Incêndio em campo de refugiados grego deixa centenas nas ruas

Incidente no campo da ilha de Samos acontece duas semanas depois de um outro fogo em Moria, Lesbos – campo que está com 14 mil pessoas, um recorde (tem capacidade para 3 mil)

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Tendas queimadas em Samos EPA

As autoridades gregas começaram a evacuar o campo de refugiados na ilha de Samos após um incêndio na segunda-feira à noite ter deixado cerca de 600 pessoas sem lugar para dormir, segundo o diário grego Kathimerini.

Os campos das ilhas gregas do Egeu estão com muito mais pessoas do que a sua capacidade original, porque o número de chegadas de refugiados tem sido muito superior recentemente do que nos últimos anos.

O campo de Samos tem capacidade para cerca de 700 pessoas, mas estão já a viver mais de quatro mil. Os Médicos Sem Fronteiras disseram que a situação era “um pesadelo”.

A coordenadora dos MSF em Samos, Eirini Papanastasiou, sublinhou que metade dos habitantes do campo eram mulheres e crianças, a maioria já a viver em tendas improvisadas e sem acesso regular a casas de banho ou chuveiros. O que acontece, acusou, “é um resultado directo das políticas europeias que continuam a deixar as pessoas encurraladas em condições que não são dignas, nem seguras, nas ilhas gregas”.

O incêndio, cuja causa não é conhecida, acontece duas semanas depois de um outro incêndio, em Moria, o maior dos campos das ilhas do Egeu, em que morreu uma mulher. Moria, que tem capacidade para três mil pessoas, bateu esta semana o recorde de sobrelotação, tendo recebido 14 mil pessoas.

Os campos, concebidos para serem centros de trânsito, acabam por albergar pessoas durante semanas ou meses, em condições deploráveis, com falta de água potável, comida, e acesso a casas de banho, insegurança, cobras e ratos.

No campo de Moria, psicólogos dizem que estão a ver os primeiros casos de crianças que deixam de falar, andar ou abrir os olhos – explicam que quando deveriam ter chegado a um local com alguma segurança e encontram mais trauma, deixam de conseguir mais reagir.

Tudo isto acontece quando o número de chegadas à Grécia, apesar de não ter qualquer comparação com os números de 2015, o pico da chamada crise dos refugiados, chegou a mais de 12 mil pessoas em Setembro, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR). A maioria, diz a organização da ONU, vem do Afeganistão, Síria, República Democrática do Congo, ou Iraque.

Muitos acusam a Turquia de não dissuadir as partidas (é o número mais alto desde um acordo entre Bruxelas e Ancara); o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou que, se a Europa criticasse a operação, iria deixar sair milhões de refugiados sírios no seu território (já não é a primeira vez que Erdogan faz ameaças do género). Com a actual ofensiva ordenada pela Turquia no Norte da Síria, também se espera que haja mais pessoas a fugir do conflito.

O governador regional Costas Moutzouris descreveu à Reuters a situação das ilhas como “trágica” e pediu ao governo para agir. O Executivo conservador, eleito no Verão, disse que queria fazer regressar 10,000 pessoas até ao final do ano, descrevendo o problema como “de migração” e não de refugiados – isto apesar de segundo os números das ONG os países de origem terem guerras e conflitos.

O Governo anterior, apesar de em teoria defender refugiados, manteve os campos num estado de emergência permanente, denunciam as ONG – uma mistura de ineficiência com barreiras burocráticas.

Mas o objectivo máximo desta política, acusam organizações como a Amnistia Internacional, era dissuadir viagens de mais refugiados até ao país.

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