegar ao local do incêndio que começou numa zona de mato, num dos pontos mais altos da Serra da Lousã, às 18h26, aparentemente na sequência da trovoada que deflagrou no local. No total, foram mobilizados 250 bombeiros e 70 veículos. E o incêndio foi dado como controlado pouco tempo depois, por volta das 21h. O que correu mal? A situação de instabilidade atmosférica “que levou a uma alteração da direcção do vento”, num teatro de operações “bastante acidentado”, admitiu neste domingo o comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), Duarte Costa, na mesma conferência de imprensa que anunciou que o MAI abriu um inquérito para averiguar as causas da morte daquele profissional.

Além de José Augusto Dias, outros três bombeiros tiveram de ser assistidos no hospital por terem inalado fumo e um terceiro por ter ficado com queimaduras nas pernas. Porque se tratava de uma equipa “com muita experiência e conhecimento daquele terreno”, o comandante dos Bombeiros de Miranda do Corvo, Fernando Jorge, admitiu também, em declarações à CMTV, que o vento forte com mudanças repentinas de direcção pode ajudar a explicar o ocorrido. Os restantes bombeiros tiveram entretanto alta médica.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apressou-se a reagir “com profunda consternação” a mais uma “perda profunda de quem dá tanto ao país”. Em sintonia, o primeiro-ministro, António Costa, lamentou “com profundo pesar” este “trágico falecimento”. “Morreu um homem bom, um homem efectivamente muito competente”, lamentou também o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares.

Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal de Miranda do Corvo, Miguel Baptista, decidiu decretar três dias de luto municipal em memória do bombeiro que era também funcionário da autarquia da vila. Noutra frente, em Fátima, o reitor do santuário, Carlos Cabecinhas, pediu este domingo aos crentes que rezassem “pelos bombeiros e por todos aqueles que, com sacrifício e perigo, arriscam a vida e a perdem pelo bem de todos”.

De acordo com o último balanço da ANEPC, divulgado há cerca de um ano, 14 bombeiros morreram a combater incêndios rurais, entre 2008 e 2018. A estas mortes somam-se ainda os 15 bombeiros mortos em acidentes rodoviários nessa década, sendo que, destes, nove morreram a caminho de incêndios e dois quando regressavam de fogos. Entre os restantes, dois morreram quando estavam em trânsito para acções de formação e os restantes dois quando transportavam doentes. Ainda segundo a ANEPC, entre 2010 e 2018 registaram-se 3680 acidentes envolvendo viaturas de bombeiros, dos quais 3349 com ambulâncias e 331 com viaturas de combate a incêndios.

Onda de calor deixa país em alerta vermelho 

As temperaturas elevadas que se fizeram sentir durante o fim-de-semana vão continuar a subir até 17 de Julho, podendo a temperatura máxima variar entre os 30 e os 35 graus no litoral e chegar aos 40 graus no interior, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que prevê uma subida gradual da temperatura a partir desta segunda-feira para valores “acima do habitual para a época do ano”.

O IPMA alertou, aliás, para o risco de uma “situação de onda de calor em diversos locais do país”. Por causa desta situação meteorológica, 14 concelhos entraram ontem em risco máximo de incêndio, nos distritos de Faro, Castelo Branco, Portalegre, Santarém, Guarda e Bragança, numa situação que deverá perdurar pelo menos até quinta-feira em vários distritos. Também por causa do tempo quente, o IPMA colocou sob aviso amarelo vários outros concelhos do território continental.

Em sintonia com o aumento da temperatura máxima, a temperatura mínima poderá não descer abaixo dos 20 graus em grande parte do território, em especial no interior e no sotavento algarvio.

Estas noites tropicais não são grandes aliadas no combate aos fogos, o que terá levado o primeiro-ministro, António Costa, a sentir necessidade de alertar, na sexta-feira, para o facto de o país estar a entrar agora na fase mais crítica de risco de incêndios, apelando ao reforço das cautelas. “Neste período crítico não faça queimas nem queimadas não autorizadas. Só com prevenção de comportamentos de risco podemos ser eficazes nesta luta”, apelou via Twitter, para lembrar que “a pandemia não suspende o risco de incêndios”. Sobre o dispositivo de combate a incêndios, Costa asseverou que “há mais meios, mais profissionalizados”, mas disse-se consciente de que “este vai ser um ano difícil para todos”.

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