David Santos é o novo curador da Colecção de Arte do Estado

Historiador de arte afastado da DGPC assume novo cargo em Março.

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David Santos passa de subdirector do Património Cultural a curador da Colecção de Arte do Estado DANIEL ROCHA

Quatro dias depois de o ter afastado da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), onde em Fevereiro de 2016 assumira o cargo de subdirector, o Ministério da Cultura nomeou David Santos como curador responsável pela Colecção de Arte do Estado.

Terminado o inventário deste acervo público, conduzido pela DGPC, que tinha como objectivo localizar uma centena de obras dadas como desaparecidas, caberá a David Santos “dar um novo passo no desenvolvimento de uma estratégia pública para a arte contemporânea”, segundo o comunicado do ministério. O historiador de arte, que já foi director do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, deverá “apresentar uma proposta de programação e circulação para a referida colecção”.

Além das mais de mil obras da chamada Colecção SEC, a Colecção de Arte do Estado inclui desde o início deste ano as 196 peças da antiga Colecção BPN de que o Estado tomou posse e as que o próprio MC adquiriu com a nova dotação anual atribuída pelo primeiro-ministro para a compra de obras de artistas contemporâneos portugueses. Ao longo de 2019, o primeiro ano de funcionamento da Comissão para a Aquisição de Arte Contemporânea criada por António Costa, foram adquiridas 21 obras de 21 artistas portugueses, que representaram um gasto total de 299.823 euros. Em 2020, a verba disponível subirá para meio milhão de euros.

David Santos, que iniciará funções em Março, não terminou a sua comissão de serviço na DGPC, tal como a directora-geral Paula Silva, que chegou ao fim um ano e meio antes do previsto. Antes da DGPC, o historiador de arte demitiu-se em 2015 da direcção do Museu do Chiado em discordância com o destino dado à Colecção SEC pela então tutela da Cultura, que a tinha incorporado no museu e depois recuado na decisão, na sequência de um braço-de-ferro com a Fundação de Serralves que não gostou de ver a colecção sob a alçada do museu de Lisboa.

David Santos, que não comenta a saída da DGPC, “está satisfeito com esta proposta”, disse ao PÚBLICO. “O novo desafio será importante para a divulgação e ampliação do valor artístico e social da colecção do Ministério da Cultura. Estamos na fase de preparação de um vasto programa de exposições, mas também de outras actividades paralelas, com vista a que a colecção tenha uma expressão territorial à escala do país”, continuou.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, já expressou várias vezes a vontade de criar pólos de descentralização à volta da exibição da Colecção do Estado, nomeadamente quando anunciou em Janeiro a incorporação da Colecção BPN, numa operação concertada com o Ministério das Finanças que levou ao abatimento da dívida do banco falido ao Estado em cinco milhões de euros. Este núcleo de 200 obras da Colecção do Estado, anunciou a ministra, deverá ser exposto durante 25 anos num novo pólo a criar em Coimbra e em articulação com o município.

A ministra proferiu um discurso semelhante quando revelou, numa cerimónia no Palácio da Ajuda, as primeiras compras do Estado com o novo fundo para a aquisição de obras de arte contemporâneas, uma resposta ao protesto de um grupo alargado de artistas plásticos que, numa carta entregue a António Costa em Outubro de 2018, criticaram a ausência de uma política para o sector. Por inerência, como subdirector da DGPC com a área dos museus, David Santos já integrava a comissão de aquisições da Colecção do Estado, presidido pela curadora Sandra Vieira Jürgens.

Por isso, é uma surpresa que David Santos, afastado de uma função que lhe permitiria ter um papel na definição desta mesma política para a Colecção do Estado, seja agora nomeado para um cargo mais técnico, que terá de passar por criar uma política de descentralização em cuidada articulação com os museus da DGPC que já estão no terreno ou com outros como Serralves que já têm protocolos de depósito da colecção assinados com o Ministério da Cultura.

Contactado pelo PÚBLICO, o MC nada mais tem a acrescentar ao comunicado.

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