Secretário de Estado compara alertas ambientais no Montijo a Velhos do Restelo

O secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Alberto Souto de Miranda, desvalorizou a possível inundação da pista do aeroporto do Montijo devido à subida das águas do mar, mostrando-se confiante no contributo da ciência para o evitar.

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Rui Gaudencio

“É com sabedoria que enfrentaremos a subida dos mares. A montante, nos processos que a induzem, a jusante nos remédios que a engenharia vai aportar. Os portos têm de regressar à ciência de onde partiram. O astrolábio quinhentista de metal, como se sabe, deve ter nascido de uma startup henriquina, agora é de satélites e de 5G que lá vamos.” O discurso alusivo ao mar e aos portos foi pronunciado na quarta-feira, 13 de Novembro, no jantar comemorativo dos 20 anos da Agepor (Associação dos Agentes de Navegação de Portugal) e dos 100 anos de associativismo dos agentes de navegação, que teve lugar na Escola Náutica Infante D. Henrique, Paço de Arcos.

O governante, no seu discurso, enalteceu a epopeia dos descobrimentos portugueses, “sem vergonha intelectual” em evocá-los e manifestou-se contra o politicamente correcto e os “cronistas dos tempos, muitas vezes tributários de agendas políticas de circunstância, que reconstroem identidades seguindo modas metodológicas efémeras, mas a destempo daquele tempo.” Se fosse hoje, “as especiarias talvez ainda passassem no crivo da nova inquisição do gosto e dos fiscais vegetarianos do reino; já o ouro seria, naturalmente, confiscado pelo BCE, nem o ministro Centeno conseguiria cativar um lingote”.

Dirigindo-se a uma plateia de agentes de navegação e players ligados à economia do Mar, o secretário de Estado disse que estes “podem estar muito orgulhosos dos mares que antes navegámos” e que “reescrever a narrativa da nossa história marítima e dos descobrimentos e apoucar os nossos feitos valorosos em nome de valores que então inexistiam é um acto de historiografia pouco isenta, tanto como o foram as epopeias laudatórias do V Império”.

E continuou: “o novo adamastor é, porém, menos poético e vive em ilhas medonhas de plástico, transmuta-se em Poseidon ou Neptuno e quer vingar-se de el-rei João II e inundar as nossas costas. Dizem os do Restelo, que até o novo aeroporto ficará com parte da pista submersa...”, numa referência aos alertas científicos feitos há uma semana sobre os riscos das alterações climáticas em particular no futuro aeroporto do Montijo.

Assumindo que estava há poucas semanas com a pasta dos portos e que ainda não dominava todas as matérias, Alberto Souto de Miranda assegurou a continuidade da Estratégia para o Aumento da Competitividade Portuária (documento-chave apresentado em 2016 pelo Ministério do Mar).

Sobre essa estratégia, Rui D’Orey, presidente da Agepor, lamentou que tenha vindo a ser executada “a um ritmo mais lento do que os portos, o mercado e a economia necessitam”, dando como exemplos os investimentos previstos do novo terminal Vasco da Gama, o alargamento da PSA Sines, as dragagens do porto de Setúbal, a modernização da Liscont em Lisboa e o Terminal 14 de Leixões.

O representante dos agentes de navegação evidenciou a paz social como vector essencial para o desenvolvimento portuário, insurgindo-se contra as greves no sector e afirmando que há uma correlação directa entre os portos nacionais que crescem e os que definham em função do nível de paz social neles obtida.

O transporte marítimo, centro de actividade dos agentes de navegação, é responsável por cerca de 90% do comércio mundial. Em Portugal, em 2018, mais de 75% das importações e quase metade das exportações passaram pelos portos.

O sector portuário português conta com cerca de 80 agentes de navegação que dão trabalho a 1240 pessoas. Esta actividade representa um valor anual de 450 milhões de euros.

Sublinhando que “o comércio é fonte de prosperidade e faz cair fronteiras”, Rui D’Orey não podia deixar de criticar a administração Trump. “É penoso assistirmos à guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, entre os Estados Unidos e a Europa e dentro do próprio continente americano”, disse, considerando estas uma ameaça à prosperidade do mundo marítimo-portuário.

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