Um espião no coração da Guerra Fria

Apaixonou-se pelo Ocidente e pela cultura ocidental, a música e literatura. Não suportava a repressão da política e das ideias, a mesquinhez que via na União Soviética.

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Oleg Gordievisky foi um espião no centro da Guerra Fria. Coronel do KGB, esteve colocado na Dinamarca e em Londres, onde ascendeu a rezident ou chefe da delegação dos serviços secretos russos na capital britânica. Foi no tempo de Margaret Thatcher, quando Mikhail Gorbatchov tinha ascendido ao poder em Moscovo e as fundações do poderio soviético abanavam, após décadas de imobilismo e corrupção. Mas tinha um segredo, algo que minou a sua vida emocional: era um espião duplo.

Apaixonou-se pelo Ocidente e pela cultura ocidental, a música e literatura. Não suportava a repressão da política e das ideias, a mesquinhez que via na União Soviética. Calhou estar em Berlim, na sua primeira colocação no estrangeiro, quando o Muro começou a ser construído e ficou chocado. E ficou ainda mais chocado quando os tanques russos invadiram Praga em 1968.

Esta é a história que o jornalista e escritor britânico Ben Macintyre conta em O Espião e o Traidor (D. Quixote), com acesso ao espião, hoje no Reino Unido, e múltiplas fontes primárias, num livro que é uma grande reportagem.

Porque foi Londres que primeiro abordou Gordievsky, que se tornou o segredo mais bem guardado do MI6, os serviços secretos britânicos, que só partilharam as informações por ele passadas com os aliados, incluindo os EUA, esporadicamente, para o preservar. A informação de Gordievsky terá sido importante para fazer recuar o exercício militar norte-americano Able Archer, que em 1983 quase desencadeou uma guerra atómica com a Rússia.

Mas, apesar de tanto cuidado na preservação da identidade de Gordievsky, houve uma traição. Inesperada, misteriosa durante muitos anos, que quase levou à morte do agente duplo em Moscovo. Salvou-se graças a uma inédita operação do MI6 em território da União Soviética.

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