Netanyahu “traz de volta” israelita que estava presa em Moscovo

Vladimir Putin perdoa Naama Issachar, presa desde Abril de 2019, que regressa esta quinta-feira com Netanyahu a Israel.

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Benjamin Netanyahu e a sua mulher Sara com Naama Issachar e a sua mãe, Yaffa, no aeroporto em Moscovo Reuters

É um triunfo de Benjamin Netanyahu, acusado formalmente por corrupção e enfrentando uma terceira tentativa de ser reeleito primeiro-ministro de Israel em Março: esta quinta-feira, regressa de Moscovo acompanhando a israelita Naama Issachar, que tinha sido condenada a sete anos e meio de prisão por posse de 9,5 gramas de marijuana, e foi agora libertada graças a um perdão do Presidente russo, Vladimir Putin.

É um grande feito: a prisão de Naama Issachar pela Rússia provocou campanhas emocionadas em Israel, e Netanyahu sempre prometeu que, com a sua intervenção pessoal, iria “trazê-la para casa”.

Um responsável israelita envolvido nas negociações disse que não houve qualquer acordo assinado para a libertação de Issachar. Muitos analistas viram o perdão como uma contrapartida por Israel ter dado a Putin um lugar de destaque nas comemorações da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau no museu Yad Vashem em Jerusalém.

Este encontro em Jerusalém, organizado e pago por um próximo de Putin, foi boicotado pelo Presidente polaco porque não lhe iria ser permitido falar na cerimónia principal. Moscovo e Varsóvia têm trocado farpas sobre os respectivos papéis na II Guerra (Putin acusou a Polónia de cumplicidade com os nazis, a Polónia respondeu que a Rússia estava a desviar a atenção do seu pacto de não-agressão com Hitler).

Issachar, 26 anos, foi detida em Abril de 2019 por posse de 9,5 gramas de marijuana na mala quando fazia uma escala no aeroporto de Moscovo numa viagem de regresso da Índia (um desvio que fez para poupar no preço do voo). Com dupla cidadania, israelita e norte-americana, Issachar tinha sido soldado (numa unidade de combate) e o peso desajustado da pena a par com o seu percurso (“todos os israelitas a vêem como a filha do vizinho do lado”, dizia o Haaretz; o seu advogado na Rússia tinha previsto que a pena fosse apenas uma multa) levou a uma onda de solidariedade especial em Israel.

Netanyahu, que tem vindo a sublinhar, na sua campanha eleitoral, as suas boas relações com líderes internacionais, fez da libertação de Issachar uma prioridade. É o mais recente gesto de boa vontade de Putin para com Netanyahu: já tinha mediado a devolução a Israel do corpo de um soldado israelita morto, há 37 anos, numa batalha no Líbano (a recuperação de corpos de soldados é muito importante no país onde o serviço militar é obrigatório e muitos reservistas são chamados frequentemente).

A devolução do corpo aconteceu a seis dias das eleições legislativas de Abril, que não deram a Netanyahu uma maioria para formar uma coligação. As legislativas seguintes, em Setembro, terminaram com novo empate e nem Netanyahu nem o seu rival Benny Gantz conseguiram formar uma maioria de governo, o que levou à marcação de uma terceira eleição em Março.

Entretanto o procurador-geral israelita abriu o processo judicial contra Netanyahu por corrupção, depois de este ter retirado o pedido que tinha feito ao Parlamento para ter imunidade.

O partido de Netanyahu, o Likud, continua a apoiar o ainda primeiro-ministro e a sua alegação de que o processo contra si é uma caça às bruxas. O Partido Azul e Branco, de Benny Gantz, subiu ligeiramente nas sondagens nas últimas semanas, mas ainda está para ser visto o efeito dos últimos sucessos de Netanyahu: estar ao lado de Trump quando este apresentou o seu plano para o Médio Oriente que é favorável às pretensões israelitas (embora Trump tenha convidado também na véspera Benny Gantz para conhecer o plano), e ter trazido de volta Naama Issachar para Israel.

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