Zelensky nomeia ex-Presidente da Geórgia vice-primeiro-ministro da Ucrânia

Mikheil Saakashvili, que aguarda aprovação parlamentar, ficará responsável pelas reformas económicas e negociações com o Fundo Monetário Internacional, ao qual já exigiu o dobro da ajuda financeira para a Ucrânia.

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Receia-se que o antigo Presidente da Geórgia dê força à ala anti-Rússia no seio do Governo ucraniano VALENTYN OGIRENKO/Reuters

O Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, nomeou vice-primeiro-ministro o antigo presidente georgiano, Mikheil Saakashvili,  para ficar responsável pelas reformas económicas e negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Sem querer esperar pela aprovação parlamentar, Saakahsvili mostrou logo ao que vinha, exigindo o dobro da ajuda financeira à organização internacional. 

“Espero ser um membro de confiança da equipa e ajudar o povo ucraniano”, disse em comunicado Saakashvili, de 52 anos. “Também espero que a minha experiência internacional seja útil aos membros do Governo, incluindo nas relações com organizações internacionais financeiras, para fortalecer o prestígio da Ucrânia”. 

Saakashvili foi Presidente da Geórgia entre 2004 e 2012, depois de levar a cabo um golpe de Estado contra o Presidente Eduard Shevardnadze, e ganhou reputação de homem duro no combate à corrupção e na implementação de reformas. Fê-lo no seu país de origem (tem cidadania ucraniana desde 2016) na esperança de que um dia viesse a integrar a NATO e a União Europeia, mas a invasão da Rússia, em 2008, veio afastar essa possibilidade até aos dias de hoje

Sem estar ainda no cargo, Saakashvili exigiu ao FMI que “duplicasse pelo menos” os empréstimos à Ucrânia, por os quatro mil milhões de dólares fornecidos este ano “não serem suficientes”. “É um assunto de sobrevivência”, garantiu o futuro provável vice-primeiro-ministro.

A economia sofreu bastante com a anexação da Crimeia e a guerra contra os independentismos no Leste do país, desde 2014, e o Governo pediu ajuda ao FMI na ordem dos oito mil milhões de dólares. Mas a ajuda veio com contrapartidas e, por isso, a Ucrânia vê-se obrigada a avançar com reformas económicas e que combata a corrupção que se tornou epidémica no país. E tudo indica que Saakashvili será o novo alvo dos oligarcas.

Zelenski, que na campanha eleitoral prometeu combater a corrupção e recuperar a economia, tem tido dificuldades em cumprir as exigências do FMI. Vê-se entre os interesses dos oligarcas que o apoiaram nas presidenciais e as exigências da organização financeira, entrando em choque com os primeiros e atrasando o avanço das reformas, para frustração do FMI. 

A situação tem-se degradado e o Presidente estava desde Janeiro à procura de um vice-primeiro-ministro que ficasse responsável pela pasta das negociações internacionais e reformas. Candidatos recusaram e outros foram postos de lado e Zelensky acabou por escolher Saakashvili, figura que não granjeia grande confiança entre a elite política ucraniana, disse à Al-Jazeera Volodimir Fesenko, director do Center for Political Studies. 

Zelensky acredita que a nomeação vai mostrar que Kiev continua a ter uma abordagem euro-atlântica, dado o apoio de Saakashvili à União Europeia e à NATO, e, por outro lado, contrapor o poder que o ministro da Administração Interna, Arsen Avakov, detém, visto por muitos como o homem com o verdadeiro poder na Ucrânia. 

Mas o ex-Presidente georgiano também poderá fortalecer a ala anti-Rússia no seio do executivo, dado ter uma forte narrativa anti-Moscovo, e representar um futuro desafio à liderança de Zelenski se as suas decisões não forem aceites, pois tem um passado de confronto com quem lhe estendeu a mão – aconteceu com o Presidente Petro Poroshneko quando era governador de Odessa. 

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