Alvo de condenação internacional, Birmânia reaproxima-se da China

Xi Jinping visitou o país vizinho para dar um impulso a vários projectos da Nova Rota da Seda e anunciou uma “nova era” nas relações entre as duas nações.

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Xi Jinping esteve reunido com Aung San Suu Kyi em Napidaw EPA/NYEIN CHAN NAING/POOL / POOL

O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou o início de uma “nova era” nas relações com a Birmânia durante uma visita de dois dias ao país vizinho, que terminou este sábado. Apesar das tensões entre os dois países, o isolamento internacional cada vez maior da Birmânia torna a China um parceiro óbvio.

Foi de negócios que Xi foi tratar a Napidaw, a capital construída no início do século pela junta militar. A Birmânia, com que a China partilha uma longa fronteira terrestre, é uma peça fundamental no grande tabuleiro da Nova Rota da Seda sobre o qual Pequim pretende estender a sua influência económica e política.

O balanço é misto. Xi regressa à China com a assinatura de 33 acordos bilaterais para a construção de infra-estruturas, incluindo projectos ferroviários e portuários. Mas não houve acordo para nenhuma nova grande parceria, diz a Reuters. A construção da barragem de Myitsone, no Estado de Kachin (norte), orçamentada em mais de três mil milhões de euros, que está parada há nove anos, não foi abordada durante a conversa que Xi manteve com a líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi.

A Birmânia é um dos países onde a China quer pôr de pé um “corredor económico”, uma ligação ferroviária entre o Sudoeste chinês e o oceano Índico, e que é parte integral da Rota da Seda, conhecida oficialmente como Iniciativa da Faixa e da Estrada.

A estratégia de expansão económica chinesa é objecto de grande desconfiança do aparelho militar birmanês, que continua a exercer muita influência. Tal como noutros países da região, prevalece o receio de que os megaprojectos promovam a contracção de dívidas pesadas, deixando os governos dependentes de Pequim.

“Tal como muitos outros países do Sudeste asiático, a Birmânia é mais ambivalente em relação à China do que frequentemente julgamos”, disse ao Financial Times o analista do Lowy Institute Hervé Lemahieu, acrescentando que “a relação económica está mais fortalecida”.

A visita de Xi – a primeira de um líder chinês em quase duas décadas – surge numa altura de degradação acelerada da posição internacional da Birmânia, muito criticada pela ofensiva militar no Estado de Rakhine contra a minoria rohingya. Calcula-se que a intervenção forçou a fuga de mais de 700 mil pessoas.

O Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, acusou as autoridades birmanesas de genocídio contra os rohingya, uma minoria muçulmana que há várias décadas é perseguida, está privada do direito à nacionalidade e é vítima de massacres frequentes. O Governo birmanês rejeita todas as acusações e define a intervenção em Rakhine como uma operação antiterrorimo.

A tradicional política chinesa de não-interferência em assuntos internos tem sido bastante conveniente à Birmânia, em ambiente de forte isolamento. A China tem usado, por exemplo, o seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para travar a aplicação de sanções ou proibições de venda de armamento.

Um artigo de opinião no Global Times, da China, concluía que a Birmânia se reaproximou de Pequim depois de se ter apercebido da “dualidade de critérios na abordagem dos países ocidentais face às questões de direitos humanos”.

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