Trump diz que ordem para reduzir testes ao novo coronavírus foi “sarcasmo”

Presidente norte-americano diz que “não seria a decisão correcta”, numa altura em que vários estados registam novos recordes de casos. Director do CDC diz que o novo coronavírus pode ter infectado mais de 24 milhões de pessoas nos Estados Unidos.

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Donald Trump indicou que queria abrandar os testes num comício no sábado passado Reuters/CARLOS BARRIA

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que estava a ser sarcástico quando anunciou, num comício realizado no sábado passado, que tinha ordenado a redução do número de testes ao novo  coronavírus. A mais recente explicação, avançada na noite de quinta-feira, surge dias depois de Trump ter confirmado, e depois desmentido, num espaço de poucas horas, que estava a falar a sério – e vem agitar ainda mais uma semana marcada por novos recordes no número de infectados no país e pela suspensão da reabertura da economia em vários estados.

“Às vezes digo a brincar, ou de forma sarcástica, que se não fizéssemos testes, a nossa imagem seria óptima”, disse o Presidente norte-americano numa entrevista ao apresentador Sean Hannity, do canal Fox News, na noite de quinta-feira.

“Mas essa não seria a decisão correcta”, afirmou Trump.

É a segunda vez que o Presidente norte-americano recua numa declaração importante sobre o combate à pandemia com o argumento de que estava a ser sarcástico.

Em Abril, depois de ter sugerido aos cientistas que testassem a eficácia da injecção de detergente em doentes com covid-19, numa conferência de imprensa na Casa Branca, Trump veio dizer que estava apenas a testar a reacção dos jornalistas.

"Eu não brinco"

O anúncio do Presidente norte-americano de que tinha ordenado um abrandamento na realização de testes, feito num comício em Tulsa, no estado do Oklahoma, foi criticado por várias figuras do Partido Democrata e rapidamente desvalorizado pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, o comentário de Trump foi feito “em tom de brincadeira”.

Mas a confusão ficou instalada na manhã de segunda-feira, quando o Presidente norte-americano teve uma oportunidade para esclarecer a questão e não o fez.

“Sr. Presidente, no comício, quando disse que pediu para abrandarem os testes, estava apenas a brincar, ou tem mesmo um plano para reduzir os testes?”, perguntou a jornalista Weijia Jiang, da CBS News.

“Eu não brinco”, respondeu Trump.

No mesmo dia, horas mais tarde, a porta-voz da Casa Branca veio dizer que a resposta do Presidente norte-americano à jornalista da CBS estava relacionada com “o argumento de que quanto mais se testa, mais casos são identificados”.

“Mas no comício ele usou o sarcasmo para salientar esse argumento”, disse Kayleigh McEnany na segunda-feira.

A meio da semana, o anúncio de que o governo federal ia deixar de financiar 13 centros de testes em cinco estados, até ao fim do mês, foi visto como uma possível resposta à declaração do Presidente norte-americano no comício de sábado passado. 

O Departamento de Saúde norte-americano veio dizer que esse corte significa o fim de um programa federal específico, aprovado no início da pandemia, que era provisório e que acabou por ficar desactualizado.

Texas suspende reabertura

Sete desses centros de teste estão localizados no estado do Texas, onde o governador, o republicano Greg Abbott, recuou na reabertura da economia perante o aumento do número de casos nos últimos dias.

“A última coisa que queremos fazer é voltar a fechar as lojas e as empresas”, disse Abbott na quinta-feira. “É uma pausa temporária que irá ajudar o nosso estado a conter as transmissões até que possamos entrar em segurança na próxima fase de reabertura.”

Para além do Texas, outros estados norte-americanos registaram esta semana novos recordes no número de pessoas infectadas com o novo coronavírus, incluindo o Arizona, Alabama, Missouri, Montana e Utah. 

Dez vez mais infectados

Na quarta-feira foram registados 36.880 casos em todos o país, um novo máximo em 24 horas. E esse número foi ultrapassado na quinta-feira, quando se registaram 39.818 casos – quase tantos como em Portugal desde o início da pandemia.

No total, mais de 2,4 milhões de pessoas foram infectadas nos Estados Unidos com o novo coronavírus, segundo os registos oficiais. Mas o director dos Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças, Robert Redfield, admitiu que o número real ultrapasse os 24 milhões.

“A nossa estimativa neste momento é que por cada caso registado, houve outras dez infecções”, disse Redfield na quinta-feira, citando as informações disponíveis sobre os testes a anticorpos, que mostram quem esteve exposto ao vírus e não chegou a ter sintomas nem a receber tratamento hospitalar.

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