Dia 75: como tornar o Verão dos netos mais divertido?

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, e não só.

Foto
@DESIGNER.SANDRAF

Querida Ana,

Foto

Há uns anos que me pergunto se nos sacrificamos demais pelos nossos filhos e se com isso não lhes estamos a fazer mais mal do que bem. A eles e a nós.

Não preciso de ir apontar o dedo aos outros, basta-me pensar em todos os momentos em que me precipitei para vos tirar obstáculos da frente, na ânsia de evitar que tropeçassem, ou porque suportava tão mal ver a desilusão na vossa cara. Nas férias grandes, então, agravava-se, não só porque vocês vinham com mil pedidos e exigências, como porque eu queria muito que se divertissem, estivessem com os vossos amigos e criassem memórias fantásticas. O resultado não era bom.

Havia momentos em que me olhavam mais como motorista/multibanco do que propriamente como mãe, noutros ficava zangada por dentro porque não me agradeciam o suficiente (ou nada), e invariavelmente a minha incapacidade para vos dizer não — por exemplo, quando vos deixava sair à noite, sabendo que precisavam era de dormir — terminava em birras de sono e uma rodada de infelicidade e desconsolo para todos.

Mas o mais estúpido é que suspeito que se voltasse atrás, apesar de tudo quanto sei, cometeria os mesmos erros. Aliás, não suspeito, tenho a certeza, porque ainda as férias mal começaram e já dou por mim a pensar no que posso fazer para tornar o Verão das tuas filhas, mais divertido. Sem emenda.


Mãe,

Foto

Claro que faria tudo outra vez. Porque todas as decisões que tomou na altura eram as possíveis! Não leu a minha carta do “Lembrem-nos”? Hoje é a mãe que precisa dela! Não se esqueça que os amuos por não podermos sair com os nossos amigos à sexta-feira eram impossíveis de suportar depois de uma semana inteira de trabalho — e, assim como assim, a birra de sono no dia seguinte já calhava num sábado. E, querida Mãe, se acha que já não lhe agradecíamos (muito) por ser a nossa motorista/multibanco, imagine o que teria sido suportar a nossa “gratidão” se nos tivesse fechado em casa. Se lhe serve de algum consolo, criámos mesmo, mesmo óptimas memórias! Memórias às quais ainda hoje em dia recorro com uma alegria sem fim. Além disso, o resultado final não foi assim tão mau para nenhum dos seus filhos, por isso parece-me que pode descansar. Quanto a nós, mães que estamos a viver isto tudo no presente, temos a sorte de ver nos seus desabafos um sinal de esperança.

Mas já que falamos de sacrifícios, nos últimos tempos tenho chegado à conclusão que não é grande coisa sacrificarmo-nos por ninguém, a não ser que o façamos livremente. Eu sei que fomos educados para acreditar que o sacrifício é uma virtude, a mãe ainda mais do que eu, mas será a melhor forma de altruísmo quando 99% das vezes esperamos algo em troca, fingindo que não? Por isso das duas uma: ou pomos as cartas na mesa, dizendo abertamente “Eu faço isto, mas espero aquilo de ti”, ou calamo-nos para sempre, largando a culpa do que “poderia ter sido.”


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram

Sugerir correcção