Trump no meio de uma tempestade política ao dizer que se encontraria com Maduro

O Presidente dos EUA recuou na hipótese de se encontrar com o homólogo venezuelano. Isso fragilizaria ainda mais a posição de Juan Guaidó, mas sobretudo deixaria Trump em maus lençóis na Florida, um estado que tem de conquistar nas eleições de Novembro.

Foto
Donald Trump e Juan Guaidó na Casa Branca, em Fevereiro Kevin Lamarque/Reuters

Depois de ter admitido encontrar-se com o Presidente da Venezuela, Donald Trump recuou e garantiu que só se reuniria com Nicolás Maduro para negociar uma saída pacífica do poder.

“Ao contrário da esquerda radical, eu estarei sempre contra o socialismo e ao lado do povo da Venezuela. O meu Governo sempre esteve do lado da liberdade e contra o regime opressor de Maduro! Apenas me reuniria com Maduro para abordar um tema: uma saída pacífica do poder”, escreveu o Presidente norte-americano no Twitter.

Estas declarações surgem depois de uma entrevista publicada no domingo, pelo portal Axios, em que Trump colocou a hipótese de se encontrar com o seu homólogo venezuelano, colocando em causa aquilo que tem sido a posição norte-americana em relação a Caracas, depois de ter reconhecido, em 2019, Guaidó como Presidente interino do país.

“Eu talvez pensasse sobre isso. Maduro gostaria de reunir-se comigo e eu nunca me oponho a reuniões”, afirmou Trump.

Em resposta, Nicolás Maduro demonstrou disponibilidade para reunir-se com Trump. “Assim como me reuni com Joe Biden [em 2015, quando este era ‘vice’ de Obama] e tivemos uma grande conversa de forma respeitosa, também agora estou disponível para conversar respeitosamente com o Presidente Donald Trump”, disse Maduro à agência venezuelana AVN.

As possibilidades de um encontro entre Maduro e Trump deixou a Casa Branca em alvoroço, levando a porta-voz Kayleigh McEnany a garantir, em conferência de imprensa, que “nada mudou” na posição dos EUA em relação à Venezuela e que o Presidente norte-americano “não perdeu a confiança em Juan Guaidó”.

A entrevista de Trump ao portal Axios, contudo, parece demonstrar o contrário e, apesar das justificações apresentados, as declarações do Presidente norte-americano fizeram mossa num cada vez mais frágil Juan Guaidó.

Questionado sobre um possível arrependimento no apoio a Guaidó, Trump respondeu que “não necessariamente”, no entanto, acrescentou que “poderia ter vivido com ou sem isso”.

“Acho que eu não estava necessariamente a favor [da escolha de Guaidó], mas algumas pessoas gostavam dele, outras não. Ele parecia-me bem. Não acho que fosse muito significativo de uma maneira ou de outra”, afirmou Trump.

Estas declarações sobre Guaidó vão ao encontro dos trechos do livro de John Bolton, que chega hoje às livrarias, divulgados pela imprensa norte-americana, em que o ex-conselheiro de Segurança Nacional revela que Trump demonstrou reservas em apoiar  Guaidó, considerando-o “fraco”, tendo chegado a afirmar que “seria cool” invadir a Venezuela. 

Por outro lado, estas declarações de Trump produziram ondas de choque na Florida, onde vivem perto de meio milhão de hispânicos de origem venezuelana, diz o Politico, muitos dos quais chegaram recentemente, em fuga do regime de Maduro. A sugestão de que Trump poderia estar disposto a falar com Nicolás Maduro é suficiente para os indispor - e para potecialmente fazer virar contra o Presidente um eleitorado fundamental num estado que terá um papel decisivo nas eleições presidenciais de Novembro.

Vários políticos destacados da Florida do Partido Republicano, apesar de serem apoiantes da actual politica da Administração Trump relativamente à Venezuela, fizeram questão de frisar publicamente o seu distanciamento com as palavras do Presidente, como os senadores Marco Rubio e Rick Scott.

“Não o senador Scott não acredita que o Presidente Trump deva encontrar-se com Maduro - um bandido cruel que está a cometer um genocídio contra o seu próprio povo”, afirmou um porta-voz do senador Rick Scott.

Daí a pressa de Donald Trump em desdizer-se, em dar a volta aos comentários que fez na entrevista.

Sugerir correcção