“No CDS não existem Joacines”, afirma o novo líder em Belém

Francisco Rodrigues dos Santos levou comitiva abrangente ao encontro com o Presidente da República, mas não se comprometeu nem com a continuidade da líder parlamentar Cecília Meireles, nem com o apoio a uma eventual recandidatura de Marcelo. Apenas garantiu que vai procurar pontos de convergência com o PSD.

Foto
A nova direcção do CDS foi apresentar cumprimentos ao Presidente da República LUSA/TIAGO PETINGA

O novo líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, chegou ao Palácio de Belém rodeado de “diferentes sensibilidades” do partido, esteve reunido durante quase uma hora com Marcelo Rebelo de Sousa e saiu prometendo união “para abrir um novo ciclo na política portuguesa, que vai transmitir uma nova energia aos eleitores e fazer com que os portugueses voltem a acreditar no CDS”. Mas quando, perante a cara fechada da líder parlamentar, Cecília Meireles, lhe perguntaram se apoiará a sua recandidatura no cargo, recusou-se a responder. Preferiu dizer que “no CDS não existem Joacines”.

“O CDS está unido, prova disso são as sensibilidades que se apresentaram no congresso que se souberam agregar nesta comitiva que está hoje aqui presente no diálogo estruturado com o nosso Presidente da República, portanto faz-nos antever que este CDS está forte, está mobilizado e é um partido virado para o futuro”, atirou Francisco Rodrigues dos Santos, quando questionado sobre a confiança num grupo parlamentar onde não tem nenhum apoiante.

A questão da liderança parlamentar será o primeiro desafio interno que Francisco Rodrigues dos Santos irá enfrentar, logo após a votação final do Orçamento do Estado (OE). Na segunda-feira, após uma reunião com o novo presidente do partido, Cecília Meireles fez saber que haverá eleições na bancada após o OE, mas não revelou se se recandidata ao cargo. Francisco Rodrigues dos Santos também não se compromete com qualquer solução. Apenas avisa que não quer problemas de falta de comunicação ou insubordinações como as que se têm assistido no Livre.

“Tenho uma confiança inabalável em todos os deputados do CDS, no CDS não existem Joacines, existe um grupo de pessoas que partilham dos mesmos valores, estão sintonizados na mensagem que querem passar para o país, porque o CDS é um partido fundador da nossa democracia e o nosso adversário é o PS, é o Governo de António Costa, que merecerá da nossa parte uma oposição séria, leal e construtiva e não será uma chuva de críticas”, afirmou, na terceira e última resposta que deu aos jornalistas. Logo a seguir virou as costas com um “por agora é tudo”, indiferente às novas perguntas que ficaram no ar.

A mensagem que queria transmitir era outra e começou por fazê-lo de forma clara. Afirmou que a sua direcção “quer representar uma lufada de ar fresco, com um conjunto de personalidades renovadas, para abrir um novo ciclo na política portuguesa”. E apresentou algumas das propostas de alteração ao OE escolhendo a dedo aquelas que mais se aproximam das bandeiras do Iniciativa Liberal e do Chega.

“Queremos um alívio fiscal para a classe média, sobretudo nos primeiros três escalões do IRS, mas também estimular a iniciativa privada, o crescimento e a criação de emprego, e por isso a redução da taxa do IRC para 19%”, afirmou. Na educação, “continuamos a agitar energicamente a bandeira da liberdade de escolha, dando às famílias o direito de escolher qual o estabelecimento de ensino que os seus filhos devem frequentar. E para as forças de segurança, defendemos a admissão de 2500 novos quadros”.

Francisco Rodrigues dos Santos afirmou mesmo que o Presidente da República tinha mostrado “um grande entusiasmo sobre esta configuração actual do CDS”, por ser “um partido virado para o futuro, que quer entusiasmar os portugueses e preencher um espaço de liderança da direita em Portugal, comprometido na solução de uma raiz alternativa ao socialismo que passará certamente por pontos de contacto, soluções de compromisso e convergência com os nossos aliados tradicionais”. Esta promessa de aproximação ao PSD poderá, de facto, ter animado Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha grande expectativa sobre o posicionamento do novo líder centrista.

Já este não revelou um particular entusiasmo com um possível apoio a uma eventual recandidatura de Marcelo. Questionado sobre o assunto, o novo líder do CDS disse que esse não foi tema da conversa, “até porque a iniciativa desse apoio não deverá partir do CDS, dado que as candidaturas presidenciais têm raiz numa vontade do próprio que não nos foi transmitida”. “Vamos escutar primeiro qual é a vontade do nosso Presidente da República, depois reuniremos os órgãos próprios do partido, onde faremos uma avaliação”, limitou-se a dizer, remetendo para a decisão para as calendas.

Livre condena “sexismo” do CDS e “racismo” do Chega

O Livre não demorou a reagir às declarações do novo líder do CDS que considerou “sexistas e deselegantes”. Pouco depois da conferência de imprensa em Belém, o partido divulgou um comunicado no qual lamenta os “contínuos ataques de carácter e referências de índole racista por parte de deputados e dirigentes partidários da direita, nomeadamente do CDS-PP” que têm como alvo a deputada Joacine Katar Moreira. No mesmo comunicado, o Livre criticou as declarações feitas também pelo deputado e líder do Chega, André Ventura, que considerou racistas.

Em causa estão as declarações de André Ventura feitas também esta terça-feira. Numa publicação feita no seu Facebook, André Ventura “propõe” que Joacine Katar Moreira regresse “ao seu país de origem”. A publicação do líder do Chega refere-se à proposta de alteração ao Orçamento do Estado apresentada pelo Livre na qual o partido defende a devolução do património dos museus às ex-colónias, uma medida que o Livre previa no seu programa eleitoral.

“Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem. Seria muito mais tranquilo para todos… inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal!”, escreveu André Ventura na sua partilha. Uma declaração que o Livre apelidou de “deplorável e racista”.

Na nota, o Livre repudia veementemente os ataques e a linguagem “depreciativa e difamatória” que perpetua estigmas racistas e sexistas na sociedade portuguesa. “As divergências políticas não podem dar lugar nunca a manifestações discriminatórias”, muito menos por parte de deputados ou líderes partidários, conclui o partido.

Sugerir correcção