Quaresma 10 – 0 Ventura

O comentador de futebol do Benfica que se tornou deputado à Assembleia da República pediu medidas especiais para o confinamento da comunidade cigana. “O populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”, respondeu Quaresma.

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LUSA/RUNGROJ YONGRIT

André Ventura, o comentador de futebol do Benfica que se tornou deputado à Assembleia da República, tem-nos brindado com um acentuar do tom provocatório e insultuoso para com minorias étnicas e sociais e grupo mais vulneráveis na sociedade. Já sugeriu a deportação de Joacine Katar Moreira para o seu país de origem, já defendeu aqueles que insultaram o jogador Marega numa partida para o campeonato de futebol. A lista de barbaridades é grande, apesar de, em cada um desses episódios, acabar sempre com uma vitimização do próprio.

Desta vez, pediu medidas especiais para que o confinamento da comunidade cigana fosse outro. É racismo. Vindo de um partido que tem fascistas e neo-nazis nas suas fileiras, não é de estranhar. Mas o assunto é sério e ignorar não é uma solução.

Em reacção, Quaresma a quem presto a minha admiração total — criticou o comentador de futebol do Chega pelo discurso racista sobre a comunidade cigana. “O populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade” foram as palavras escolhidas pelo próprio.

Como em casos anteriores, já aqui referenciados, a táctica é sempre a vitimização. O problema é que nem sempre corre e André Ventura incorreu em mais uma das suas muitas contradições. O deputado que tantas vezes se queixou de o quererem calar sugeriu que a Federação Portuguesa de Futebol interferisse no sentido de garantir que os atletas não deviam tomar posições políticas.

Escusado será dizer que a proposta em causa é abjecta e claramente inconstitucional. Torna-se estapafúrdia porque, rapidamente, se aplica ao contrário. Ter cidadãos livres, sejam atletas profissionais ou desempenhem qualquer outra profissão, é um direito constitucional fundamental e desejável que aconteça numa Democracia participada e madura, ter deputados pagos para defender um clube é discutível e duvidoso no plano do conflito de interesses. Aliás, aplicada a lógica do comentador/deputado, já não ocuparia sequer o lugar. Ainda bem que o Estado de Direito não se rege pelas suas atoardas.

Ainda sobre o assunto do papel da Federação Portuguesa de Futebol nisto tudo, instituição que tanto se tem associado às campanhas do fairplay e do “Say No to Racism”, está na hora de passar do marketing à acção concreta e responder com clareza ao sucedido, colocando-se do lado de um cidadão que, por acaso é futebolista, e já nos representou. Se queremos levar o assunto de forma séria, temos de reivindicar um papel proactivo na luta contra o Racismo. A FPF tem o dever político, desportivo e moral de o fazer. O futebol não pode ser mais o espectáculo onde os atletas, sejam eles brancos, negros ou ciganos, são os nossos heróis no dia da vitória e remetidos ao esquecimento no dia seguinte.

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