André Ventura “propõe” que Joacine “seja devolvida ao seu país de origem”. Livre acusa-o de racismo

Líder do Chega fez comentário na página de Facebook. Partido de Joacine Katar Moreira denuncia ataques de índole racista de Ventura e “Chicão”, novo dirigente do CDS-PP. Bloco quer que AR condene declarações.

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André Ventura na Assembleia de República Nuno Ferreira Santos

Num comentário publicado no Facebook a uma das propostas de alteração ao Orçamento do Estado 2020 do Livre, André Ventura sugere que a deputada Joacine Katar Moreira “seja devolvida ao seu país de origem”. O líder do partido de extrema-direita Chega reagia assim à medida apresentada pelo Livre para que o património das ex-colónias portuguesas que esteja na posse de museus e arquivos nacionais possa ser identificado, reclamado e restituído às comunidades de origem. O partido de Joacine criticou com veemência as declarações de Ventura e o Bloco de Esquerda acrescentou que este “acto exige de todos uma frontal condenação”.

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Publicação de André Ventura

Na sua publicação, Ventura acrescenta que a “devolução” da deputada do Livre, natural da Guiné-Bissau, seria mais tranquila para “todos”, incluindo o partido pelo qual Joacine foi eleita — uma referência à tensão vivida nos últimos dias entre a deputada e a direcção do Livre. O PÚBLICO contactou André Ventura, que explicou que a linguagem usada “é obviamente irónica” (não estava a referir-se a uma deportação física) e que a intenção é demonstrar que “quem permanentemente ataca a história de Portugal, se calhar, não está cá a fazer nada”.

“Nesse sentido, tudo o que nós investimos nas nossas colónias, deveria ser devolvido”, acrescentou.

A deputada do Livre também usou o Facebook para responder ao dirigente do Chega. "Não é ‘deportada’, é ‘deputada'”, ironizou Joacine Katar Moreira, num post entretanto apagado.

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Resposta de Joacine, entretanto apagada

Em resposta à publicação de André Ventura, o partido Livre denuncia “ataques de carácter e referências de índole racista por parte de deputados e dirigentes partidários da direita” dirigidos a Joacine Katar Moreira, apontando o dedo ao Chega mas também ao CDS-PP. Classificando como “deploráveis e racistas” as palavra de André Ventura, o partido de Joacine visa ainda as declarações “sexistas e deselegantes” de Francisco Rodrigues dos Santos, “Chicão”, novo dirigente do CDS-PP, que disse que no seu partido “não há Joacines”, dando a entender que não retirará a confiança política à actual líder parlamentar, Cecília Meireles.

“O LIVRE não pode deixar de repudiar veementemente esses ataques e o uso de uma linguagem depreciativa e difamatória, que perpetua estigmas racistas e sexistas na sociedade portuguesa”, escreve o partido.

Na sequência das declarações de André Ventura, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, escreveu no Twitter: “André Ventura pede a deportação de Joacine Katar Moreira, expressão de racismo e falta de noção democrática. Este acto exige de todos uma frontal condenação. É isso que proporemos ao Presidente da Assembleia da República e a todos os parlamentares.”

Recentemente, no Parlamento, André Ventura assumiu ter recebido uma contra-ordenação por causa de uma publicação nas redes sociais. “Ainda há umas semanas eu próprio recebi uma multa em casa por fazer uma publicação no Facebook. Mas que país é este que multa pessoas por fazerem comentários no Facebook e que podem ter uma qualquer interpretação racista?”, questionou o deputado perante a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.

O comício do Chega no Porto também levou a acusações de que o partido integra membros pertencentes a grupos neonazis. Num vídeo recolhido durante o convívio, é possível ver que, durante o hino nacional, um dos participantes faz a saudação nazi em direcção a André Ventura. Confrontado pelo PÚBLICO, o líder do Chega diz que “lamenta profundamente o incidente”, alegando que “é impossível controlar" o comportamento de “centenas de pessoas”.

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