Covid-19: Uso de cheques e levantamentos caíram para mínimos de 20 anos

Cresceram as compras online e com cartões com tecnologia contactless . Compras de vestuário para adultos, com cartão, caíram 99% e disparam as de electrodomésticos e alimentares.

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Incentivos ao pagamento por aproximação de cartão com bons resultados Miguel Manso

O estado de emergência e as medidas de confinamento provocaram uma profunda alteração nos hábitos de pagamento dos portugueses, como mostram os dados de Abril, divulgados esta segunda-feira pelo Banco de Portugal (BdP). A pandemia de covid-19 explica um crescimento dos pagamentos com cartão, mas sem contacto (contactless) e dos pagamentos online. E uma queda, sem precedentes, na utilização dos cheques e das operações com cartão com a necessidade de introdução do código pessoal.

Os dados completos de Abril acentuaram uma tendência que já vinha do mês anterior, com a queda dos cheques. Foram realizados 1,2 milhões de pagamentos com cheques, no valor de 4,1 mil milhões de euros, o que corresponde a reduções de 44,9% em número e de 47,9% em valor relativamente a igual período do ano anterior.

“A redução drástica da actividade económica e a preferência dos agentes económicos pela utilização de instrumentos de pagamento que exijam um menor contacto físico contribuíram para estes números, que correspondem à quantidade e ao valor mais baixos registados, ao longo dos últimos 20 anos, nas operações com cheques”, refere o BdP, em comunicado. Acrescentando que “pese embora o decréscimo na utilização dos cheques, aumentou a percentagem de cheques devolvidos por insuficiência de provisão: 0,48% em número e 0,41% em valor, o que compara com taxas significativamente mais baixas no período pré-pandemia (em Fevereiro, 0,27% em número e 0,23% em valor)”.

Os levantamentos de numerário, que foram desencorajados, diminuíram, em termos homólogos, 51,9% em número e 40,3% em valor, tendo sido efectuados, em Abril, apenas 17,2 milhões de levantamentos no valor de 1,5 mil milhões de euros. “Ao longo dos últimos 20 anos, não existe registo de um número tão reduzido de levantamentos de numerário”, lê-se no comunicado.

Em média, os portugueses levantaram por dia menos 32,8 milhões de euros e efectuaram menos 52,8 milhões de euros de compras, comparando com o mesmo período de 2019.

Crescimento de 200% nos electrodomésticos

As operações com cartão de pagamento decresceram 42,9% em número e 28,8% em valor, face ao mesmo período do ano passado, tendo sido realizadas 114,7 milhões de operações, no valor de 7,3 mil milhões de euros, o representa o número mais baixo desde Fevereiro de 2009, e em valor desde Fevereiro de 2015.

“Esta evolução negativa deveu-se essencialmente à forte redução nos levantamentos, compras e operações de baixo valor (como portagens e parques de estacionamento)”, refere o BdP.

As compras efectuadas decresceram de forma igualmente significativa relativamente ao período homólogo: 42,5% em número e 39,7% em valor, para 60,9 milhões de operações (número mais baixo desde Fevereiro de 2014), no valor de 2,4 mil milhões de euros (valor mais baixo desde Fevereiro de 2015).

Segundo a mesma fonte, as quebras que variaram entre 16% no comércio a retalho e 97% no alojamento. “Em termos absolutos, os sectores mais afectados foram a restauração e o comércio a retalho, com reduções de, respectivamente, 354,4 milhões de euros e 316,3 milhões de euros face ao transaccionado com cartão no período homólogo”, adianta o BdP.

Uma análise detalhada ao sector do comércio revela que “as compras com cartão subiram 209% na aquisição de electrodomésticos (mais 44,7 milhões de euros) e 109% no subsector das frutas e produtos hortícolas (um aumento de 6,6 milhões de euros)”, em termos homólogos.

A evolução verificada no sector das compras de electrodomésticos terá resultado, numa primeira fase, de um crescimento na aquisição de equipamentos domésticos para apoio ao período de confinamento, como sejam frigoríficos e aspiradores, e, numa segunda fase, de computadores e impressoras, para permitir a realização de teletrabalho e o acesso ao ensino em casa.

Como seria de esperar, em termos absolutos, a maior subida nas compras com cartão ocorreu nos supermercados e hipermercados (mais 144,9 milhões de euros) e, em sentido oposto, a maior redução em termos absolutos verificou-se no subsector do combustível para veículos a motor (menos 67,6 milhões de euros).

Os dados mostram que, com o encerramento das lojas físicas, “o subsector do vestuário para adultos – que, em Abril de 2019, era o segundo mais relevante no comércio a retalho – registou em Abril de 2020 uma quebra de 99%, passando de 155,3 milhões de euros para apenas 1,6 milhões de euros”.

Menos 67% de levantamentos por estrangeiros

O turismo foi um dos sectores com fortes impactos negativos da covid-19 e isso é patente na redução dos levantamentos efectuados por estrangeiros em Portugal, que caíram 67% em número e 62,3% em valor, com menos 743 mil operações no valor de 80,9 milhões de euros, em comparação com Abril do ano passado.

No que se refere às compras, a queda foi ainda mais acentuada: 86,6% em número e 87% em valor (menos 6,1 milhões de compras no valor de 355,7 milhões de euros).

Apesar da redução generalizada na utilização dos cartões de pagamento, as compras online e as compras com recurso à tecnologia contactless (com aproximação do cartão ao terminal de pagamento e sem necessidade de marcação de código) continuaram a registar crescimentos significativos em Abril de 2020. 

As compras com contactless, fortemente incentivadas pelos bancos, cresceram, comparativamente com o período homólogo, 44% em número e 123% em valor. O valor médio destas operações passou de 17,8 euros em Março para 21,3 euros em Abril de 2020, em resultado do aumento do limite máximo dos pagamentos contactless para 50 euros.

O regulador avança ainda que o peso das compras com a tecnologia contactless no total de compras com cartão subiu também de forma expressiva: em Fevereiro de 2020, 11,6% das compras com cartão foram efectuadas com esta tecnologia e, em Abril de 2020, 17,4%.

As compras com a tecnologia contactless foram realizadas maioritariamente no sector do comércio a retalho (81,2% em número e 85,5% em valor).

De acordo com os dados agora divulgados, nas compras online, manteve-se a tendência verificada no período pré-pandemia para as compras online em sites de comerciantes portugueses, as quais aumentaram 21% em quantidade e 53% em valor em Abril, face ao período homólogo. Já as compras efectuadas em sites estrangeiros reduziram 18% em valor e cresceram 10% em quantidade.

Em termos globais, o peso relativo das compras online no total de compras efectuadas com cartão passou de 7% em número e de 8,1% em valor, em Fevereiro de 2020, para 11,2% e 10,8%, respectivamente, em Abril de 2020. 

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