Morreu Paul Volcker, o homem que travou a inflação nos anos 80

Imune a protestos e pressões políticas, o presidente da Reserva Federal dos EUA nos anos 1980 acabou com a inflação que dominou a década anterior e, diz-se agora, abriu caminho a décadas de expansão. Morreu esta segunda-feira aos 92 anos.

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Reuters/Lucas Jackson

Paul Volcker, o presidente da Reserva Federal do Estados Unidos que, durante os anos 1980, conseguiu à base de uma política monetária extremamente restritiva controlar uma taxa de inflação galopante, morreu esta segunda-feira aos 92 anos de idade.

Nomeado por Jimmy Carter para presidente da Reserva Federal norte-americana em 1979, Paul Volcker assumiu, durante os oito anos seguintes, a tarefa de colocar um ponto final ao período de inflação alta por que passou a economia dos Estados Unidos durante a segunda metade dos anos 1970.

Em Março de 1980, a taxa de inflação nos EUA atingiu um máximo de 14,8% e Volcker, no meio da campanha presidencial que Carter acabaria por perder para Ronald Reagan e contrariando as correntes dentro da Reserva Federal que defendiam uma abordagem mais moderada, decidiu adoptar uma terapia de choque: passados poucos dias após ter assumido a presidência começou a subir as taxas de juro de referência do banco central, colocando-as num nível recorde de 22,36% em Julho de 1981.

O resultado foi a entrada da economia em recessão, logo a partir de 1981, e a subida da taxa de desemprego acima de 10%. A taxa de inflação, contudo, e como pretendia Volcker, caiu para níveis próximos de 3% e não voltou a subir quando a economia recuperou.

Paul Volcker defendia que apenas com um choque deste tipo seria possível acabar com as expectativas de subidas de preços que tinham passado a ser assumidas pelas famílias e pelas empresas, auto-alimentado as pressões inflacionistas.

O impacto económico da política monetária seguida por Volcker gerou fortes protestos, tendo o presidente da Fed sido acusado, em especial pelo sector da construção, de ser o grande culpado pela quebra de actividade sentida pelo sector.

Volcker foi também o alvo de fortes pressões políticas, mas o seu estilo austero, combinado com uma envergadura física considerável (era conhecido como “tall Paul”), fizeram-no conquistar uma fama de total independência.

Se a forma como foi julgado durante o seu mandato foi mista — com o fim da inflação a ser elogiada, mas o impacto económico das medidas a ser criticado – ao longo dos anos seguintes o seu estatuto como um dos grandes presidentes da Fed foi sendo consolidado.

A Paul Volcker é agora dado o mérito de ter preparado o terreno para as duas décadas de expansão da economia norte-americana que se seguiram aos seus mandatos. É também visto como a figura decisiva para o grau de independência face aos governos conquistado pelos bancos centrais na maior parte dos países ocidentais.

O seu percurso, neste aspecto, foi quase o oposto do do seu sucessor, Alan Greenspan, alvo de imensos elogios durante os seus mandatos, mas agora, depois da crise financeira de 2008, com a sua reputação mais manchada.

A seguir à crise, Paul Volcker foi mais uma vez chamado por um presidente norte-americano, Barack Obama, para colaborar, tendo-lhe sido entregue a tarefa de definir nova legislação para a regulação financeira. Um dos resultados dessa intervenção é a chamada Regra de Volcker, que limita a capacidade dos bancos para se colocarem a eles próprios em risco com os seus investimentos. Actualmente, a administração Trump está a reverter algumas das características desta regra.

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