O ensino e os professores na Escola Pública durante a pandemia covid-19

Sendo inquestionável a gratidão e a valorização dos profissionais de saúde, vale a pena reforçar e elogiar o esforço sobre-humano que os directores e coordenadores de escola, professores e pessoal não docente têm feito para se reinventarem e reconstruírem neste tempo de mudança em que tudo mudou e nada é como antes.

O que mudou estas últimas semanas na escola pública portuguesa? Na verdade, tudo mudou na vida das escolas como as conhecíamos quer para os alunos, quer para os pais, quer para os professores. Acima de tudo, destacam-se as necessidades tecnológicas e de acessibilidade aos meios tecnológicos, bem como as desigualdades sociais que se traduzem de forma evidente na diferente capacidade de acesso à comunicação e informação e ao conhecimento.

O isolamento social e as várias fases que temos assistido de emergência nacional e de mitigação do coronavírus, que põem em causa a conclusão do ano lectivo conforme o conhecemos, exigem também dos professores competências pedagógicas adaptadas ao ensino à distância, bem como o acesso a ferramentas para as quais não tinham tido a formação e a preparação prévia necessária ou adequada, como o caso do Moodle, Zoom, Classrrom, entre outras.

Ainda que seja questionável se é possível ou não a transmissão de conhecimentos aos alunos desta forma, através de ferramentas de ensino à distância, nesta fase do ano lectivo em curso, dada a desigualdade de acessibilidades por parte dos mesmos, o certo é que em cerca de duas semanas temos visto autênticos milagres a operarem em muitas escolas do país, de forma a se preservarem aprendizagem essenciais e conteúdos essenciais e se concluir o 2.º período.

Tenho contactado diariamente com centenas de professores que se desdobram para aprenderem a usar estas ferramentas e em criarem novas formas de comunicar entre eles, para desenvolverem práticas colaborativas, para comunicarem com os alunos e os monitorizarem, até mesmo para se garantir a realização das reuniões de avaliação do final do período. Até mesmo se assiste a esforços para se compensarem as diferenças na comunicação por interferência dos elementos estranhos à interacção e comunicação entre professores e na relação pedagógica com os alunos.

Como refere Norman Friesen, um conhecido investigador na área da educação tecnológica, que tem dedicado a sua vida a explorar estas diferenças, em particular os problemas que surgem sempre que a tecnologia é introduzida no contexto educativo, para além das limitações da demonstração de conhecimentos, surge a necessidade de avaliar também o impacto na relação pedagógica estabelecida ao nível do contacto visual, da distorção da imagem/aparência pessoal, do sentimento de avaliação pela observação directa, bem como as interferências a nível vocal.

E, apesar de tudo isto, as mensagens entre professores, entre professores e alunos e encarregados de educação exponenciaram-se, os mails multiplicaram, as chamadas intensificaram, tudo em prol da escola, do ensino, dos alunos e de se conseguir fazer mais e melhor todos os dias, às vezes mesmo sem condições físicas, materiais e tecnológicas adequadas.

Sendo inquestionável a gratidão e a valorização dos profissionais de saúde, vale a pena reforçar e elogiar o esforço sobre-humano que os directores e coordenadores de escola, professores e pessoal não docente têm feito para se reinventarem e reconstruírem neste tempo, num espaço de tempo de mudança em que tudo mudou e nada é como antes e em que nunca antes a comunicação no contexto educativo foi tão determinante. O que vivemos actualmente poderá constituir ainda um momento na história do contexto educativo marcante para a reestruturação futura de estratégias pedagógicas e políticas educativas.

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