Álvaro Siza vai projectar novo edifício para a Fundação Marques da Silva

Futuro centro de documentação está orçado em quatro milhões de euros, que a fundação quer reunir com apoio mecenático e fundos europeus. O arquitecto diz que o seu objectivo é “não estragar o belo conjunto já existente”.

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Maqueta do projecto para o Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva Atelier Álvaro Siza

O arquitecto Álvaro Siza é o autor do projecto do novo Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva (FMS), uma instituição sob tutela da Universidade do Porto (UP) que vem acolhendo espólios e arquivos de nomes relevantes da arquitectura portuguesa.

O novo edifício será construído no jardim que integra a propriedade, junto à Praça do Marquês de Pombal, que a família do arquitecto José Marques da Silva (1869-1947) doou à UP, e a fundação propõe-se, com ele, marcar uma nova fase da sua história e da sua actividade. O custo do edifício está orçado em quatro milhões de euros e, para a sua concretização, a FMS vai lançar uma campanha de mecenato e candidatar o projecto a fundos europeus.

Se se confirmarem as melhores expectativas, “o novo centro de documentação poderá ficar pronto dentro de três a quatro anos”, avança ao PÚBLICO o arquitecto Luís Urbano, vice-presidente da FMS e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP).

A realizar-se a obra, Siza verá nascer no Porto um equipamento para arquivos de arquitectura, depois de ter visto gorado o projecto de raiz que, há cerca de uma década, fez para a Câmara de Matosinhos, mas que viria a ficar pelo caminho e a ser substituído pela reconversão da antiga Real Vinícola na actual Casa da Arquitectura.

Ao PÚBLICO, o arquitecto disse-se “sensibilizado” com o convite que lhe foi feito pela FMS, “que já possui um depósito muito rico de arquivos de arquitectura”, nota. E explicou que a sua principal preocupação foi “não estragar o belo conjunto já existente”, que, além da casa-atelier de Marques da Silva e do palacete da família da sua mulher, tem “um belíssimo jardim, num local óptimo do Porto”. “Se se conseguir que o projecto seja construído, fico muito satisfeito”, acrescenta, também agradado com a possível vizinhança de uma obra do arquitecto da Estação de São Bento.

A maqueta do novo projecto –​ o edifício terá dois pisos e uma área de 2500 metros quadrados – ​vai ser apresentada publicamente no dia 13 de Março, altura em que a fundação assinala os 150 anos do nascimento de Marques da Silva, efeméride que vem comemorando desde 18 de Outubro.

O novo centro de documentação irá permitir a substituição das actuais estruturas edificadas na propriedade da família Marques da Silva, e “garantir as condições ideais para a conservação da expressiva colecção, que passará a reunir o acervo de 50 grandes arquitectos portugueses”, diz a fundação em comunicado, citando os exemplos de Fernando Távora, José Carlos Loureiro, Arménio Losa, Viana de Lima, Alcino Soutinho e Hestnes Ferreira.

Ao actual acervo da FMS irão acrescentar-se, a partir de 13 de Março, os arquivos da FAUP: um protocolo a assinar nesse dia determinará a fusão dos dois centros documentais, que ficarão sob a responsabilidade da fundação. “Com a construção no novo centro de documentação, a FMS passará a dispor de um espaço dedicado ao acolhimento do espólio pessoal e profissional dos maiores arquitectos portugueses”, realça a instituição.

Siza inédito e “mais arquitectura”

Nesse mesmo dia, em que se fará também o lançamento da campanha de mecenato para a construção do edifício, a FMS vai inaugurar as exposições Siza – Inédito e Desconhecido e Mais Arquitectura. A primeira vai mostrar, pela primeira vez em Portugal e com alguns acrescentos inéditos, um conjunto de desenhos e esculturas do arquivo pessoal do primeiro Pritzker português, que incluem desenhos da sua mulher Maria Antónia Siza (1940-1973) já apresentados, no ano passado, na Fundação Tchoban, em Berlim, com curadoria de António Choupina e Kristin Feireiss.

Mais Arquitectura, comissariada por Luís Urbano, mostra como os interesses dos arquitectos portugueses representados nos arquivos da FMS ultrapassaram muitas vezes os limites estritos da arquitectura e exploraram os campos da fotografia, do cinema, da escrita, do ensino, dos media, do coleccionismo e das viagens. Um exemplo é a série de desenhos e fotografias da viagem que Fernando Távora realizou nos anos 60 à América e ao Japão, e que será também mostrada na exposição. Ambas ficarão patentes até 26 de Setembro.

A FMS vai ainda formalizar nesse sábado a incorporação no seu centro de documentação dos acervos dos arquitectos Bartolomeu Costa Cabral, Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez.

Com o futuro edifício de Siza, a FMS pretende ampliar e abrir as suas actividades a um público mais vasto, nomeadamente com a organização de mais exposições temáticas, debates e lançamentos de livros. “​Um dos grandes objectivos é abrir a fundação ao público em geral, com uma programação continuada, que permita alargar à comunidade o conhecimento acerca das obras dos arquitectos que confiaram à instituição o trabalho de preservação, catalogação e promoção das suas obras, e, ao mesmo tempo, criar condições mais estruturadas para o trabalho de investigação das mesmas e para o acolhimento de novos acervos”, diz, em comunicado, Fátima Silva, vice-reitora da UP e presidente da FMS.

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