Confrontos religiosos em Deli fazem mais de 30 mortos

Terceira noite consecutiva de violência na capital indiana teve a lei da cidadania como pano de fundo. Mesquitas, casas e lojas muçulmanas foram vandalizadas e um dirigente do partido de Modi é acusado de ter instigado os confrontos.

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Exército mantém a ordem no meio dos destroços, a Nordeste da capital Reuters/Adnan Abidi

Pelo menos 32 pessoas morreram desde domingo, em Deli, naquele que já é o mais violento e mortífero conflito religioso e sectário das últimas décadas na capital da Índia e que tem como catalisador a polémica lei de cidadania, aprovada pelo partido do primeiro-ministro, Narenda Modi, em Dezembro do ano passado.

Terça-feira foi a terceira noite consecutiva de confrontos e motins na região Noroeste da cidade, com registos de perseguições e ataques a mesquitas, estabelecimentos comerciais e casas particulares detidas por muçulmanos.

Diversas fotografias e vídeos postos as circular nas redes sociais mostram edifícios, veículos e bombas de gasolina incendiadas, arremessos de pedras entre os dois lados do confronto – e contra a polícia – e grupos de indianos, identificados como hindus, armados com paus e barras de ferro, a agredirem muçulmanos nas ruas, muitos deles desarmados.

A violência começou no domingo, durante (mais) um protesto contra a legislação do partido Bharatiya Janata (BJP), muito por culpa das palavras de Kapil Mishra, referem a BBC e o Guardian. O dirigente do BJP desafiou os hindus a dirigirem-se ao local da manifestação para dispersarem os participantes no protesto e deu às autoridades um prazo para o fazerem também, ou arcarem com as consequências. 

O protesto terminou abruptamente, com os dois grupos a atirarem pedras e outros objectos um ao outro, e a situação descontrolou-se. Segundo o Hindustan Times, mais de 250 ficaram feridas e foram detidas outras 100. Foi entretanto decretado recolher obrigatório nas áreas de Deli afectadas pelos motins e o Exército foi mobilizado para patrulhar as ruas.

Pelo menos três políticos do BJP – um partido nacionalista hindu –, incluindo Mishra, foram já acusados de incitar a violência e ao ódio contra os muçulmanos. A BBC informa que um tribunal de Deli está, neste momento, a analisar queixas que pretendem que estes sejam responsabilizados judicialmente.

O próprio Modi, que esta semana conta com a visita de Donald Trump à Índia, foi criticado por apenas ter apelado à calma e à pacificação dos protestos ao fim de três dias de confrontos.

Em causa está a alteração à lei da nacionalidade, movida pelo primeiro-ministro, que permite a atribuição de cidadania indiana a imigrantes ilegais de seis minorias religiosas no Afeganistão, Paquistão e Bangladesh, como os hindus e os cristãos, por serem considerados vítimas de perseguição nos países de origem. 

A legislação excluiu, no entanto, os muçulmanos sem documentos que vivem na Índia – e que correm agora o risco de serem deportados – e outros muçulmanos de minorias perseguidas na região, como os rohingyas na Birmânia ou os ahmadis no Paquistão.

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