Twitter suspende dezenas de contas pro-Bloomberg, suspeitas de spam e manipulação eleitoral

Pelo menos 70 utilizadores no Twitter estavam a publicar mensagens exactamente iguais a favor do candidato democrata Michael Bloomberg. O Twitter diz que é manipulação.

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A equipa de Michael Bloomberg diz que não desrespeitou a política do Twitter Reuters/Ed Kosmicki

O Twitter começou a suspender dezenas de contas com publicações, imagens, hiperligações e hashtags a favor do político norte-americano Michael Bloomberg, candidato nas eleições primárias do Partido Democrata nos EUA. O motivo: as mensagens publicadas eram todas iguais.

“O nascimento de um presidente: Barbra Streisand tece elogios a Mike”, surgia, repetidamente, em pelo menos 70 contas diferentes. Segundo o levantamento feito pelo jornal Los Angeles Times, a maioria dos utilizadores estava no site há menos de dois meses e muitos não tinham imagem no perfil. O tempo de existência das contas coincide com o anúncio da entrada de Bloomberg na corrida à Casa Branca a 24 de Novembro de 2019.

A plataforma suspeita que grande parte das contas sejam bots – programas informáticos que simulam pessoas reais, criados para amplificar determinadas ideias, nomeadamente mensagens de propaganda. Num comunicado enviado à imprensa, um porta-voz do Twitter nota que o bloqueio das contas dos apoiantes de Bloomberg surge porque o “grupo de contas” foi encontrado “a violar as regras da plataforma contra manipulação e spam”. A equipa da rede social acrescenta que, embora algumas contas estejam permanentemente suspensas, noutras os donos (se existirem) podem verificar que são humanos e que tinham o controlo das publicações que faziam.

Apesar das mensagens serem todas idênticas, algumas poderão ter sido feitas por seres humanos. Com uma fortuna de mais de 60 mil milhões de dólares, Michael Bloomberg é a pessoa mais rica a concorrer para as presidenciais norte-americanas. E o antigo mayor de Nova Iorque está a aproveitar o facto na gestão da sua campanha.

“Organizadores digitais” ganham 2500 dólares por mês

De acordo com uma investigação publicada a semana passada jornal norte-americano Wall Street Journal, a equipa de comunicação de Bloomberg contratou cerca de cinco centenas de trabalhadores na Califórnia para publicar regularmente mensagens nas redes sociais a favor do candidato. São apelidados de “organizadores digitais adjuntos”, e recebem cerca de 2500 dólares por 20 a 30 horas de trabalho semanais.

A equipa responsável pela campanha de Michael Bloomberg acredita que não desrespeitou a política do Twitter. Não é fora do comum políticos em campanha recrutarem voluntários para ajudar a difundir a sua mensagem, com incursões porta-a-porta e distribuição de panfletos nas ruas. “Pedimos a todos os nossos organizadores digitais adjuntos para se identificarem como sendo parte da campanha de 2020 de Mike Bloomberg nas suas contas nas redes sociais”, lê-se num comunicado de Sabrina Singh, porta-voz da campanha do candidato democrata, enviado à imprensa. Singh acrescenta que os voluntários da campanha usavam a aplicação Outvote para facilitar o envio de mensagens aos contactos que tinham nas redes sociais e motivar as pessoas a votar.

O Twitter discorda. Em Setembro de 2019, em preparação para a corrida eleitoral norte-americana, a rede social actualizou a política do site para clarificar que os serviços do Twitter não podem ser usados “de forma a amplificar mensagens artificialmente, suprimir mensagens ou sustentar comportamento que manipula e condiciona a experiência das pessoas no Twitter”.

Como as mensagens dos “adjuntos digitais” de Bloomberg são idênticas (provavelmente furto da ferramenta de “copiar” e “colar” em massa), violam as regras do site através da “criação de múltiplas contas para publicar conteúdo duplicado”.

O problema de mensagens políticas idênticas não é exclusivo a Bloomberg. A ilusão de que um candidato tem apoio online pode desencadear apoio no mundo real por pessoas que querem seguir a tendência. É um fenómeno apelidado no mundo académico de “programação patriótica” e foi primeiro identificado pela equipa Polbots da Universidade de Oxford, que se dedica a investigar o impacto da propaganda computacional na vida pública.

No Brasil, por exemplo, estas redes foram detectadas em publicações antigas das eleições presidenciais de 2014, na crise constitucional que levou à destituição de Dilma Rousseff; e nos Estados Unidos foram uma parte importante das últimas eleições presidenciais, com uma rede de bots associada a hashtags sobre o actual presidente Donald Trump a ser três vezes maior que a rede associada à rival do Partido Democrático, Hillary Clinton.

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