Já há pelo menos dois investidores interessados na Cervejaria Galiza

Pela primeira vez desde que gestão da casa foi assumida por uma comissão, sindicato e trabalhadores reuniram-se com administração da cervejaria. Ministério do Trabalho prometeu acompanhar processo. Salários de Outubro já foram saldados, tal como parte do subsídio de Natal de 2018

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Cervejaria Galiza abriu em 1972. Há uma semana uma comissão de trabalhadores assumiu a gestão da casa Anna Costa
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Jerónimo de Sousa jantou esta terça-feira na Galiza Manuel Roberto

Algumas das questões levadas para cima da mesa pelos trabalhadores da Galiza continuavam sem resposta no final da reunião desta terça-feira. Mas dois compromissos ficaram, desde já, lavrados. A administração prometeu um maior acompanhamento à comissão nomeada na passada segunda-feira à noite para gerir a cervejaria e o Ministério do Trabalho garantiu seguir de perto o processo.

Esta foi a primeira vez que a administração da Galiza se sentou com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte e a comissão de trabalhadores desde que esta assumiu a gestão do restaurante da Rua do Campo Alegre, no Porto, quando os proprietários se preparavam para encerrar, sem aviso, a casa. Uma nova reunião ficou já agendada para a próxima segunda-feira de manhã.

Nuno Coelho, coordenador do sindicato, foi à cervejaria Galiza ao início da tarde para actualizar os trabalhadores. Na reunião, horas antes, tinha confirmado a existência de “pelo menos dois investidores” interessados na compra da Galiza, aberta desde 1972 e “herdeira” da cervejaria C.U.F. Aos representantes dos trabalhadores não foi dito quem são os interessados nem qual o valor da venda, embora tenha ficado implícito que quem entregar o valor da dívida cumprirá os requisitos da proprietária, Delfina Amaral, que assumiu a administração da cervejaria após a morte do marido, um dos fundadores da Galiza.

As dívidas ao Fisco e à Segurança Social ascenderam, há anos, aos dois milhões de euros. Neste momento, e depois de passar por um Processo Especial de Revitalização, Nuno Coelho acredita que o valor andará nos 1,8 milhões. A administração declinou o pedido dos trabalhadores para terem um representante a acompanhar estas negociações, mas prometeu mais apoio à gestão em questões burocráticas como facturações de contas de água e luz ou acesso a correspondência.

A gestão assumida, com a aval da administração, por três trabalhadores tem conseguido não só manter a casa aberta como apurar o suficiente para liquidar alguns dos pagamentos em atraso. No sábado, tinham entregado mais 200 euros a cada um dos 31 trabalhadores, esta segunda-feira saldaram a totalidade do mês de Outubro e 100 euros do subsídio de Natal de 2018. A administração, sublinha Nuno Coelho, reafirmou a confiança na comissão de trabalhadores e apoiou esta medida.

O grande desígnio continua a ser o mesmo: “manter os trabalhadores a laborar” e impedir o fecho da Galiza. E, para isso, os trabalhadores vão continuar a repor o stock com os lucros do dia e a fazer turnos para vigiar o estabelecimento durante a noite. À administração já foi pedida autorização para voltar a ter a casa aberta às segundas-feiras, mas, para já, ainda não houve luz verde.

Na última semana, a Galiza voltou a ter casa cheia e a solidariedade foi notória. No restaurante, apareceram os bloquistas José Soeiro, Francisco Louçã e Catarina Martins, a vereadora comunista Ilda Figueiredo e a deputada da CDU Diana Ferreira. Depois da coordenadora do Bloco de Esquerda, também o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, jantou, esta terça-feira, na cervejaria para encorajar os trabalhadores. Antes, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, também fez questão de mostrar pessoalmente o seu apoio.

Os problemas na Galiza são antigos, mas, segundo os trabalhadores, agudizaram-se nos últimos 18 meses, quando a administradora colocou outra pessoa a gerir o restaurante. As decisões, lamentam, só ajudaram a empurrar a empresa para o fundo: foi imposta a segunda-feira como dia de fecho, o cozinheiro da casa foi afastado (e com ele saíram da ementa pratos típicos da Galiza, como feijoada de mariscos e cabrito), alguns clientes, descontentes, deixaram de aparecer.

Na segunda-feira da semana passada, dia de encerramento semanal, os trabalhadores montaram uma vigília em frente ao espaço, na Boavista, por suspeitarem que algo estaria para acontecer. Dentro, estavam algumas pessoas a encaixotar documentos, a preparar a retirada da maquinaria e a mudança da fechadura. Na porta, estava já colado um papel com a indicação de que o estabelecimento estava encerrado. Foi nesse momento que os trabalhadores travaram o processo, conseguindo um acordo com a administração para gerirem, temporariamente, a Galiza. Assim continuará. 

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