“Brexit”: quem tem razão?

Numa Europa socialista, de pensamento único e policiado, quem nos defende deste monstro estatista? Talvez percebendo isso, os ingleses quiseram sair. Afinal são a mais velha e sólida democracia do mundo.

Depois de avanços e recuos, o “Brexit” vai mesmo para a frente pela mão do atual primeiro-ministro britânico, o conservador Boris Johnson. Parece-me apropriado fazer uma pequena reflexão sobre o futuro desenho e desígnio da nova União Europeia.

Para muita da opinião pública e publicada portuguesa, o “Brexit” terá sido um “tiro no pé” dos ingleses, para quem a retirada do projeto europeu sairá muito cara.

O argumento com que os anti-"Brexit” visavam os ingleses baseava-se no facto de considerarem que a decisão de sair da União Europeia, abandonando um extraordinário mercado de 400 milhões de pessoas, sem barreiras alfandegárias e com livre circulação, era uma loucura. Os ingleses deviam estar loucos!

O inglês londrino até percebia este argumento e manifestava-se contra o “Brexit”, mas perdia perante o pouco esclarecido inglês rural. Mas será mesmo assim?

Há dias, em conversa com um pequeno empresário, este manifestou-me a sua indignação, pois tendo necessidade de se deslocar ao estrangeiro para tratar de negócios, quis levantar uma pequena quantia em dinheiro para as despesas.

Ficou surpreendido quando o seu banco lhe exigiu o preenchimento de um formulário justificativo para a operação. Dizia-me ele “porque tenho que justificar o que faço com o meu dinheiro?”

Estamos a falar de pequenos montantes. Muito pequenos.

Obviamente que o argumento do combate à fraude e evasão fiscal é correto, mas não estará a legitimar um controlo exagerado?

Depois do que vamos sabendo sobre o que se passou na banca, nalguns grandes negócios das privatizações e nalguns movimentos financeiros para offshores – ainda recentemente foi notícia movimentos de dezenas de milhões de euros para o Dubai –, surpreende esta ânsia de controlo de pequenos montantes.

Depois da saga contra os produtos tradicionais por não cumprirem com as normas europeias, temos agora um “big brother” europeu, castrador da liberdade, que quer controlar todos os aspetos da vida das pessoas.

A excessiva burocracia europeia está a matar a Europa.

Aquando da surpresa do “Brexit”, sorrimos da decisão dos ingleses e quisemos apanhar as sedes das agências europeias aí localizadas. Todos nos lembramos como estivemos empenhadíssimos em trazer a agência do medicamento, por exemplo. E invejamos os alemães porque iam ficar com a praça financeira de Londres, antevendo-se logo os grandes movimentos de capitais saindo de Londres para a Alemanha.

Mas será mesmo assim?

Vivemos numa Europa cada vez mais socialista.

A experiência marxista da União Soviética e de todos os seus satélites falhou. Provou-se que o socialismo traz miséria e pobreza. Mas agora ele surge reinventado. Na União Europeia, o socialismo ocupou as escolas e universidades, a imprensa, as redes sociais. O livre pensamento é condicionado pelos polícias da linguagem e do politicamente correto, a agenda é determinada e condicionada.

Os empresários e as empresas são menosprezados e por vezes parece que criar riqueza e valor é crime.

Numa Europa socialista, de pensamento único e policiado, quem nos defende deste monstro estatista? Talvez percebendo isso, os ingleses quiseram sair. Afinal são a mais velha e sólida democracia do mundo.

E se afinal os movimentos financeiros, os grandes negócios, as grandes empresas, regressarem para o Reino Unido?

Sou um incondicional defensor da UE e das vantagens que trouxe ao nosso quotidiano, mas temo que o atual rumo possa vir a condicionar o futuro da nossa Europa e da sua extraordinária União.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 1 comentários