Donald Trump “não tem competência” para exercer a presidência, diz John Bolton

Presidente dos EUA diz que novo livro do antigo conselheiro de Segurança Nacional é “uma compilação de mentiras”. John Bolton alega que Trump tentou a reeleição a todo o custo, tentando interferir em investigações em curso. Biden diz que está em causa “a violação do dever sagrado” do Chefe de Estado para com o povo americano.

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Antigo conselheiro de Segurança Nacional John Bolton JIM LO SCALZO/EPA

No seu novo livro, que ainda não foi lançado mas já faz correr muita tinta, John Bolton, antigo conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, não poupa nas acusações e afirma que existem vários episódios que podiam ter levado ao impeachment do actual inquilino da Casa Branca.

Horas depois de a imprensa norte-americana ter começado a divulgar o conteúdo do livro, John Bolton deu uma entrevista à ABC News, afirmando que Donald Trump “não tem competência” para exercer o cargo de Presidente dos Estados Unidos.

“[Na presidência de Trump] não há nenhum princípio orientador que eu possa discernir além daquilo que possa ser bom para a reeleição de Donald Trump”, afirmou John Bolton. “Ele estava tão focado na reeleição que os planos a longo prazo caíram no esquecimento”, disse Bolton, na entrevista exclusiva à ABC News, que será divulgada na íntegra no domingo.

Estas declarações surgem depois de Donald Trump ter pedido aos tribunais para travar o lançamento do livro The Room Where It Happened, com lançamento marcado para terça-feira, 23 de Junho. No livro, em que o antigo conselheiro de Segurança Nacional faz uma retrospectiva dos 17 meses em que esteve na Casa Branca, são revelados vários episódios dos bastidores da Administração Trump.

Entre eles, está a afirmação de que Trump pediu favores políticos ao Presidente chinês, Xi Jinping, para aumentar as suas hipóteses de reeleição nas presidenciais de Novembro. John Bolton afirma ainda que Trump tentou interferir em investigações criminais para favorecer “ditadores de que gostava”.

“Uma compilação de mentiras”

Donald Trump, que se prepara para voltar aos comícios no sábado, em Tulsa, reagiu aos excertos do livro divulgados pelos media norte-americanos, considerando-o “uma compilação de mentiras”.

“O livro do Bolton, que está a receber críticas terríveis, é uma compilação de mentiras e histórias inventadas, todas com o intuito de me deixarem ficar mal”, escreveu Trump no Twitter, negando as afirmações que o seu ex-conselheiro lhe atribui no livro. “Muitas das afirmações ridículas que ele me atribui nunca foram feitas, são pura ficção”, rematou.

Por seu turno, Joe Biden, o candidato do Partido Democrata às presidenciais, considerou que, a confirmarem-se as suspeitas sobre Trump, está em causa “a violação do dever sagrado” do Chefe de Estado para com o povo americano.

“Se as considerações de John Bolton forem verdadeiras, não só é moralmente repugnante, como é uma violação do dever sagrado de Donald Trump na protecção dos interesses da América e na defesa dos nossos valores”, escreveu Joe Biden no Twitter.

O candidato do Partido Democrata é referido no livro de John Bolton, mais concretamente sobre o caso da Ucrânia, que motivou o impeachment de Donald Trump. Segundo a acusação do Partido Democrata, Trump exigiu ao Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, uma investigação a Joe Biden e aos negócios do filho, Hunter Biden, na Ucrânia. Caso Zelensky não o fizesse, Trump não enviaria um pacote aprovado pelo Congresso no valor de 391 milhões de dólares para ajuda militar para Kiev combater separatistas pró-russos.

A maioria republicana no Senado absolveu Trump, por considerar as provas insuficientes. Contudo, no livro, Bolton cita Trump numa reunião a dizer que “não enviaria nada até que todo o material sobre a investigação russa relacionada com Hillary Clinton e Joe Biden fosse entregue”, o que parece confirmar a chantagem feita por Trump ao homólogo ucraniano.

Reeleição a todo o custo

Outro dos episódios referidos por John Bolton como exemplo da tentativa de Trump garantir a reeleição a todo o custo é uma conversa com o Presidente chinês, Xi Jinping, na cimeira do G20 em Osaca, no Japão, em Junho de 2019. Nessa reunião, Xi terá mostrado a sua preocupação com o aumento das críticas ao Governo chinês nos EUA. Assumindo que Xi Jinping se referia ao Partido Democrata, Trump, continua Bolton, “implorou” ao Presidente chinês para que a China comprasse mais produtos agrícolas americanos, o que aumentaria a popularidade de Trump nos estados mais rurais.

“Então, surpreendentemente, Trump virou a conversa para as próximas eleições presidenciais nos EUA, referindo-se à capacidade económica da China para interferir nas campanhas em curso, implorando a Xi para que garantisse que ele venceria as eleições”, escreve Bolton, num excerto divulgado pelo New York Times.

John Bolton acusa ainda Trump de tentar interferir em investigações criminais em curso, com objectivo de “favorecer ditadores de quem gostava”, sendo que o antigo conselheiro de Segurança Nacional garante que comunicou os seus receios a William Barr, procurador-geral, classificando a atitude de Trump como “obstrução da justiça como modo de vida”. 

Neste aspecto, a China volta a ser referida, desta feita devido à ZTE, uma empresa de telecomunicações condenada a pagar multas por violar as sanções impostas ao Irão e à Coreia do Norte, em que Trump ter-se-á oferecido para suavizar as multas.

Também a Turquia é referida, num caso que envolve o Halkbank, um banco investigado por um esquema de evasão às sanções americanas impostas ao Irão. De acordo com Bolton, que cita uma reunião em Buenos Aires, no final de 2018, o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan entregou um memorando do escritório de advogados que representa o Halbank, ao qual Trump respondeu, sem ler o documento, que “trataria das coisas”.

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